Aproveitamento de resíduos: energia limpa e de baixo custo

Seminário sobre energia
27/09/2007 19:01

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Colheita da cana-de-açúcar<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/SEMINA RESI 2.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O uso dos resíduos como base para a geração de energia é parte da busca de fontes menos poluentes, numa alternativa à queima de combustíveis fósseis, que tenham custo mais baixo e não agridam o meio ambiente. A biomassa resultante da agroindústria canavieira desponta como a mais promissora fonte de energia renovável capaz de responder, em curto prazo, por cerca de um quarto da energia despendida no país.

Do ponto de vista da geração de energia, biomassa compreende os derivados de organismos que viveram recentemente e que são utilizados como combustível. Dizer "viveram recentemente" significa excluir os combustíveis fósseis que, embora também derivem de organismos vivos, sofreram a ação de diversos processos durante milhares de anos até se transformarem em gás, petróleo ou carvão mineral.

A principal diferença entre biomassa e os combustíveis fósseis está exatamente no tempo de renovação de um e de outro. Enquanto a biomassa consegue se renovar no espaço de uma safra, os combustíveis fósseis não se renovam.

A biomassa é utilizada na produção de energia a partir de processos como combustão de material orgânico. A queima da biomassa provoca a liberação de CO2 na atmosfera, mas como este gás já havia sido previamente absorvido pelas plantas que deram origem ao combustível, o balanço de emissões de dióxido de carbono é nulo.

O álcool da cana, pela baixa emissão de poluentes, custo competitivo e por ser uma energia renovável, ganhou importância estratégica, e o Brasil, por ser o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, está na vanguarda das pesquisas. O setor sucroalcooleiro garante que pode produzir 50% da energia consumida no Brasil utilizando-se apenas os resíduos. Apesar da projeção ser um tanto otimista, os dispositivos de conversão de energia vêm aumentando seu rendimento e praticamente dobrando os valores obtidos para os ciclos de vapor convencionais.

Lenha

A lenha ocupa a terceira posição em fonte de energia utilizada, sendo extraída das poucas reservas que restam no país. Dois bilhões de pessoas no mundo dependem da lenha como fonte de energia, e o consumo mundial é de 1,1 bilhão de metros cúbicos (a maior parte nos países em desenvolvimento). A lenha é aproveitada domesticamente no processo de combustão " processo mais antigo de produção de calor doméstico e industrial e que desperdiça 94% do valor calórico " e no processo de pirólise, em que a madeira é queimada em temperaturas entre 160 e 430 graus Celsius, na ausência de ar, e que apresenta um rendimento bem maior do que o processo anterior. O problema é que o consumo da lenha e de seu derivado, o carvão, acaba por destruir as áreas de matas nativas. Em Minas Gerais, por exemplo, o consumo de carvão está na ordem de 25 milhões de m3, sendo 40% extraídos do cerrado. De 1987 a 1992, foram devastadas 2,8 milhões de hectares dos quais 60% são de cobertura nativa. Minas produz 80% do carvão e consome 84% da produção nacional.

Resíduos

Os resíduos orgânicos (agrícolas, pecuários e urbanos) devem ser transformados por intermédio de digestão anaeróbica (ação de microorganismos) para resultar em gás combustível com altos teores de metano. O biogás possibilita diversas aplicações, como cocção de alimentos, geração de energia em lampiões, geladeiras, chocadeiras, fornos industriais e energia elétrica. Na cidade de São Paulo, são produzidas 8 mil toneladas de lixo por dia. Esse lixo vem sofrendo incineração, compostagem e, finalmente, é desovado em aterros sanitários.

A biomassa residual já existente em indústrias de açúcar e álcool, papel e celulose, produção de madeira e beneficiamento de arroz, tem um local de destaque no Brasil.

O setor sucroalcooleiro é o campeão em potencialidade. Apenas 50% da energia sintetizada na cana-de-açúcar é atualmente aproveitado pelas indústrias. Um terço é convertido em açúcar ou álcool, e o bagaço, que é o segundo terço, é utilizado para atender às necessidades térmicas e de funcionamento da própria fábrica, mas com desperdício de 50% do potencial energético. O último terço, que são as pontas e a palha da cana, é queimado no campo.

Com a diminuição do consumo de vapor e a introdução de pontas e palhas no funcionamento das turbinas, que têm melhorado sua eficiência a cada ano, o setor sucroalcooleiro poderia fornecer " com as atuais 400 milhões de toneladas de cana " 10 mil MW médios, mais de 20% de toda a geração de energia no Brasil.

Além disso, essa geração poderia aumentar em 10% com a utilização do gás metano proveniente da biodigestão da vinhaça nas destilarias de álcool. As perspectivas de aumento da produção da cana na ordem de 60%, em dez anos, elevam o percentual de 20% a 50% da geração de energia no Brasil.

Sustentabilidade

A energia renovável produzida pelas usinas para uso externo, hoje principalmente o etanol, é cerca de nove vezes maior que o insumo fóssil utilizado na sua produção, tornando o processo mais atraente entre os usos comerciais de energia alternativa no mundo, principalmente no que diz respeito à sustentabilidade, com a redução de emissões de gases de efeito estufa em cerca de 12,7 milhões de toneladas de carbono.

Para que o Brasil possa aproveitar o momento em que todos os países estão preocupados com a sustentabilidade, aumentando a produção dessa energia limpa, é necessário que se aumente a eficiência no uso do bagaço, que se desenvolva a colheita e utilização da palha, e que se busquem novas opções energéticas para o etanol. Aproveitar esse momento pode fazer-nos participar do bloco dos produtores de combustíveis limpos, ou liderar a produção e as pesquisas num segmento que, ao que tudo indica, só tende a aumentar no médio prazo.

alesp