Em que porto?

Há poucos dias recebi em meu gabinete um novo amigo " adiantado nos anos, dotado da sabedoria que a vida acrescenta aos que dela sabem extrair ensinamentos e, evidentemente, desconfiado. Como todos os que, pela longevidade, tiveram a oportunidade de conviver com um sem-número de situações nem sempre favoráveis.
A conversa corria solta, recheada de fatos pitorescos, às vezes, hilários. Mas era instrutiva, porque percorria os vários países por onde havia estado nosso interlocutor, nesses quase 90 anos de vida produtiva. Isto até o momento em que sua memória pousou na sua querida Polônia. Naquele exato instante, seus olhos ficaram baços, marejados. Mãos e voz tremularam. A emoção dominou seus relatos. Sobre eles " os relatos ", voltarei em outra oportunidade. O que mais me instigou foi sua preocupação reiterada com o andamento " ou desandar " da política nacional, sua falta de rumos e, sobretudo, com as dificuldades, métodos e meios utilizados pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para eleger seu candidato, agora presidente, à Câmara Federal, Aldo Rebelo.
Estranhava o novo amigo o fato de que num país, com tantas dificuldades e prioridades não atendidas, um presidente se dispusesse a abrir as burras do erário público para atender às emendas que, se adequadas, já deveriam ter sido atendidas, como estabelece a própria lei do orçamento. Acreditando que, em sendo o presidente um homem sério, não teria abdicado de dar andamento " e rapidez " às tais emendas, nosso novo amigo polonês se preocupava com as conseqüências desta mudança, súbita, de atitude do presidente. Uma mudança que revela o uso escancarado de dinheiro público " do nosso dinheiro " para fins que se confessa, mas não se defende.
O resultado da eleição do presidente da Câmara Federal sugere que a mesma prática terá que ser repetida a cada votação. Isso ficou evidente e patenteado na primeira tentativa do novo presidente de articular uma pauta mínima de votação!
Ainda que os temas propostos pelo presidente, deputado Aldo Rebelo, sejam interessantes, não há acordo à vista. Em vez do "mensalão" " a mais nova e perniciosa invenção petista " o que teremos será o pagamento de diárias ou "jetons" por matéria a ser aprovada.
A dificuldade maior que ainda deve enfrentar o governo " Lula, em particular " é o preço a ser pago e os critérios que determinarão o seu valor. Afinal, José Dirceu, Delúbio e Valério estão fora de ação, e Lula, o presidente, insiste na tecla de que nada viu, de que nada sabe. Os últimos fatos nos mostram não apenas que ele sabia, sabe e prescinde de operadores. O acidente que lhe tirou a capacidade de operar com segurança os tornos da vida não lhe impede de operar com agilidade o entorno da política " da política suja, é bem verdade.
Por fim, a última dúvida de meu novo, mas já querido, amigo: "Precisava o presidente da Câmara Federal ser um comunista?" Claro que, neste momento especial, lhe voltavam à lembrança fatos vividos " e todas as mazelas de um regime que lhe roubou a pátria e o lar. Tentei tranqüilizá-lo. Disse-lhe que Rebelo já foi "mais comunista" do que é. Que ele hoje comemora os resultados da política econômica que, no passado recente, ele e os seus tanto condenavam, por julgá-la, no chavão oportunista, neoliberal. Mostrei ao meu amigo as mudanças já ocorridas naquilo que se convencionou chamar de esquerda, inclusive em votações como a da Previdência Social e na que reduziu o salário mínimo. Esta gente é mais pragmática que o rei " esteja ele nu, ou não. Foi o que eu lhe disse.
Meu amigo polonês levantou-se e, enquanto me estendia a mão num gesto de despedida, ele me fez uma interrogação: em que porto ele estará quando pararem de soprar esses ventos? Eu me calei. Por falta de resposta.
*Milton Flávio é professor de Urologia da Faculdade de Medicina da Unesp, deputado estadual pelo PSDB e vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo
www.miltonflavio.org
miltonflavio@al.sp.gov.br
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