O Monumento Mausoléu aos Heróis de 1932: a simbologia do 9 na concepção de seu autor



Conseqüência de uma iniciativa de civismo e de justiça concretizada pela força de vontade dos que vêem na figura de seus heróis um simbolismo da fé e da grandeza de nossa terra, o Monumento Mausoléu aos heróis de 1932, ergue-se no Ibirapuera, ao lado da sede da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, como um marco das lutas e vitórias de um povo forte, bravo e idealista.
De 1933, quando nasceu a idéia de perpetuar no mármore um monumento histórico na vida de São Paulo, até 1954, ocasião em que a terra bandeirante completava seu IV Centenário, quando para lá foram trasladados os despojos dos Heróis da Revolução Constitucionalista, Miragaia, Martins, Drauzio, Camargo e Paulo Virgínio " ainda antes da inauguração " várias foram as dificuldades enfrentadas, os obstáculos a serem vencidos na luta para a realização do projeto do grande escultor Galileo Emendabili.
Neste ano em que se comemoram 66 anos da Revolução de 32 e numa homenagem aos heróis paulistas, símbolo de um poder de um povo na luta por seus ideais, nada mais justo que se lembre um pouco da história do Monumento que perpetua no granito a grande epopéia.
Paulo Emendabili Carvalhosa, neto do escultor, recolheu alguns anos antes do falecimento do autor do projeto alguns pormenores curiosos sobre o monumento cuja mística reside na simbologia, toda ela representada pelo número 9, data máxima da Revolução.
Nove são os degraus que conduzem à cripta do Monumento; a altura do Obelisco da base até o topo é de 72 metros (7+2 =9) e da cripta até o topo a distância é de 81 metros (8+1=9, além do que 81 é o quadrado de 9). Se fizermos à soma aritmética desses valores (72 e 81) teremos 7+2+8+1=18 (1+8=9).
Por outro lado, cada face do Monumento está orientada para os quatro pontos cardeais e cada uma delas com suas respectivas esculturas em alto relevo, representa 100 anos da história de São Paulo. A praça onde emerge o Monumento em frente ao Parque do Ibirapuera simboliza um coração, coração na terra que no seu interior abriga a cripta em forma de cruz grega sustentada por arcos que lembram as tradicionais arcadas da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, berço do Movimento de 32.
Foi por esta razão " explica Paulo Emendabili Carvalhosa " que o escultor concedeu a iluminação da cripta do Monumento vinda do chão, como a lembrar a luz dos mortos vinda da terra.
"São três as portas de bronze que conduzem do exterior do Monumento ao interior da cripta e vale ressaltar que todas elas abrem-se para o exterior, para o mundo, tal como os portais do cemitério da velha Europa, terra natal de meu avô".
Bem no centro da cruz localiza-se o túmulo com a estátua em mármore do Soldado Desconhecido que repousa sobre um bloco maciço com os nomes escritos dos primeiros caídos pela Revolução. Esse bloco de mármore por sua vez está sobre uma bandeira paulista em preto e vermelho, que obviamente não se vê e sob ela estão depositados os restos mortais de Miragaia, Martins, Drauzio, Camargo além de Paulo Virgínio.
Vale salientar ainda que a base do Obelisco cai a prumo sobre o centro da cruz e, portanto, o Soldado em mármores está no centro tanto da cruz quanto da circunferência traçada imaginariamente pela própria base do Obelisco.
Segundo costuma detalhar Galileo Emendabili, o Soldado em mármore vela por seus Heróis, por sua Bandeira e pela Constituição, motivo principal da epopéia de 1932. Seu olhar fixa a base do Obelisco, que internamente tem a forma de um obus de canhão situado em nível superior. Suas paredes são incrustadas de mosaicos representativos da história de São Paulo e com duas portas de bronze que se abrem de fora para dentro com esculturas que contam a epopéia revolucionária, estas portas são voltadas, uma para a avenida 23 de Maio e outra para o Parque do Ibirapuera em cuja frente pontifica a estátua de Ibrahim Nobre, o grande tribuno da Revolução.
Paulo Emendabili Carvalhosa lembra com emoção que "Galileo Emendabili quis ainda que o Obelisco representasse internamente um canhão a ser acionado pelo herói no caso de violação a Constituição, enquanto externamente representa a lâmina de uma espada que atravessa o coração de São Paulo, acolhendo os filhos mortos em terra paulista por tão nobre causa".
Galileo Emendabili, vida e obra
Galileo Emendabili, pseudônimo artístico de Galileo Ugo Emendabili nasceu em Ancona (Itália) em 1898 e faleceu em São Paulo, em 1974. Seu pai, Ludovico, era proprietário de um serraria, onde Emendabili aprendeu e apaixonou-se pela arte do entalhe em madeira. Em sua cidade natal, trabalhou no ateliê do surdo-mudo Clementi, um exímio ebanista.
Em 1915 matriculou-se no curso especial de escultura da Academia Real de Belas Artes de Urbino (Italia). Foi aluno do escultor Domenico Jollo e estudou desenho com Ludovico Spagnolini.
Freqüentou o ateliê do escultor Arturo Dazzi e entrou em contato com a obra dos escultores Ivan Mestrovic, Adolf Wildt e Arturo Martini, entre outros. Em 1921, executou o monumento tumular do republicano Giuseppe Meloni.
Autor de diversas obras, algumas com motivos republicanos, Emendabili tornou-se célebre, mas começou a enfrentar dificuldades em concursos públicos de arte, visto que a Itália era uma monarquia à época. Querendo continuar a exercer livremente seu trabalho, Emendabili decidiu então deixar a Itália.
Já casado com sua patrícia Malvina Manfrini, partiu dia 16 de junho de 1923 com um bilhete de terceira classe, de Gênova, num navio cujo destino final era Buenos Aires. Emendabili desembarcou em Santos no dia 3 de julho, estabelecendo-se na cidade de São Paulo, onde trabalha como entalhador no Liceu de Artes e Ofícios.
Contando com o auxílio da numerosíssima coletividade italiana - tornou-se rapidamente num dos artistas mais conhecidos, tendo vencido diversos concursos.
Em 1925, ganha o primeiro prêmio no Concurso Internacional para o Monumento a Pereira Barreto, inaugurado em 1928, na Praça Marechal Deodoro. No ano seguinte, vence o concurso para o Monumento a Ramos de Azevedo, inaugurado em 1934, e que atualmente encontra-se na Cidade Universitária.
Nesse mesmo ano, ganha o primeiro e o segundo prêmio no concurso para o Monumento aos Heróis Constitucionalistas de 1932. A partir de 1933, trabalha com a colaboração de Fulvio Pennacchi, que elabora desenhos para alguns de seus projetos.
Diversas de suas obras podem ser apreciadas em mausoléus dos Cemitérios da Consolação e do Araçá ou na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Inicia, a partir de 1969, trabalhos em desenho e pintura. Em 1982 a Rádio Televisão Italiana realiza o vídeo "Ancona - San Paolo solo andata" (Ancona " São Paulo somente ida). Em 1997 a Pinacoteca do Estado de São Paulo organiza a exposição Monumento a Ramos de Azevedo: do concurso ao exílio, na qual é publicado um livro organizado pela historiadora e crítica de arte Annateresa Fabris.
Outros projetos
1926 - Tatuí SP - Esculpe o monumento memorialista Cristo Bom Pastor, na propriedade da família Salles Gomes
1940/1948 - São Paulo SP - Projeta os altares e faz as estátuas de terracota, mármore e bronze da Igreja Nossa Senhora da Paz
1942 - São Paulo SP - É reconhecido como artista-escultor, pela Escola Nacional de Belas Artes - Enba
1950 - São Paulo SP - Classifica-se em 1º lugar com a maquete Sacrário, para a construção do Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, projeto não realizado
1980 - São Paulo SP - É realizado documentário sobre o Monumento a Ramos de Azevedo e Monumento e Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932, pela TV Cultura
1987 - São Paulo SP - Lançamento do livro Galileo Emendabili, com textos de Maurício Loureiro Gama
1988 - São Paulo SP - Na Praça do Imigrante Italiano, espaço livre situado na confluência da Avenida 9 de Julho com a Rua Peruíbe, no Jardim Paulistano, é inaugurado o Monumento ao Imigrante Italiano, que corresponde a uma parte do projeto original do artista
1993 - Sua biografia, elaborada pela historiadora e crítica de arte Annateresa Fabris, é publicada no Dizionario Biografico degli Italiani, editado pelo Istituto della Enciclopedia Italiana
1994 - São Paulo SP - É recriado o estúdio do escultor, por iniciativa de William Maluf, no 1º Salão Paulistano de Antiquários ocorrido no Museu Brasileiro de Escultura - MuBE
1997 - São Paulo SP - Lançamento do livro Monumento a Ramos de Azevedo: do concurso ao exílio, organizado por Annateresa Fabris
2000 - São Paulo SP - A pesquisadora Silvana Brunelli Zimmermann defende junto ao Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, a dissertação de mestrado A obra escultórica de Galileo Emendabili: uma contribuição para o meio artístico paulistano
O papel da Policia Militar junto ao Monumento
A preservação, manutenção, gestão, administração e guarda do Monumento Mausoléu ao Soldado Constitucionalista de 1932, compete desde 25 de setembro de 2006, pelo decreto nº. 51.130, assinado pelo então Governador Cláudio Lembo à Policia Militar do Estado de São Paulo e tem merecido a atenção especial de seu Comandante Geral Coronel PM Roberto Antônio Diniz.
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