Corpo de Dominguinhos é velado na Assembleia Legislativa


24/07/2013 18:22 | Da Redação - Foto: Roberto Navarro

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Morte de artista causa comoção<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2013/fg127856.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Dominguinhos e sua sanfona<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2013/fg127861.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Velório do músico no Hall Monumental da Assembleia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2013/fg127862.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fãs aplaudem Dominguinhos durante seu velório na Assembleia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2013/fg127863.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fã emociomada despede-se do músico <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2013/fg127864.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

A Assembleia Legislativa sediou, em seu Hall Monumental, as homenagens prestadas ao músico pernambucano José Domingos Moraes, o Dominguinhos, que faleceu aos 72 anos em decorrência de complicações de um câncer de pulmão.

O músico, que foi pupilo de Luiz Gonzaga, fez uma carreira vitoriosa, com mais de 30 álbuns gravados, tendo recebido vários prêmios, inclusive um Grammy Latino póstumo pelo disco "Iluminado", concedido em 2012, mas entregue somente nesta quarta-feira à sua viúva, Guadalupe Mendonça.

Ao abrir suas portas para o velório em São Paulo, o Parlamento paulista também rende homenagem a este músico que estabeleceu parceria com grandes nomes da MPB, que não se limitou ao forró e ao baião, tendo feito incursões pelo jazz e bossa-nova.

Segundo familiares e artistas que estiveram em seu velório, Dominguinhos foi sempre uma pessoa humilde e voltada para a família e amigos, além de ter um talento raro para a música.

Após o velório na Assembleia paulista, houve traslado do corpo para Recife, para prosseguimento do velório na Assembleia Legislativa de Pernambuco.

Dominguinhos

Antônio Sérgio Ribeiro*

Faleceu na tarde da terça feira, dia 23 de julho de 2013, o músico Dominguinhos. Ele estava internado no hospital Sírio-Libanês em São Paulo, após sofrer complicações infecciosas e cardíacas. Durante sete anos lutou contra um câncer de pulmão.

José Domingos de Morais nasceu em Garanhuns, Estado de Pernambuco, em 12 de fevereiro de 1941. De família humilde de agricultores, seu pai, mestre Chicão, foi um conhecido sanfoneiro e afinador de sanfonas. Dominguinhos, como ficou conhecido, interessou-se por música desde cedo, começando a aprender sanfona com seis anos de idade, quando ganhou um pequeno acordeão de oito baixos e chegou a se apresentar em feiras livres e portas de hotéis de sua cidade e municípios vizinhos em troca de algum dinheiro. Junto com seus dois irmãos, Morais e Valdo, formou o trio Os Três Pinguins. Para se aprimorar, tocava horas a fio o seu instrumento e logo se tornou grande instrumentista nas sanfonas de 48, 80 e 120 baixos, e acabou por tornar-se músico profissional ainda garoto.

Em 1950, aos nove anos de idade, conheceu o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, quando tocava na porta do hotel em que ele estava hospedado. Gonzagão se impressionou com a desenvoltura do menino e o convidou a ir ao Rio de Janeiro, passando o seu endereço. Dominguinhos o fez em 1954, então com treze anos de idade, acompanhado do pai e dos dois irmãos, indo morar em Nilópolis, na baixada fluminense. Ao encontrar-se com Luiz Gonzaga, no Rio, este deu-lhe de presente uma sanfona e passou a integrar o jovem à sua equipe de músicos. Dominguinhos acompanhou o Mestre Lua (apelido de Luiz Gonzaga) na música do próprio Gonzaga "Forró no Escuro", gravada em 30 de janeiro de 1958, nos estúdios da RCA. Essa foi a primeira participação em uma gravação de disco do jovem sanfoneiro, com apenas dezesseis anos de idade.

Formou, em 1957, um trio, com Borborema e Miudinho, e pouco depois precisou aprender os ritmos da moda, como boleros e sambas-canções, pois até então só sabia tocar o baião.

Ainda no Rio, tocou na gafieira Cedo Feita, na Churrascaria Gaúcha, na boate Balalaika e no Dancing Brasil, onde formou o grupo Nenê e eu Conjunto (Nenê foi seu primeiro apelido), passando a fazer espetáculos pelo país. No ano de 1967, apresentou-se na Rádio Nacional, sendo convidado por Pedro Sertanejo para gravar pela etiqueta Cantagalo seu primeiro Long-Play. Nessa gravadora fez a seguir mais sete LPs de forró.

Em uma de suas viagens, também de 1967, conheceu a cantora de forró Anastácia (nome artístico de Lucinete Ferreira), com quem se casou e formou uma parceria artística que durou onze anos. Ele já tinha um filho de seu primeiro casamento, Mauro, nascido em 1960. No ano de 1976, Dominguinhos conheceu a também cantora Guadalupe Mendonça, seu terceiro casamento, do qual nasceria uma filha, Liv. O casal separou-se, mas a amizade foi mantida até a morte do músico.

Ainda em 1972, tocou pela primeira vez em um teatro, no Tereza Raquel, em Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro, no show "Luiz Gonzaga Volta a Curtir", destacando -se como músico.

Apesar de não gostar de viajar de avião, participou de um grupo, apresentando-se com Gal Costa no Marché International du Disque et de L"édition Musicale, o Midem, realizado em Cannes, França, no ano de 1973. No regresso acompanhou a cantora no show "Índia".

A sua integração à equipe de músicos de Luiz Gonzaga fez com que ganhasse reputação como músico e arranjador, e ele aproximou-se dos integrantes do movimento bossa-nova­. Fez trabalhos junto a inúmeros artistas de renome, como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Toquinho, Elba Ramalho e Gilberto Gil (que gravaria um dos maiores sucessos de Dominguinhos como compositor, em parceria com Anastácia, "Eu só quero um xodó"). No ano de 1974 participou do espetáculo "A Feira", com o Quinteto Violado. Em 1980 apresentou-se no 2º Festival Internacional de Jazz, em São Paulo e, no ano seguinte, teve presença destacada no programa Som Brasil, da Rede Globo de Televisão.

Quatro anos depois, sua música "Tantas Palavras", em parceria com Chico Buarque, foi gravada por este no álbum Chico Buarque, obtendo sucesso. Os discos de Dominguinhos na década de 1980 cresceram em vendagem graças ao sucesso das músicas "De volta do Aconchego", gravada por Elba Ramalho, e o forró "Isso aqui tá bom demais", que ele gravou com Chico Buarque, ambas as músicas compostas em parceria com Nando Cordel. As duas canções foram incluídas na trilha sonora da novela Roque Santeiro, da TV Globo.

Esteve mais uma vez na Europa, acompanhando Toquinho no show "Canta Brasil", no Teatro Sistina, de Roma, Itália. Em 1993 criou o projeto Asa Branca, patrocinado pela Caixa Econômica Federal, levando espetáculos gratuitos às praças públicas de vários estados brasileiros. No ano de 1997 lançou o CD "Dominguinhos e convidados cantam Luiz Gonzaga", e participou da trilha sonora da segunda versão do filme "O Cangaceiro", de Anibal Massaini Filho, também lançada em CD.

No ano de 2002, Dominguinhos foi vencedor do premio Grammy Latino com o CD "Chegando de Mansinho". Após cinco anos sem lançar um trabalho solo, Dominguinhos voltou em 2006 a gravar pela Eldorado o CD "Conterrâneos", 2006, pelo qual foi agraciado com o Prêmio TIM, no ano seguinte na categoria Melhor Cantor Regional.

Domingos acabou por consolidar uma carreira musical própria, englobando gêneros musicais diversos como bossa-nova, jazz e pop. Em 2007, Dominguinhos, concorreu ao 8º Grammy Latino com o álbum "Conterrâneos" na categoria melhor disco regional, no ano seguinte foi o grande homenageado do Prêmio Tim de Música Brasileira, e no ano de 2010, o vencedor do Prêmio Shell de Música.

Em 13 de dezembro de 2012, já com a saúde abalada, participou das homenagens no centenário de Luiz Gonzaga, na cidade natal do Rei do Baião, Exu, em Pernambuco. Foi sua última aparição pública, logo depois foi internado em um hospital no Recife, e posteriormente removido para São Paulo, onde permaneceu internado desde janeiro.

*Antônio Sérgio Ribeiro, advogado e pesquisador. É diretor do Departamento de Documentação e Informação da ALESP.

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