"Ele é uma liderança religiosa, estudioso, intelectual, mas, sobretudo, é a representação do que queremos pro mundo". Essa foi a definição de Douglas Belchior, fundador da Uneafro, sobre Sidnei Barreto Nogueira, homenageado pela Alesp. Na noite da última sexta-feira (27), a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo entregou o Colar de Honra ao Mérito Legislativo ao Babalorixá pela sua contribuição à sociedade paulista. A honraria foi outorgada durante uma sessão solene solicitada pelo deputado Reis (PT). "Estou muito feliz e grato de dividir esse momento com vocês. Essa Casa, embora nossa, não costuma nos receber e reconhecer nosso valor", declarou Pai Sidnei. Na mesma linha, o deputado proponente da solenidade celebrou a oportunidade de entregar essa homenagem, já que, segundo ele, o 'povo' é pouco representado na Assembleia. "Não é uma Casa muito fácil e as pessoas nem sempre se apropriam dela. A presença de vocês aqui nessa sessão solene tem esse significado: o povo se apropriando do poder, do Poder Legislativo", defendeu Reis. Além de líder da Comunidade da Compreensão e da Restauração Ilè Asè Sangó (Ccrias - SP), comunidade de Candomblé paulista, Sidnei Barreto Nogueira é doutor e mestre em semiótica e linguística geral pela Universidade de São Paulo (USP) e escritor e colunista da revista Carta Capital. Segundo Reis, Sidnei é o primeiro Babalorixá a receber a maior honraria do Legislativo Paulista. O líder aproveitou o fato inédito para dividir seu prêmio com os outros líderes religiosos que acompanhavam a sessão no Plenário Juscelino Kubitschek. "Vocês, mestres e mestras das lideranças de terreiro, fazem a verdadeira revolução em suas comunidades. A existência de uma comunidade de terreiro é revolucionária. São vocês que oferecem escuta quando ninguém escuta os subalternizados. Essa medalha é nossa, não minha, quero que sintam recebendo-a também", proclamou. Racismo religioso Por ser uma homenagem a um líder de uma religião de matriz africana, os temas de racismo e racismo religioso foram bastante abordados durante a solenidade. Em seu discurso, Reis reiterou a importância da solenidade para mostrar que a Alesp é "realmente plural, participativa, que luta por políticas públicas e por aqueles que mais precisam". Por sua vez, Douglas Belchior, fundador da Coalizão Negra por Direitos e quem abriu o texto, lamenta que pessoas pretas tenham que gastar sua energia lutando contra o racismo. "O racismo é, sobretudo, um processo de desumanização do ser e de tudo aquilo que ele representa. Por isso, somos obrigados a defender nossos territórios, nossos terreiros, quando poderíamos usar as nossas vidas para celebrar, conviver e se amar", disse. "Eu quero ser cura", declarou Sidnei no fim de seu pronunciamento. "O racismo religioso é uma decisão de uma pessoa que decidiu ser adoecimento no mundo. Há um provérbio Iorubá que diz: o mal não pode receber acenos. Ser adoecimento é uma decisão. Eu não quero isso", completou. Presenças Além de Sidnei, Reis e Douglas, compuseram a Mesa do evento o vereador de São Paulo João Ananias e a coordenadora de cultura da Unifesp, Ellen de Lima Souza.