Quase dois irmãos: Paulo Lins e Flávio Bauraqui participam de debate na Assembléia


20/04/2005 18:45

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Paulo Lins e Flávio Bauraqui <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/03-2008/Comodois Irmaos .jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Cerca de 150 pessoas assistiram ao filme "Quase dois irmãos", da diretora Lúcia Murat, na noite desta terça-feira, 19/4, no auditório Franco Montoro da Assembléia Legislativa de São Paulo. O roteirista do filme, Paulo Lins (autor de Cidade de Deus), e o ator Flávio Bauraqui participaram de um debate com o público após a exibição do filme.

A produção trata da trajetória dos personagens Miguel e Jorginho, cujas vidas estão entrelaçadas por circunstâncias pessoais e históricas. Nos anos 70, os dois encontram-se no presídio de Ilha Grande. Miguel é um preso político, Jorginho, preso comum. Amigos de infância, ambos representam facções que dividiram o convívio e o controle do presídio na época da ditadura.

Paulo Lins e Lúcia Murat dividem o roteiro do filme, cujo pano de fundo é a história das organizações Falange Vermelha, posteriormente organizada como Comando Vermelho. O roteirista de Cidade de Deus aponta que a raiz histórica do crime organizado no Rio de Janeiro foi plantada durante do regime militar.

A junção de presos políticos com presos comuns possibilitou que a utopia social e a experiência de organização dos grupos de esquerda fossem difundidas no universo prisional do Rio de Janeiro. A intenção de presos políticos de estender visões de mundo e de organização social aos presos comuns fracassou, segundo Paulo Lins.

A utopia social que levou o personagem à prisão teve sua salvação no terno e gravata, O personagem se torna deputado federal. Já Jorginho comanda o tráfico da cadeia e acredita manter nos morros, através das armas, uma ordem que o estado não é capaz de fazê-lo.

A última fase do filme retrata a disputa no morro Santa Marta em 2004. A ascensão do Terceiro Comando ao controle do tráfico em meio a um frenético comércio de armas, cujo tráfico tem a mão da polícia.

Questionado sobre sua abordagem da violência, Paulo Lins disse ser muito difícil passar uma visão positiva sobre o Brasil. "A discriminação racial no nosso país é evidente. E a forma como a polícia trata os negros e a pobreza também é evidente. Quem tem dinheiro neste país não está á mercê da violência. As vítimas são pobres". Para o roteirista, o motor da violência é o tráfico de armas. Mas questiona: "Pesquisei muito e não identifiquei sequer uma apreensão de armamento feita pela polícia. O traficante de drogas é em geral um pobre que inevitavelmente morre cedo. Mas, quem são os traficantes de armas"

A exibição de Quase dois irmãos na Assembléia Legislativa foi uma iniciativa dos deputados petistas Vicente Cândido e Simão Pedro.

alesp