Especial Getúlio Vargas - Agosto de 1954: 60 anos de uma tragédia brasileira

Agonia e morte do presidente Getúlio Vargas
12/08/2014 13:36 | Antônio Sérgio Ribeiro*

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Ministro Oswaldo Aranha <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164572.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Missa de 7º dia na igreja da Candelária <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164573.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Tumulto nas ruas do Rio, após a missa de 7º dia do major Vaz  <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164574.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Lacerda com Café Filho<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164575.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Populares acompanham a cerimônia no lado de fora da igreja <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2014/fg164576.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Ao completar 60 anos dos fatos que culminaram com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, a Agência Assembleia e o Diário da Assembleia publicam, desde o dia 4/8/2014, uma série de textos que relatam a sequência dos eventos que ocorreram naqueles negros dias de agosto e que enlutaram o Brasil. Tentaremos narrar cronologicamente, seguindo a mesma data, porém seis décadas depois, esses acontecimentos tão marcantes para a história do nosso país.

Quarta feira - 11 de agosto de 1954

Às 9h, teve início, na sede do 3º Batalhão de Infantaria da Polícia Militar, no bairro de Botafogo (RJ), o depoimento de Gregório Fortunato. Durante 5 horas ele falou às autoridades policiais e, com o intuito de complicar o andamento das investigações, procurou intrigar o general Caiado de Castro, chefe do Gabinete Militar da Presidência, que imediatamente desfez as insinuações. O Anjo Negro, como ficou conhecido, afirmou de maneira sarcástica que havia dormido depois do atentado, que já havia matado, que era compadre de Climério, que os capangas do Catete haviam custado $ 500 mil cruzeiros e que Valente havia comandado a guarda na semana anterior ao atentado.

Com o comércio fechado em solidariedade, foi realizada, às 11h, na igreja da Candelária, missa de sétimo dia pela alma do major Rubens Florentino Vaz, celebrada pelo cardeal D. Jayme de Barros Câmara. A catedral metropolitana estava repleta, muita gente não conseguiu entrar, concentrando-se nas ruas laterais.

Ao término da missa, milhares de pessoas com lenços brancos saíram às ruas para manifestarem-se contra o governo. Em comícios relâmpagos, oradores exaltados acusavam o governo e exigiam a renúncia do presidente. No meio da confusão, um veículo de campanha do PTB foi incendiado na avenida Rio Branco, na altura da praça Marechal Floriano. Carlos Lacerda apelou para que o povo tivesse calma e evitasse excessos.

Às 14h, Lacerda dirigiu-se em segredo ao Hotel Serrador, localizado na Cinelândia, no centro do Rio. O jornalista, em cadeira de rodas empurrada por dois oficiais da Marinha, foi ao encontro do vice-presidente da República, Café Filho, que para despistar agendou um almoço com seu amigo Olavo Galvão, diretor do Banco do Nordeste, que residia em um dos quartos do hotel.

Inicialmente, conversaram sobre os episódios do atentado, depois foram direto ao assunto. Lacerda, que havia estado com o ministro da Guerra, sugeriu ao vice-presidente fazer chegar aos ouvidos de Zenóbio da Costa que, ao assumir o governo, mantê-lo-ia no cargo. A ideia de Lacerda - digna de Maquiavel - era cessar a resistência do comandante do Exército brasileiro em defesa de Getúlio.

Café Filho negou-se terminantemente e respondeu a Lacerda que não tomaria nenhuma medida para chegar ao poder, que não lhe interessava a Presidência em condições tão difíceis. Não lançaria mão de nenhum expediente para esse fim e que só tomaria uma atitude se houvesse sérias ameaças às instituições.

O dia dos estudantes de Direito, em todo o Brasil, foi comemorado exigindo-se o afastamento do presidente Vargas. Na tribuna da Câmara Federal, o deputado Bilac Pinto disse que o presidente da República era réu, conforme o artigo 25 do Código Penal, como co-autor do crime da Tonelero.

Secretamente, o ministro da Guerra recebeu em seu gabinete, às 14h30min, a comissão formada no dia anterior por altos oficiais das três armas, que lhe informaram ser a única solução para a crise a renúncia do presidente e, ainda, que Zenóbio seria a pessoa mais indicada para transmitir a Getúlio essa decisão.

Um problema de ordem jurídica preocupava os membros da Comissão de Inquérito: Valente não poderia permanecer mais de 24 horas preso como suspeito e o delegado não teria outra saída senão libertá-lo. A sugestão foi aplicar o Código de Justiça Militar, que permitia a detenção de suspeitos para averiguação pelo prazo de 30 dias, prorrogável por mais 20.

A sugestão partiu do coronel Adil, mas o brigadeiro Eduardo Gomes também entendeu que caberia aplicar a legislação militar e conversou com Nero Moura sobre a questão da arma utilizada no crime da rua Tonelero, pois era privativa das Forças Armadas. Nero, então, respondeu que consultaria o presidente Vargas, que, por sua vez, não fez nenhuma objeção e autorizou a abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM). À noite, por uma portaria do ministro da Aeronáutica, ficou determinada a abertura do IPM, sendo o próprio coronel Adil seu encarregado. Instalou-se, assim, a República do Galeão.

Foto manchete: O presidente Getúlio Vargas abraça o pai, Manuel do Nascimento Vargas (com o irmão, Viriato, à direita) acervo CPDOC Espaço Cultural FGV

(*) Antônio Sérgio Ribeiro, advogado, pesquisador e funcionário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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