Pacote formiguinha?

O presidente Lula promoveu um grande estardalhaço para anunciar um novo pacote imobiliário, sob o argumento de acelerar o desenvolvimento econômico e gerar empregos à mão-de-obra pouco qualificada. Com minha experiência como engenheiro civil, ex-secretário estadual de Habitação e coordenador da Frente Parlamentar pela Habitação na Assembléia paulista, não posso deixar de saudar esta iniciativa, mas lamento a demora e a falta de ousadia diante do evidente desaquecimento do setor da construção civil e do crescente déficit habitacional no País.
Hoje, o setor da construção civil emprega cerca de 15 milhões de trabalhadores, sendo 3,8 milhões de empregos diretos. Responsável por 13,8% do nosso PIB, o setor apresentou um crescimento pífio de 0,9%, em 2005, contra 5,7% registrado no ano anterior. O próprio Ministério das Cidades admite que o déficit habitacional brasileiro chega a 6,6 milhões de novas moradias, onde as famílias com faixa de renda entre zero e três salários mínimos representam 83,6% do total.
Para tentar minimizar esta situação, o governo anunciou investimentos da ordem de R$ 18,7 bilhões, incluindo recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE), oriundos das cadernetas de poupança dos bancos, no valor de R$ 6,7 bilhões, e mais R$ 2 bilhões da Caixa Econômica Federal (CEF) " para o financiamento de moradias para a classe média. A maior fatia deste pacote virá do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) " que por lei são destinados, em parte, ao financiamento da habitação ", cerca de R$ 10 bilhões, completados por dotações orçamentárias destinadas a financiar a habitação para a população de baixa renda.
A CEF, que administra os recursos do FGTS, terá um papel fundamental no programa, pois deve aplicar R$ 6,8 bilhões para a construção de moradias para a população de baixa renda que recebe até 12 salários mínimos, com prioridade para quem recebe até 5 salários mínimos. Além destes, serão destinados R$ 1,27 bilhão de recursos orçamentários e R$ 1 bilhão do Fundo Nacional da Habitação de Interesse Social, criado em 2005, para a população de baixa renda.
O pacote também inclui a desoneração tributária de materiais de construção, treze produtos terão as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) zeradas, enquanto outros vinte e cinco produtos terão suas alíquotas reduzidas de 10% para 5%.
O pacote recém lançado complementa outras medidas já adotadas em favor da construção civil que não atingiram o objetivo esperado. Em 2005, o governo reduziu o Imposto de Renda sobre o lucro imobiliário, chegando a eliminar o tributo no caso de reaplicação dos recursos em imóveis de igual ou maior valor. E, para melhorar a qualidade dos créditos, o mecanismo da alienação fiduciária " que torna mais fácil retomar o imóvel em caso de inadimplência " que passou a ser amplamente utilizado. O patrimônio de afetação também foi regulamentado, com o objetivo de evitar prejuízos aos compradores de imóvel na planta, mas sua aplicação é ainda embrionária.
Em meio à ausência de uma política nacional de habitação com foco na interação entre os governos federal, estadual e municipal a fim de evitar o desperdício de dinheiro público, me preocupa o modo com que serão aplicados estes recursos e como se dará o necessário controle dos mesmos. Ou seja, da retórica para a prática existe um longo percurso e o governo foi bastante econômico na hora de estabelecer metas e detalhar onde estes recursos serão aplicados.
Resultado desta equação: muitas dúvidas pairam no ar. Quanto tempo irá demorar para a redução do IPI chegar ao varejo e, conseqüentemente, ao bolso do consumidor? Como o governo pretende garantir que esta isenção não seja incorporada às margens de lucro dos agentes do setor ou pelas altas taxas de juros do financiamento? A simples redução do IPI na ponta da cadeia resultará na redução no preço final das moradias? Não seria o caso, como foi proposto pelo setor construtivo, a criação de um regime especial de tributação para empreendimentos imobiliários de interesse social? O governo não poderia tratar de diminuir os custos ordinários, como os cartorários, por exemplo, além de combater a burocracia excessiva na aquisição de um imóvel? Por que questões como saneamento não foram mencionadas no pacote?
Muitos empreiteiros argumentam que 60% das moradias de baixa renda são construídas pelo próprio proprietário, chamado de "formiguinha". No curto prazo, dizem eles, o pacote recém lançado poderá ser inóculo na geração de novos postos de trabalho e insuficiente para reaquecer o já combalido setor da construção civil.
Em um ano eleitoral, com um presidente buscando a reeleição, não podemos nos deixar influenciar por cortinas de fumaça. Volto a insistir, precisamos deixar de confeccionar colchas de retalhos para tentar solucionar problemas crônicos como a falta de moradia. O estabelecimento de uma política nacional de habitação é fundamental para repartir responsabilidades com Estados e Municípios, estabelecer metas, reaquecer a economia e apresentar ao País uma solução definitiva para a falta de moradias para a população brasileira.
*O deputado Arnaldo Jardim é Coordenador da Frente Parlamentar pela Habitação na Assembléia Legislativa de São Paulo
Notícias mais lidas
- Deputado participa de missão oficial a Taiwan e busca ampliar cooperação com potência asiática
- Aprovado na Alesp, novo valor do Salário Mínimo Paulista, de R$ 1.804, é sancionado
- Entra em vigor hoje o novo Salário Mínimo Paulista, de R$ 1.804
- Vitória dos pescadores: artigo que restringia acesso ao seguro-defeso é suprimido
- Alesp aprova projeto que garante piso salarial nacional a professores paulistas
- São Vicente: a importância histórica da primeira cidade do Brasil
- Na Alesp, familiares, amigos e colegas de profissão se despedem do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes
- Sindicatos da Polícia Civil cobram envio de projeto da nova Lei Orgânica à Alesp
- Demanda antiga, Lei aprovada na Alesp unificou categoria de policiais penais
Lista de Deputados
Mesa Diretora
Líderes
Relação de Presidentes
Parlamentares desde 1947
Frentes Parlamentares
Prestação de Contas
Presença em Plenário
Código de Ética
Corregedoria Parlamentar
Perda de Mandato
Veículos do Gabinete
O Trabalho do Deputado
Pesquisa de Proposições
Sobre o Processo Legislativo
Regimento Interno
Questões de Ordem
Processos
Sessões Plenárias
Votações no Plenário
Ordem do Dia
Pauta
Consolidação de Leis
Notificação de Tramitação
Comissões Permanentes
CPIs
Relatórios Anuais
Pesquisa nas Atas das Comissões
O que é uma Comissão
Prêmio Beth Lobo
Prêmio Inezita Barroso
Prêmio Santo Dias
Legislação Estadual
Orçamento
Atos e Decisões
Constituições
Regimento Interno
Coletâneas de Leis
Constituinte Estadual 1988-89
Legislação Eleitoral
Notificação de Alterações