Seminário aponta necessidade de mapa de vulnerabilidades


18/09/2007 10:09

Compartilhar:

A deputada Maria Lúcia Prandi fala durante a abertura do seminário. A primeira mesa reuniu representantes dos governos estadual e federal, além da sociedade civil<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/PRANDI CLIMATICA.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> O seminário foi preparatório da conferência estadual de meio ambiente<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/PRANDI CLIMATICA B.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

O seminário "Mudanças Climáticas Globais: as Conseqüências para o Litoral Paulista", reuniu cerca de 300 pessoas no sábado, 15/9, em Santos. O evento foi uma realização conjunta da Frente Parlamentar em Apoio à Agenda 21 da Assembléia Legislativa de São Paulo e o Sesc/Santos. A coordenação foi da deputada Maria Lúcia Prandi (PT), integrante da frente. A principal conclusão do evento foi de que é fundamental elaborar um mapa de vulnerabilidade em escalas locais, regionais e nacional, e a partir desse levantamento definir ações a serem desencadeadas para impedir ou minimizar a concretização dos impactos, bem como estabelecer planos a serem acionados em situações de risco. Por outro lado, são necessárias mudanças que vão desde o comportamento de cada indivíduo até a implantação de políticas públicas, visando reduzir as intervenções humanas determinantes para as alterações do clima.

Prandi lembra que, ainda este ano, deverão ocorrer mais dois seminários sobre os impactos das mudanças climáticas para o Estado, um em Campinas, para discutir questões referentes ao interior, e outro na capital, no qual serão debatidas as conseqüências na Grande São Paulo. "Nesse último, também será elaborada uma carta, com todas as propostas extraídas dos três seminários. Esse documento será enviado às diversas esferas de poder e a setores da sociedade civil", explica Maria Lúcia.

e do Instituto Geológico de São Paulo discutiram a questão.

"O aumento do nível do mar levará a salinização para corpos d"água hoje usados no abastecimento de cidades do litoral. Além disso, essa elevação também obriga mudanças na drenagem dessas cidades. Se o mar sobe e adentra o sistema de águas pluviais, não haverá como escoar a água das chuvas. Outra preocupação é como ficará a destinação final do esgoto, normalmente feita por meio de emissários submarinos, que também serão afetados", ressaltou Gilvan Sampaio, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Já Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente, expôs um mapa de risco das praias de todo o litoral de São Paulo. O trabalho é resultado de quase duas décadas de pesquisas. Conforme os estudos, 65,3% das praias da Baixada Santista apresentam grau de risco alto. Esses números chegam a 46,7% no Litoral Norte e 62,5% no Litoral Sul. A diferença, segundo Célia, é que na Baixada essa vulnerabilidade é basicamente conseqüência da ação humana.

Cerca de 50% dos manguezais ainda existentes no estuário e na baía de Santos serão afetados com a elevação do nível do mar. É o que apontou Emília Arasaki, do Instituto Tecnológico da USP, uma das responsáveis por um estudo que reproduziu uma maquete da região, com o objetivo de simular as conseqüências da elevação do mar em 1,5 metro. O trabalho prossegue agora, visando avaliar também a influência do vento no fenômeno.

Já Antônio Carlos Diegues, do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras (USP), deu ênfase ao impacto social das mudanças climáticas. "Há 30 anos, já havia coordenado um estudo sobre essa questão, que à época não teve destaque. Mais que mudanças climáticas, elas serão mudanças sociais. As pessoas mais prejudicadas serão as mais pobres. Precisamos agir para impedir essa catástrofe social",afirmou.

As mudanças climáticas serão o tema central da III Conferência Nacional do Meio Ambiente, prevista para acontecer até maio de 2008. Enquanto isso, todos os Estados trabalham na realização das conferências estaduais, que deverão ocorrer até março do próximo ano. "A previsão é que a III Conferência Nacional reúna 1.400 representantes de todo o país. Além disso, há a expectativa de que mais de 100 mil pessoas participem ao longo de todas as etapas que culminarão com a realização do evento em Brasília", ressaltou Souraq Borralho Aranha, um dos coordenadores estaduais da conferência. "Por isso, estamos dando muita ênfase ao uso de meios eletrônicos, evitando deslocamentos para reuniões e reduzindo a emissão de carbono", ponderou. Indo ao encontro dessa afirmação, o secretário-executivo do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), Nilo Sérgio Diniz, enfatizou que o mundo atual deverá entrar para a história como a Era do Carbono.

Representante da rede paulista da Agenda 21, Nina Orlow destacou a importância do seminário como forma de influir na tomada de decisões por aqueles que são responsáveis pela formatação das leis, neste caso os parlamentares da Assembléia Legislativa de São Paulo. "Com a criação da frente parlamentar, que reúne 75 deputados estaduais, demos um passo importante para a definição de políticas públicas para enfrentar e mitigar as conseqüências das mudanças climáticas", avaliou Nina.

O debate "Propostas e Participação da Sociedade Civil para o Enfrentamento das Mudanças Climáticas Globais" encerrou o seminário. O representante do Instituto Vitae Civilis, Rubens Harry Born disse que é preciso mudar a forma de propor políticas públicas", argumentou, no que foi referendado pelos demais palestrantes. Born também ressaltou a necessidade da mudança do estilo de vida de nossa sociedade: "Temos sido perdulários no consumismo e no desperdício de recursos naturais". Ele também apontou a necessidade de um inventário da emissão de carbono por cada cidade.

Já Miriam Dualibi, do Instituto Ecoar, apontou que tudo que é feito deve levar em conta os impactos sociais e ambientais. "Como fizemos com as calorias, precisamos aprender a contar a emissão de poluentes e adotar medidas cotidianas de compensação", comparou. "Isso passa pela educação, por ações individuais, coletivas e políticas públicas." Ela citou como exemplo o fato de que 90% da energia usada em sinais de trânsito é desperdiçada. "Com a modernização e a calibragem dos equipamentos, isso seria resolvido", declarou.

Para o representante da Agência Brasileira de Gerenciamento Costeiro, Eduardo Hipólito do Rego, um passo essencial é a definição do planejamento social, ambiental e econômico das regiões litorâneas. Com o apoio da Faculdade de São Sebastião, ele vem realizando um trabalho de monitoramento das ocupações e da erosão nas praias do município do Litoral Norte de São Paulo.

Durante o debate, Luiz Piva, do Greenpeace, apresentou um documentário, produzido pela ONG, sobre as causas e as conseqüências do aquecimento global no Brasil. O vídeo tem três versões, com 5, 15 e 50 minutos, e pode ser acessado na página da organização na internet (www.greenpeace.org.br). "A ação humana é a maior responsável. As soluções desse problema estão concentradas nos investidores e nos tomadores de decisão. E precisamos de mais eventos como esse", disse Piva.

Já o integrante da Rede das Agendas 21 de São Paulo, Daniel Turi, apontou a responsabilidade de todos pelas mudanças, passando por um grande desafio, uma grande mobilização e uma "reflexão sobre o que queremos para nossas vidas e as futuras gerações". Na mesma linha, o membro da Rede Ecossocialista Caiçara, Condesmar Fernandes de Oliveira, arrematou: "Esta é uma questão de caráter social e ideológico. Precisamos deixar de lado o individualismo e passar para o coletivismo".

mlprandi@al.sp.gov.br

alesp