Para filha de militante, medo e insegurança são legado do golpe de 1964
28/05/2013 20:18 | Da Redação Fotos: Maurício Garcia







A infância roubada das filhas de Aderval Coqueiro tem mais de um capítulo. Em 23/5, Célia foi ouvida pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT). Nesta terça-feira, 28/5, sua irmã Sueli contou como a ditadura militar golpeou sua família e sua história de vida.
Aderval militou no PCB e, posteriormente, no MRT. Preso e torturado no Dops/SP, foi banido para a Argélia em 1970, com outros 39 presos políticos, em troca da libertação do embaixador da Alemanha, Ehrenfried Von Holleben, sequestrado pela Ação Libertadora Nacional (ALN) e pela Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Voltou de Cuba clandestinamente em janeiro de 1971 e no mês seguinte foi morto em operação policial do DOI-Codi/RJ.
Sueli nasceu em 1960. Da lembrança que tem de sua infância em São Paulo, após o golpe de 1964, relata os sumiços do pai por alguns dias, as reuniões que aconteciam em sua casa, na região do ABC, e as restrições à infância " por exemplo, era proibida de brincar na rua ", algo que na época ela não entendia.
Tortura e morte
O medo maior começa a surgir quando o pai cai na clandestinidade e a família começa a viver em fuga. Sueli tinha sete anos quando eles foram para o Mato Grosso. Posteriormente mudaram para a Bahia e depois voltaram para São Paulo.
"Mudávamos constantemente. E eu comecei a sentir muito medo quando percebi que podia perder meu pai", ela relembra.
E o que ela temia aconteceu quando o pai foi preso. No Dops paulista, Sueli não podia visitar Aderval com a frequência que desejava. "Meu pai tinha sido muito torturado. Numa das visitas ele estava de óculos escuros, para que não víssemos as marcas da tortura. Para mim, ele disse que tinha machucado o rosto jogando bola", afirma Sueli.
Quando Aderval foi banido, a sensação de perda se agudizou. "O exílio de meu pai também foi uma despedida. Achei que nunca mais ia vê-lo. E de fato só o reencontrei já morto, no caixão, em 1971", Sueli relata.
Exílio
A morte de Aderval, após retornar clandestinamente ao país, levou companheiros de militância a promover a saída da família Coqueiro " a mulher e as duas filhas de Aderval ", rumo ao Chile, de Salvador Allende.
"A viagem para o Chile foi terrível. Estávamos sem chão. Não tivemos tempo de luto, de assimilar a perda. Partimos sem nos despedir dos outros familiares que ficaram no Brasil", disse Sueli. Ela acredita que esse desprendimento das raízes é um dos motivos que explica a dificuldade de relacionamento dela com tios e primos, por exemplo.
Quando ficam claros os indícios de que se preparava o golpe de 1973, no Chile, a família é transferida para Cuba. Sueli rememora que "só em Cuba é que realmente comecei a ter infância. Eu estudava, tinha um círculo de amigos, tinha liberdade de ser criança". Em Cuba ela aprendeu que o medo de policiais fardados não tinha, ali, razão de ser: "Era a polícia para a nossa proteção, não para a agressão".
A volta ao Brasil, no final dos anos 1970, não foi uma escolha de Sueli. Ela teria preferido ficar em Havana, onde havia construído uma "família". "Até hoje sinto que Cuba representa meu porto seguro", avalia. "O retorno foi extremamente difícil. É o meu país, mas foi aqui que aconteceram as piores coisas da minha vida. Era uma volta sem perspectiva, sem casa nem família", complementa.
A adaptação não foi integral, tanto que Sueli viveu muitos anos fora do Brasil, na Nicarágua e na Alemanha. O retorno definitivo ao país se deu há seis anos. "Comecei a sentir necessidade de voltar não porque consegui resolver as coisas que aconteceram comigo, mas porque comecei a entender que meu medo e insegurança, que trago até hoje, estavam relacionados ao que eu vivi aqui", ela contou.
Para Sueli, castigo nenhum aos golpistas e torturadores vai tirar dela a dor e o sofrimento sentidos ao longo da infância que não teve. "Numa primeira fase, a gente não quer falar sobre isso, quer esquecer. Depois, queremos lembrar para tentar entender o que aconteceu com nossos sentimentos. Aqui (na Comissão da Verdade) estou tendo a oportunidade de, pela primeira vez, falar com o coração sobre aquela época", resumiu.
Sueli Coqueiro tem 52 anos e atualmente mora em Brasília. (mlf)
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