Nascimento e renascimento

Opinião
21/12/2006 17:30

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Arnaldo Jardim <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/A.Jardim.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Casas iluminadas, enfeites nas árvores, confraternização em família, presentes, mesa farta e etc. O espírito natalino toma conta de corações e mentes, independente da idade, do credo ou da condição social. Todos imbuídos por sentimentos de compaixão, tolerância, fraternidade e solidariedade incomuns em nossa rotina diária. Alguns podem até arriscar-se a dizer que o mundo seria um lugar melhor, se vivêssemos num eterno natal. Seria esta uma utopia?

Essa indagação me faz lembrar de uma antiga fábula infantil, que talvez simbolize um pouco o desejo de perpetuar sentimentos tão nobres, ao longo do ano ou mesmo de uma vida. Num grande incêndio na floresta, elefantes, leões, zebras, tartarugas, todos os animais correram para fugir das chamas, reclamando do azar, da falta de perspectivas, querendo achar um culpado para o fardo de todos. Em meio à correria, um pequeno pássaro destoava da maioria voando repetidas vezes até um riacho, enchendo o bico de água e retornando à floresta que estava sendo consumida pelo fogo. A cena chamou a atenção de alguns animais, que questionaram: este passarinho deve estar louco! Até que uma raposa o questionou: O que você está fazendo? Isso não adianta nada! Sem se deixar abater, o passarinho simplesmente respondeu: eu estou fazendo a minha parte e você?

Uma experiência que vivi, me comove! Aconteceu durante a minha passagem pela Secretaria de Habitação do Estado de São Paulo. Na época, tive o orgulho de não apenas entregar e construir milhares de moradias, mas de fazer isso de um modo diferente com o Projeto Vida Melhor. Excedendo as características de engenheiro civil de planejar, executar e entregar uma obra, tentei fazer uso dessa ferramenta social para resgatar princípios de cidadania e dignidade, por meio do incentivo à ativa participação popular, estimulando a preservação e recuperação de conjuntos habitacionais degradados.

Foi um trabalho árduo de conscientização popular, treinando lideranças locais para estimular a comunidade a assumir a responsabilidade pelo local em que viviam. Em suma, a própria população decidia como e onde investir melhor os recursos disponíveis, pois quem melhor sabe de suas prioridades? Assim, realizamos por meio de mutirões a recuperação de conjuntos/unidades habitacionais degradados, construímos e reformamos áreas de convívio social (como postos de saúde, creches, recapeamento de ruas entre outras melhorias). Tudo isso, incentivando a participação popular e até realizando concursos como o da mais bela moradia, aumentando a auto-estima dos moradores, na máxima de ensinar a pescar ao invés de dar o peixe. E a resposta da comunidade foi maravilhosa!

No meio empresarial, o conceito de responsabilidade social vem crescendo a passos largos como forma de conquistar consumidores cada vez mais exigentes. A publicação do balanço social, recorrente há mais de 30 anos na Europa, começa a se disseminar no Brasil como uma ferramenta ideal de demonstração da transparência, do diálogo e da gestão da responsabilidade social nas empresas dos mais variados portes. Empresas como Natura Cosméticos, Petrobras, Banco do Brasil, Gerdau, Usiminas ganham prêmios por sua atuação social, ambiental e cultural.

Uma nova realidade que não se restringe às grandes corporações, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),. Cinqüenta e quatro por cento das microempresas, com até 10 funcionários, promovem alguma ação voltada para a sociedade, como palestras sobre reciclagem, montagem gratuita de pequenas bibliotecas, na distribuição diária de alimentos às famílias carentes, entre tantas outras.

As iniciativas mencionadas servem para ensejar o ideário daqueles que, como eu, acreditam que é possível construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Não falo somente em abrir a carteira em prol de instituições de caridade, mas arregaçar as mangas, doar um pouco do nosso tempo, carinho e atenção às causas sociais. Afinal, nestes gestos está o verdadeiro espírito natalino. Feliz Natal!

*Deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP)

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