O Poder Legislativo, assim como o Executivo, o Judiciário e outras instituições representativas, atravessa, no Brasil, uma crise de legitimidade, situação preterida pela ocorrência de problemas que exigem soluções imediatas.A constatação foi feita pela professora Márcia Teixeira de Souza, do Departamento de Antropologia Política e Filosofia da Unesp de Araraquara, em palestra com o tema "Reforma do Legislativo e Reforma do Estado", promovida pelo Instituto do Legislativo Paulista, nesta sexta-feira, 8/4.Entre os problemas que conduziram a essa crise, Márcia aponta a diminuição do papel do Legislativo na formulação da agenda pública, o que complica a capacidade de responder à demanda da cidadania e leva a uma gravitação em torno do Poder Executivo.Além disso, o fraco vínculo entre deputados e partidos reduz o sentido coletivo da atuação parlamentar, aponta a professora. "O partido busca um candidato bom de voto, independentemente de suas idéias políticas. Assim, o partido depende do candidato, mas o candidato não depende do partido", ela avalia.ArmadilhaMárcia abordou ainda um aspecto essencialmente humano: a resistência natural a mudanças quando se está acostumado a algum tipo de rotina. "Nesse aspecto, a excessiva estabilidade institucional pode se tornar uma armadilha, o que mostra o grande grau de complexidade existente nas reformas", ela alerta.No quadro atual, em que os membros do Legislativo são também os agentes de uma possível reforma, esta tenderia ao pragmatismo e à fragmentação, e não à busca de um Parlamento ideal, opina a professora da Unesp.A reforma do Legislativo pode não superar esses problemas, mas deve mostrar para a opinião pública a existência de uma autocrítica capaz de renovar a confiança da coletividade na instituição, considera Márcia. E, para ela, a discussão desemboca na necessidade de uma reforma política. Algum tipo de fidelidade partidária seria parte dessa pauta, pondera.