A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo recebeu, na tarde desta segunda-feira (9), estudantes da USP que reivindicam melhorias nas políticas de permanência estudantil. Além disso, os alunos de diversos cursos da Universidade de São Paulo pedem a contratação de mais professores. As duas demandas são as principais pautas de uma greve estudantil que acontece em diversos institutos da USP desde meados de setembro. A audiência foi solicitada pela deputada Paula da Bancada Feminista (Psol), que comandou a Mesa do evento. "É muito importante ter vocês aqui. É fundamental que esse espaço seja ocupado por lutas reais e vivas do Estado de São Paulo. Nós queremos que nossos estudantes pretos, pobres e periféricos tenham condições de permanecer na universidade", disse a deputada, que parabenizou os jovens por sua luta. O deputado Eduardo Suplicy (PT) também esteve presente e ressaltou a importância de os estudantes apresentarem as suas demandas para a universidade pública. "Se provermos a melhor qualidade de ensino para todas as crianças, jovens e adultos elevaremos o grau de justiça na sociedade", defendeu. Reivindicações A audiência realizada na Alesp faz parte do contexto de greve, em que a Universidade de São Paulo está inserida desde o mês passado. No último dia 19, os estudantes da universidade aprovaram o início da paralisação durante uma assembleia organizada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE). Logo depois, diversos institutos aderiram ao movimento e estão com as atividades paralisadas desde então. As principais reivindicações da greve, e que também foram levantadas durante o evento na Casa, são a contratação de professores e a melhoria nas condições de permanência para os estudantes. Esta última foi muito enfatizada durante a audiência e diversas denúncias foram feitas contra o órgão responsável pela política de permanência - a Pró Reitoria de Inclusão e Pertencimento (Prip). Os presentes disseram que a entidade, desde o início do ano, deixou de pagar bolsas a estudantes que necessitariam do auxílio para continuar estudando. Além disso, a Prip estaria, até mesmo, reavaliando e cortando, no meio da graduação, bolsas de alunos. Outra crítica foi sobre a falta de transparência em relação aos recursos que a entidade administra. "A reitoria não dá explicações detalhadas sobre os 200 milhões de reais destinados à permanência, que já não suprem a necessidade dos estudantes. Não explica para onde está indo o dinheiro das bolsas que foram prometidas e não estão sendo pagas", disse o diretor do DCE e estudante de economia, Julio Cesar. Ele relembrou o caso de um estudante de Filosofia que se suicidou após tentativas de conseguir moradia gratuita oferecida pela universidade e perguntou: "Quantos estudantes vão precisar chegar a esse ponto de exaustão psicológica até a nossa universidade chegar à conclusão que a permanência estudantil é legítima?". "Esses estudantes que estão morrendo por falta de permanência são aqueles que não têm onde morar, que vêm de muito longe para chegar na USP. Eles acham que vão viver um sonho, se formar com qualidade, conseguir um emprego, e, quando chegam, não conseguem nem mesmo moradia", completou. O estudante ainda contou que alunos que moram no Crusp - moradia popular oferecida pela universidade no campus do Butantã - enfrentam dificuldades com alimentação. A maioria desses alunos dependem do restaurante universitário para realizar todas as suas refeições e o local não tem oferecido jantar aos fins de semana. Caso Each A grande maioria dos estudantes presentes no evento era do Campus da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Each), localizada na Zona Leste da Capital paulista. A unidade da USP tem se mobilizado desde abril por contratação de docentes e melhorias na permanência, mesmos motivos que levaram à recente greve. Segundo os alunos, diversos cursos do campus sofrem com a falta de professores, como é o caso da Obstetrícia, que atrasou a graduação em um ano por falta de profissionais. Além disso, eles reclamam do fim do 'auxílio manutenção', complemento da bolsa de permanência estudantil oferecido a estudantes da Each. Neste ano, a Prip cortou o recurso sob a justificativa de que precisava manter a igualdade entre todos os campi da Universidade. Todavia, os estudantes defendem que o auxílio é necessário, já que o campus não conta com uma moradia oferecida pela universidade e fica em um local de difícil acesso e de aluguéis mais caros. "Desde o início de nossas reivindicações, estamos pautando a volta do auxílio emergencial na Each. Tivemos várias reuniões e a posição da Prip é que a Each tá pedindo privilégios. Para nós, isso é visto com muita repulsa, porque estamos tentando reconquistar um direito que já tivemos no passado", comentou Felipe Sabino, estudante de Gestão Ambiental e membro do Conselho das Entidades da Each.