Infectologista da USP alerta para riscos de aumento de casos da Covid-19 no Brasil

Marcos Boulos diz não acreditar em segunda ou terceira ondas, mas em pico elevado
11/05/2021 18:16 | Entrevista | Da redação

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Pouco mais de um ano da pandemia da Covid-19, o Brasil registra 423.229 mortos pela doença. O número de casos não apresenta redução significativa, gerando superlotação em hospitais e cenas dramáticas por todo o país. A vacinação, que poderia ser uma saída para esse cenário, acontece em ritmo lento, sem esperanças de melhora a médio prazo.

Muito se fala numa terceira onda da Covid-19. Mas, para o médico infectologista Marcos Boulos, isso pode ser um erro. "Essa questão da segunda onda, terceira onda, vai muito de rebote com a Europa. Lá tínhamos uma negativação de casos e depois volta uma onda, que eles chamaram de segunda, aí voltaram a negativar e voltou a subir, terceira onda", disse, em entrevista ao Jornal da Rede Alesp nesta terça (11/5).

"Nós, no Brasil, nunca tivemos dados muito satisfatórios de negativação. Nós tivemos uma diminuição de casos após uma alta nos números e antes de zerar, volta a subir e subiu muito mais. Podemos chamar de segunda onda? Podemos sim, mas chamo mais de primeira onda estimulada que foi a segunda e agora que teve uma diminuição muito pequena e volta a subir. Não chamaria de terceira onda, digo que estamos sempre num pico elevado", disse.

Para o professor da USP, o país precisa olhar com cuidado o crescimento do número de casos e enxergar o risco com esse cenário. "Estamos no pico. Estamos num momento muito insatisfatório onde atingimos um pico muito elevado há três, quatro semanas atrás, e após uma tendência de diminuição, voltamos a ter uma elevação dos casos. Isso é preocupante, pois estamos com poucos leitos disponíveis e se isso aumentar teremos outra vez o problema no atendimento dos pacientes", afirmou.

O médico alertou ainda para a necessidade de amplificar os cuidados sanitários para enfrentar o vírus e falou da preocupação com o não respeito as regras de distanciamento. "As pessoas estão brincando com o bem maior que é nossa vida. Quando as pessoas se expõem de uma maneira mais exagerada a infecção não só elas entram em risco, como podem colocar em perigo as pessoas mais frágeis e isso pode levar a morte das pessoas. Isso é muito complicado. Nosso país é quase único nesse sentido de não seguir as normas sanitárias e isso vem diretamente da condução do governo na pandemia", disse. "Tá tudo relacionado a não cumprimento de regras sanitárias. As pessoas participam de aglomerações, não usam máscaras e isso faz com que os números aumentem", resumiu.


alesp