Burle Marx: o criador de situações plásticas inovadoras

EMANUEL VON LAUENSTEIN MASSARANI
25/09/2002 18:35

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Paralelamente à sua inigualável obra de arquiteto da paisagem, Roberto Burle Marx assumiu nas artes brasileiras uma das mais destacadas posições, enveredando, seja pelo desenho, quanto pela pintura, gravura, tapeçaria e cerâmica, sem falarmos pela escultura, jóias e cenografia. Plasmando formas, cores e luzes, o artista-arquiteto usa uma abordagem nova, que não quer ser documental, nem mesmo naturalista.

Clarival do Prado Valladares, saudoso crítico de arte, afirmava com muita propriedade que "sua paisagem construída é pintura, é uma modalidade de pintura que deixa de ser na tela para se plasmar sobre a natureza física", pois nela se verificam "os mesmos atributos composicionais que estão na ordenação plástica de seus jardins".

O desenhista e o pintor sempre se destacaram em toda a diversidade de sua ampla produção. Roberto Burle Marx nos transmite uma lição aprendida diretamente da natureza: traça jardins, embeleza e enriquece áreas até mesmo inexpressivas, tanto públicas, quanto privadas, usando para tanto as vibrações divinas que emanam de todas as manifestações dessa mesma natureza.

A litogravura "Apipucos" de Roberto Burle Marx, oferecida ao Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho pelo Atelier Glatt & Ymagos de São Paulo, nos transmite estruturas vegetais sobrepostas exatamente como se sobrepõem na natureza, construindo através do desenho uma idéia bem característica de plenitude.

Suas gravuras a cores impressionam, não podemos deixar de apreciar seus desenhos em branco e preto, a nanquim. Conjugando o antigo e o novo, o efêmero e o durável. Roberto Burle Marx percorre, cria ou inventa situações plásticas inovadoras.

Se um compromisso existe nesse grande Mestre, é de compor suas obras com valores abstratos, embora como conseqüência de um plano natural, mas buscando com rigor ordenar os espaços. Seu grito, em defesa da natureza ameaçada, começou recentemente a ser ouvido e, para tanto, usou de todos os meios que dispunha.

"É preciso proteger a natureza como um repositório de beleza e da vida - costumava dizer Burle Marx - na esperança de que as árvores floresçam por muitos anos. É essa esperança que dá um sentido superior à nossa vida. O contato essencial do ser com a natureza é uma proporção justa entre o pequeno mundo interior e a imensidão do mundo exterior para ajudar a restabelecer o equilíbrio, alcançar a serenidade".

Como uma condição inerente à arte moderna, a visão do pintor considera a relação entre espaço, cor e luz e sugere um deslocamento do observador ou do objeto. Estamos de pleno acordo com a visão de Flávio Motta quando afirma: "a obra de Burle Marx parece adquirir crescente poder de síntese, pelo domínio, acúmulo de experiência, avanços ou retornos, que aguçaram a consciência da dinâmica e ilimitada própria ao processo criativo".

O Artista

Roberto Burle Marx foi um dos maiores paisagistas do século passado, distinguido e premiado internacionalmente. Artista de múltiplas artes, foi também desenhista, pintor, tapeceiro, ceramista, escultor, pesquisador, cantor e criador de jóias, sensibilidades que conferiram características específicas a toda sua obra.

Nasceu em São Paulo, a 4 de agosto de 1909, passando a residir no Rio de Janeiro a partir de 1913. De 1928 a 1929 estudou pintura na Alemanha. Freqüentador assíduo do Jardim Botânico de Berlim, onde descobriu, em suas estufas, importantes exemplares da flora brasileira.

Voltando ao Brasil, ingressa, em 1930, no curso de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde recebeu a Medalha de Ouro em pintura.

Em 1932 fez seu primeiro projeto paisagístico para a residência da família Schwartz, com arquitetura de Lucio Costa e Gregory Warchavchick, passado a dedicar-se ao paisagismo, paralelamente à pintura e o desenho.

Em 1934 tornou-se diretor de Parques e Jardins de Recife. Paralelamente a pintura e desenho passa a dedicar-se ao paisagismo.

Em 1949 adquiriu, em sociedade com seu irmão Guilherme Siegfried Marx, um sítio de 365.000 m2, em Barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro e organizou uma grande coleção de plantas. Em 1995 doou esse sítio, com todo o seu acervo, à extinta Fundação Nacional Pró Memória, atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN.

Em 1955 fundou a firma Burle Marx & Cia. Ltda. pela qual passou a elaborar projetos de paisagismo, fazer a execução e a manutenção de jardins residenciais e públicos. Desde 1965, até o seu falecimento, contou com a colaboração do arquiteto Haruyoshi Ono, que ainda hoje dirige a empresa

Roberto Burle Marx faleceu no dia 4 de junho de 1994, no Rio de Janeiro, aos 84 anos de idade.

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