A política do cacete e da bala

As organizações criminosas fizeram fama em São Paulo graças ao despreparo das autoridades responsáveis pela área de Segurança Pública. Até o momento, ninguém explicou como um pequeno grupo de detentos conseguiu expandir suas ações além dos muros das penitenciárias. Na última década, o governo estadual teve várias chances de conter os movimentos, mas fez vista grossa para o testemunho de informantes que mantinha dentro e fora das cadeias. Também não se preocupou em nenhum momento com o desenvolvimento da tecnologia para o grampeamento de telefones celulares. Pior que isso. Não soube trabalhar com informações dos presos para evitar fatos inadmissíveis e sucumbiu diante das tentativas de fechar o cerco contra advogados de terceira linha que funcionavam como pombos-correio dos mais diferentes tipos de criminosos.
O fracasso da política de "insegurança" dos tucanos exige medidas firmes para evitar o caos no sistema penitenciário. Em primeiro lugar, deve-se fazer uma limpeza nos quadros do funcionalismo público. Está na hora de afastar os burocratas e os corruptos, que atrapalham as pessoas sérias no desenvolvimento de suas funções, e de utilizar a informação obtida nos mais diversos níveis. Organização e praticidade não se adquirem apenas com discursos. É preciso ter coragem para mudar a situação de caos que impera na área de segurança. Afinal, de nada adianta ter secretarias especializadas que não se comunicam, ou policiais bem treinados que não se entendem, por absoluta falta de comando. O acesso aos dados deve ser expandido a diversos departamentos da administração para possibilitar o cruzamento daquilo que se está investigando dentro e fora do sistema penitenciário.
Qualquer estudante de Administração sabe que a maior vantagem de uma empresa em um mercado competitivo é ter acesso a informações privilegiadas. Em todas as atividades, é necessário conhecer a concorrência para comercializar um produto. Na administração do Estado, ocorre exatamente o contrário. Prova disso são as investidas da Secretaria de Segurança Pública nas últimas semanas. Após realizar escutas telefônicas, a polícia preparou uma emboscada que terminou com a morte de 13 pessoas. Segundo a versão oficial, o grupo pretendia matar um agente penitenciário. Mas, se sabia de tudo isso, por que a polícia não tentou interceptar os bandidos no caminho? Seria a ação lógica em qualquer parte do mundo. Menos em São Paulo.
Aliás, é necessário deixar registrado que, em matéria de operação policial civil, cujos alicerces são investigações e serviço de inteligência, o parâmetro para se julgar uma ação como bem-sucedida é exatamente o fator surpresa, quando todo mundo é preso sem qualquer disparo de arma. Qualquer coisa diferente, na gíria policial, é "trombada".
No episódio do ABC, ficou claro o desejo da Secretaria de Segurança Pública em mostrar sua força à sociedade. As autoridades não se preocuparam com a vida dos policiais envolvidos na operação, tampouco avisaram o agente penitenciário de que ele corria risco de morte. Sorte dele que o "plano" correu bem e os bandidos não mudaram o ponto que haviam marcado para se encontrar. Mais do que nunca, o episódio mostrou que está em marcha uma política de repressão letal no Estado. A mesma que já dura 12 anos e que só piorou a situação nos presídios e nas unidades da Febem. E que provavelmente será colocada em prática se o "picolé de chuchu" Geraldo Alckmin for eleito em outubro. É bem diferente, ter Política de Segurança Pública e fazer política com a segurança pública. Quem não se lembra da operação Castelinho, quando as autoridades anunciaram com pompas que o PCC tinha acabado?
O uso da força apenas serve para acalmar a opinião pública, sem levar em consideração as conseqüências que isso pode ter no futuro. O reflexo imediato da repressão se reflete na insegurança dos funcionários do sistema penitenciários, cada vez mais amedrontados pelas ameaças aos familiares. Sem dúvida os criminosos brasileiros estão entre os mais perigosos do mundo. Isso ficou comprovado quando comandaram ações que terminaram em uma carnificina com mais de 500 mortos nas ruas do estado. Suas ações deixaram as prisões e ganharam espaço no noticiário internacional ao lado de grupos organizados e temíveis como a Al-Qaeda de Osama Bin Laden e o Hamas da Palestina. Há uma diferença e uma constatação, porém, que devem ser consideradas para nossa tristeza. 13 a 5 para o Estado. Enquanto isso, o policial é tratado apenas como um número, e o povo como um bando de idiotas. Com essa malfadada "Política do Cacete e da Bala", não dá para comemorar o placar.
* Romeu Tuma é delegado de Classe Especial da Polícia Civil, deputado estadual (PMDB), ex-presidente e atual integrante da Comissão de Segurança Pública, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor e corregedor da Assembléia Legislativa.
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