Comissão da Verdade discute relações entre a Igreja Católica e a ditadura militar
20/09/2013 16:15 | Da Redação



A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), recebeu na manhã desta sexta-feira, 20/9, o escritor e jornalista Kenneth Serbin, autor do livro Diálogos na Sombra - Bispos e Militares.
O brasilianista pesquisou durante vários anos a formação do clero brasileiro e a atuação da igreja durante o regime militar. Kenneth morou no Rio de Janeiro de 1986 a 1991, sendo inclusive casado com uma brasileira e pai de uma menina também nascida no pais.
Ao relatar como começou seu interesse pelo tema, informou que em sua primeira viagem ao país, em 1986, tomou contato com uma realidade que se transformava com o fim da ditadura, a teologia da libertação e o desejo de assegurar a democracia. Isso fez com que mudasse sua linha de pesquisa anteriormente focada na realidade mexicana.
Fez diversas viagens pelo Brasil e entrevistou inúmeros religiosos, militantes e militares e em 1993 defendeu sua tese de doutorado sobre a igreja e seus protagonistas. Entre vários aspectos abordados, explicita o papel dos jovens seminaristas que tinham os mesmos anseios dos estudantes por liberdades democráticas nos anos 1960. Essa tese foi publicada no Brasil em 2008 com o título: Padres, Celibatos e Conflitos Sociais.
Durante o aprofundamento de sua pesquisa, tem acesso a documentos que estavam em poder do general Antonio Carlos da Silva Muricy e em outros acervos que só posteriormente vieram a público, inclusive as atas de 24 reuniões que ocorreram entre a cúpula da Igreja Católica e membros do alto comando militar, encontros que ocorreram secretamente durante o governo do presidente Médici (1969-1974). Esses novos estudos culminaram com a publicação do livro Diálogos na sombra " Bispos e Militares, Tortura e Justiça Social.
Mudança de atitude
O professor da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), relata que a igreja que no início apoiou o golpe militar foi alterando sua posição ao tomar conhecimento dos abusos praticados pelos militares. Durante as reuniões da Comissão Bipartite havia um jogo de convencimento dos militares que tentavam cooptar a igreja, mas os bispos cada vez mais traziam para mesa denúncias de torturas e mortes. Por meio desses diálogos algumas mortes foram evitadas e situações ocultas foram trazidas à luz, confrontando os militares.
Dom Paulo Evaristo Arns relatou à Folha de S. Paulo que começou a lutar pelos direitos humanos no Brasil justamente após conhecer o caso da freira Maurina Borges, que foi presa em 1969, em Ribeirão Preto, por subversão. Após a prisão, a igreja excomungou dois delegados, algo inédito no período.
Kenneth argumentou que a mudança de posição pública da igreja se tornou mais explícita não com a morte do jornalista Wladimir Herzog, em 1975, como muitos supõem, mas quando do assassinato do estudante da USP Alexandre Vannuchi Leme, ocorrida dois anos e meio antes.
Como fato marcante da mudança de posição pela Igreja Católica contra os desmandos da ditadura, relata a realização de uma missa de sétimo dia pela morte do estudante na Catedral da Sé, oficiada pelo então arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo.
Para o historiador, a igreja já havia começado a defender os direitos humanos antes, mas só o fazia através de documentos. Com a morte de Alexandre, a igreja torna explícita sua censura aos militares. Para Kenneth, a Igreja Católica tem importância histórica por ser a responsável pelo movimento dos direitos humanos no país.
Ainda sobre a Comissão Bipartite, acrescenta que as reuniões eram sistemáticas. De novembro de 1970 até agosto de 1974, esses bispos se reuniam a cada dois ou três meses no Rio de Janeiro com o general Muricy e outros militares. Do lado da igreja faziam parte Cândido Mendes, dom Eugênio, dom Aloísio e dom Ivo.
Defesa dos direitos humanos
No início, a pauta dos encontros era sobre as ações que deveriam ser tomadas para estabelecer uma colaboração entre a igreja e o Estado para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Em segundo lugar, discutiam casos específicos sobre atritos entre igreja e Estado. O terceiro aspecto diz respeito às discussões sobre os casos de direitos humanos.
O caso de Alexandre foi debatido nestes encontros com os bispos apontando contradições na história contada pelos militares de que o rapaz havia sido atropelado.
O corpo de Alexandre foi enterrado em Perus como indigente, embora os militares tivessem inclusive sua carteira de identidade em mãos.
Para o deputado Adriano Diogo, o relato de Kenneth se reveste de grande importância, pois traz mais luz a esse período obscuro de nossa história.
Ao encerrar o encontro, Diogo inquiriu o historiador sobre o fato de os militares até hoje resistirem a tornarem públicos documentos relativos as ações do Exército no período da ditadura.
Respondendo a indagação do parlamentar, afirmou que há um grande corporativismo nas forças armadas e uma certa leniência da sociedade brasileira com relação a apurar o seu passado. "Parece que as pessoas preferem evitar o conflito".
Kenneth encerrou sua participação destacando que os militantes de esquerda já pagaram o preço por suas ações contra o regime, com prisões, tortura e mortes, mas que nenhum militar até hoje foi condenado por atrocidades cometidas durante o período ditatorial. (PM)
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