"Haverá justiça": sobreviventes do massacre ao Carandiru preservam memórias 31 anos depois

Na Alesp, episódio que resultou na morte de mais de 111 detentos e repercutiu mundialmente foi lembrado em ato parlamentar; sobreviventes contaram suas histórias e protestaram em memória de ex-companheiros
25/10/2023 16:59 | Ato Solene | Gustavo Oreb Martins, sob supervisão de Cléber Gonçalves - Foto: Larissa Navarro

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31 anos Carandiru<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2023/fg311920.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> 31 anos Carandiru<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2023/fg311921.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> 31 anos Carandiru<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2023/fg311895.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> 31 anos Carandiru<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2023/fg311896.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> 31 anos Carandiru<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-10-2023/fg311897.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

"As penitenciárias de São Paulo continuam sendo masmorras, sem condições dignas para a população carcerária e seus trabalhadores", é o que diz a deputada Monica Seixas (Psol), que trouxe para a Alesp, na última terça (24), um evento em memória das vítimas do massacre ao Complexo do Carandiru, ocorrido na cidade de São Paulo no dia 2 de outubro de 1992, há cerca de 31 anos.

Nome por nome, ao início do evento, os 111 prisioneiros mortos naquele episódio foram lembrados, de modo a "preservar a memória dos que se foram", como disseram sobreviventes e ex-detentos presentes na Casa.

De acordo com Monica, receber pessoas que guardam a memória do que aconteceu há 31 anos e lembrar o massacre do Carandiru é uma forma de evitar que ele se repita. "Centenas de pessoas foram mortas por um Estado que não puniu, não investigou e não devolveu à sociedade uma satisfação pelo que houve. Não podemos normalizar mortes sem explicação ou Justiça", declarou.

"Os policiais penais sofrem graves violações de direitos humanos e trabalhistas, assim como os apenados. Esgotos a céu aberto, comidas vencidas, fios expostos, superlotação e desumanização fazem parte da rotina", disse a parlamentar, aproveitando para cobrar o Executivo por reajustes nos salários dos policiais penais.

Relatos dos sobreviventes

Após as homenagens iniciais, ex-detentos que sobreviveram aos ataques foram convidados a contar suas trajetórias no sistema prisional e na retomada da vida em sociedade.

É o caso de "André do Rap", como é conhecido José André de Araújo. Atualmente rapper e escritor, ele relatou ter presenciado o massacre do Carandiru em sua cela no dia do próprio aniversário. "O rap, a literatura e a educação me resgataram, não a prisão. Dos livros rasgados pelos policiais e das oportunidades negadas, eu corria atrás", contou.

Na visão de André, a vida da população prisional é "amassada como um papel e jogada no lixo" pelo sistema carcerário brasileiro, que subjuga, propositadamente, os inocentes e os talentosos presentes nas penitenciárias. "Dentro daquela cadeia existiam muitos bons homens, jogados nas sombras. Hoje não é tão diferente", apontou.

"Para a polícia, matar centenas de cidadãos negros e periféricos é um troféu. Não querem saber se é pai de família, se é artista, se é honesto e com caráter. Para eles, é só escória. Muitos de nós [ex-presidiários] temem falar sobre o assunto, com medo de retaliação, de perder um emprego, por exemplo", relatou o sobrevivente.

Justiça pelas vítimas

Também presente naquela tarde, Maurício Monteiro foi prisioneiro durante 16 anos e alegou ter passagens por mais de 20 penitenciárias. Hoje, graduado em Gestão Ambiental e graduando em Educação Física, o ex-detento dá aulas de boxe para jovens da periferia da Capital e luta por Justiça aos mortos no Carandiru, como fez mais uma vez no Parlamento Paulista.

Segundo Monteiro, massacres e abusos nas penitenciárias de São Paulo continuam acontecendo e, assim como no Carandiru, os responsáveis nunca são punidos devidamente, beneficiando um sistema que continua a maltratar a população. "Se os responsáveis por uma barbaridade de 31 anos atrás não foram punidos, como os atuais serão? Aqueles policiais abusadores nada mais são do que os heróis para a atual geração das Forças Armadas, continuando um ciclo de violência e desumanização no sistema carcerário", protestou.

"O Estado tinha por obrigação reinserir os prisioneiros na sociedade. Ao invés disso, optou por transformá-los em números. Mas não vão conseguir, porque as vozes do Carandiru continuam ecoando, continuam lutando e eu não vou me dar por satisfeito enquanto os responsáveis não forem punidos", reforçou Maurício.

Reforçando a luta por Justiça, outro sobrevivente do massacre, Luís Carlos Paulino, proclamou com convicção: "Haverá justiça. Tenho plena certeza de que, enquanto tivermos vida, hasteando e conclamando a bandeira da Justiça pelos companheiros que se foram, vamos conseguir expor a verdade e manter viva a história".

alesp