Zarattini denuncia presença de diplomata americano em interrogatório no Dops
19/03/2013 21:07 | Da Redação Fotos: Marco Cardelino




Militante de esquerda, membro de várias organizações que a partir dos anos 1960 combateram a ditadura militar (1964-1985), Ricardo Zarattini esteve preso três vezes. Na primeira delas, no Recife, em 1968, teria sido interrogado nas dependências do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) por Richard Melton, membro do corpo diplomático norte-americano, na capital pernambucana. A denúncia foi feita por Zarattini em audiência da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, nesta terça-feira, 19/3, na Assembleia Legislativa.
"Cerca de duas semanas depois da minha prisão, no Dops do Recife, o delegado Moacir Sales entrou no lugar onde eu estava preso junto com duas pessoas. Uma delas, com sotaque americano, me perguntou por que eu não gostava dos Estados Unidos. Respondi que eu não tinha nada contra o país e seu povo, e sim contra as ingerências e as pressões que o imperialismo norte-americano fazia sobre nações pobres, como o Brasil", contou Zarattini.
Zarattini disse que reconheceu o seu interlocutor estrangeiro quando, em 1989, Richard Melton foi indicado pelo governo norte-americano para a embaixada dos EUA no Brasil.
"Na época eu fiz essa denúncia. O Itamaraty encaminhou uma consulta ao Ministério da Justiça para saber se a denúncia era procedente, e o ministério respondeu que, consultado o Dops do Recife, não havia provas da passagem de Melton por suas dependências", relatou Zarattini. Melton recebeu o agreement do governo brasileiro e foi o representante dos EUA em Brasília, de 1989 a 1993.
Zarattini propôs que a Comissão Estadual da Verdade investigue junto à Comissão Nacional da Verdade e ao Ministério da Justiça se há registro da passagem de Melton pelas dependências do Dops pernambucano.
"Esses fatos são gravíssimos. Eles encontram eco na denúncia feita há cerca de um mês, aqui na comissão, de que há registro da presença do cônsul americano na sede do Dops paulista em várias ocasiões", disse Amélia Telles, uma das coordenadoras da Comissão Estadual da Verdade. Para ela, a participação explícita de diplomatas estrangeiros indica que eles viam a possibilidade de o golpe perdurar, o que lhes dava "impunidade e certeza de que nunca iam ser cobrados".
O depoimento de Zarattini aponta um caminho a ser percorrido pela comissão: o da investigação da participação estrangeira no golpe e no período que o sucedeu.
Segundo Ivan Seixas, coordenador da assessoria da comissão, relatos reservados feitos há uma semana por agentes de órgãos de repressão revelam que cursos de tortura foram ministrados na Escola Nacional de Informações, órgão de inteligência da ditadura. "Nesses cursos havia técnicos falando inglês e as aulas eram práticas, mas não em bonecos, e sim em seres humanos", afirmou.
Ricardo Zarattini nasceu em Campinas, em 1935, formado em engenharia pela Politécnica de São Paulo, atuava em movimentos trabalhistas na zona canavieira de Pernambuco quando foi preso, em dezembro de 1968. Cinco meses depois conseguiu fugir, mas foi recapturado em São Paulo pela Operação Bandeirantes, em julho de 1969. Trocado pelo embaixador norte-americano Charles Elbrick, foi para o México e depois para Cuba. Voltou clandestinamente ao país, em 1974, e foi preso novamente em 1978. Ficou detido até a anistia, em agosto de 1979.
"Zarattini é um personagem da história do Brasil. É uma das maiores biografias da história de resistência do povo brasileiro", resumiu o deputado Adriano Diogo (PT), presidente da Comissão Estadual da Verdade.
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