Ética e transparência

O país vem assistindo a um desfile cotidiano de denúncias e acusações que, segundo alguns, podem até mesmo colocar em risco a jovem democracia brasileira, sem esquecer, é claro, da estabilidade econômica. Corrupção, malas-pretas, laranjas, "mesadas" para políticos passaram, lamentavelmente, a fazer parte do cardápio diário dos brasileiros. No exterior, voltamos a ser tratados como um país de pouca seriedade. Muito além de discutir quem são os responsáveis por tudo isso, os corruptores e corruptos, o fato é que o clima explosivo não é bom para o país.
É fundamental investigar a fundo cada acusação, cada empresa ou político citado, sempre preservando o direito à mais ampla defesa, mas sem exceções. E, acima de tudo, investir na transparência. Na prestação de contas das campanhas eleitorais e na fiscalização dos gastos públicos. É um trabalho essencial, se quisermos resgatar a credibilidade das instâncias políticas " Executivo e Legislativo " aos olhos da população.
Quando se fala em transparência, destacam-se, em meio ao lodaçal, alguns bons exemplos em todo o país. A Assembléia Legislativa de São Paulo, assim como o Legislativo gaúcho, decidiu publicar em seu website a prestação de contas dos parlamentares, em relação às verbas de gabinete. Desde então, vêm se multiplicando as reportagens sobre o destino desses valores.
Talvez alguns parlamentares considerem incômoda a maior fiscalização da imprensa e dos cidadãos sobre seus gastos. Acontece que estamos falando de recursos públicos e a fiscalização da comunidade é a grande vacina contra a repetição da saraivada de escândalos que assola o país. Não por acaso, dezenas de câmaras municipais paulistas vêm debatendo a publicação permanente dos gastos dos vereadores. Em pouco tempo, a instituição que não revelar o destino dessas verbas merecerá o repúdio dos eleitores.
No caso da Assembléia paulista, denúncias publicadas na imprensa, sobre irregularidades na contratação de funcionários e sobre eventuais servidores-fantasmas, têm mesmo permitido o aperfeiçoamento de processos e a correção de erros. É doloroso constatar nossas falhas pelas páginas e imagens da imprensa. No entanto, isso nos estimula a solucioná-las mais rapidamente.
Mas a transparência, calcada no esclarecimento absoluto de todas as denúncias apresentadas, é apenas um dos lados do processo de recuperação das instituições políticas. No caso do Legislativo, é preciso fazer com que se aproxime do cotidiano das pessoas. Que debata e vote menos suas questões e prerrogativas internas, e mais os problemas que digam respeito à sociedade.
Só assim será possível encontrar, junto à opinião pública, eco para uma verdade que poucos têm a coragem de dizer: a democracia tem um custo. Hoje, qualquer reportagem sobre salários e gastos de parlamentares desperta imediatamente a irritação das pessoas. Tudo é encarado quase como um assalto à mão desarmada.
Sob o impacto da vaga de escândalos, não é exagero dizer que boa parte dos cidadãos brasileiros vê pouco sentido na própria existência do Parlamento, das Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais. Que dizer então dos salários dos parlamentares, de seus assessores ou das verbas de gabinete? O princípio de independência dos poderes hoje parece reduzido à triste imagem de um Executivo que aluga parlamentares para que apenas legitimem seus interesses,
Montesquieu (1689-1755), pensador francês que primeiro formulou a tese da autonomia dos poderes " Executivo, Legislativo, Judiciário " dizia que "somente o poder pára o poder". Essa máxima, que é a principal justificativa para a independência dos poderes, afirma que o Executivo, diante da necessidade de tomar decisões imediatas, tenderia facilmente ao despotismo, se não fosse forçado à moderação por outro poder capaz de detê-lo. Em contrapartida, o Legislativo, por refletir as inclinações de maiorias ocasionais, tenderia à anarquia, caso não fosse bloqueado por outros poderes.
Nos regimes totalitários não há gastos com deputados e vereadores. Mas qual é o custo da inexistência de fiscalização sobre os ocupantes do Executivo? Ou do esmagamento das oposições? Ou ainda da fuga dos melhores cérebros, em busca da liberdade criativa em outros cantos?
O Brasil, que saiu recentemente de 20 anos de regime de exceção, conheceu de perto as mazelas e o atraso gerados pela restrição à democracia. Mas o tempo passa e, para as novas gerações, tudo isso é parte de um passado distante. Só uma dose gigantesca de ética e transparência, que traga consigo um Brasil passado a limpo poderá resgatar aos olhos da população a importância fundamental da convivência entre os três poderes. E sem um Legislativo forte e independente, que não possa ser "alugado" pelos ocupantes de momento do Executivo, a tentação autoritária é inevitável.
*Rodrigo Garcia é deputado estadual (PFL), presidente da Assembléia Legislativa do Estado de S. Paulo
Notícias mais lidas
- Deputado participa de missão oficial a Taiwan e busca ampliar cooperação com potência asiática
- Aprovado na Alesp, novo valor do Salário Mínimo Paulista, de R$ 1.804, é sancionado
- Entra em vigor hoje o novo Salário Mínimo Paulista, de R$ 1.804
- Vitória dos pescadores: artigo que restringia acesso ao seguro-defeso é suprimido
- Na Alesp, familiares, amigos e colegas de profissão se despedem do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes
- Alesp aprova projeto que garante piso salarial nacional a professores paulistas
- São Vicente: a importância histórica da primeira cidade do Brasil
- Sindicatos da Polícia Civil cobram envio de projeto da nova Lei Orgânica à Alesp
- Deputado apresenta Representação Canônica contra Padre Júlio Lancellotti
Lista de Deputados
Mesa Diretora
Líderes
Relação de Presidentes
Parlamentares desde 1947
Frentes Parlamentares
Prestação de Contas
Presença em Plenário
Código de Ética
Corregedoria Parlamentar
Perda de Mandato
Veículos do Gabinete
O Trabalho do Deputado
Pesquisa de Proposições
Sobre o Processo Legislativo
Regimento Interno
Questões de Ordem
Processos
Sessões Plenárias
Votações no Plenário
Ordem do Dia
Pauta
Consolidação de Leis
Notificação de Tramitação
Comissões Permanentes
CPIs
Relatórios Anuais
Pesquisa nas Atas das Comissões
O que é uma Comissão
Prêmio Beth Lobo
Prêmio Inezita Barroso
Prêmio Santo Dias
Legislação Estadual
Orçamento
Atos e Decisões
Constituições
Regimento Interno
Coletâneas de Leis
Constituinte Estadual 1988-89
Legislação Eleitoral
Notificação de Alterações