Especial Getúlio Vargas - Agosto de 1954: 60 anos de uma tragédia brasileira
19/08/2014 13:29 | Antônio Sérgio Ribeiro*




Ao completar 60 anos dos fatos que culminaram com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, a Agência Assembleia e o Diário da Assembleia publicam, desde o dia 4/8/2014, uma série de textos que relatam a sequência dos eventos que ocorreram naqueles negros dias de agosto e que enlutaram o Brasil. Tentaremos narrar cronologicamente, seguindo a mesma data, porém seis décadas depois, esses acontecimentos tão marcantes para a história do nosso país.
Antônio Sérgio Ribeiro*
Segunda feira - 16 de agosto de 1954
O presidente Getúlio Vargas aceitou o pedido de exoneração do ministro da Aeronáutica. Desde o atentado, o brigadeiro Nero Moura (herói da Segunda Guerra Mundial, comandante do 1º Grupo de Aviação de Caça, O Senta Pua, que lutou na Itália), vinha sendo "fritado". Dias antes, já havia colocado seu cargo à disposição de Vargas. Atribuindo-se sua saída à intimidade com o mandatário da nação, de quem foi piloto durante o Estado Novo e grande amigo da família; em consequência, adquiriu um enorme desprestígio entre seus companheiros da FAB após a morte do major Vaz.
Um fato grave foi a realização da reunião, que o ministro da Guerra havia convocado, dias antes, em seu gabinete com seu colega da Marinha e os chefes do Estado Maior das três forças armadas. Quando o brigadeiro Ajalmar Mascarenhas, chefe da Aeronáutica, verificou a ausência do ministro de sua pasta, indagou a Zenóbio o porquê da exclusão de Nero Moura da reunião. Para a surpresa de todos, respondeu "que ele (Nero) estava demissionário, e por isso não havia sido convidado". Ao que o ministro da Marinha, Renato Guillobel, retrucou perguntando o porquê então da presença do general Juarez Távora e do brigadeiro Eduardo Gomes na reunião, se os dois não eram ministros nem chefes de Estado Maior...
Dias depois, no Palácio do Catete, durante audiência com o presidente Vargas, Nero citou o ocorrido e afirmou de maneira contundente: "ou o Zenóbio está traindo o senhor, ou é muito incapaz: ao invés de reunir os três ministros militares, está nos dividindo. Não me convoca e ainda diz que estou demissionário...Sabe que não vou topar nenhuma manobra e quer me tirar". Nero colocou o cargo à disposição do presidente. Ao descer a escada, cruzou com Zenóbio da Costa, que conversava com Alzira Vargas Peixoto, filha do presidente, e o inquiriu rispidamente sobre a sua exclusão da reunião no Ministério da Guerra. Zenóbio tentou se defender, mas Nero, exaltado, não permitiu contemporizações, chamando-o em alto e bom som de "mentiroso e traidor". A discussão tornou-se áspera, e só não terminou em vias de fato pela intervenção da própria Alzira e do ajudante de ordens do ministro da Aeronáutica, capitão aviador Nelson Gama e Souza. Naqueles tenebrosos dias o clima era esse.
As buscas
Com a saída de Nero, intensificou-se a busca a Climério e a Soares. Diligências continuavam em São João do Meriti (RJ) e Bragança Paulista (SP). De Monte Alegre, no Paraná, e São Borja, no Rio Grande do Sul, chegavam notícias não confirmadas de que os suspeitos haviam sido vistos. O comandante da 5ª Zona Aérea, sediada em Porto Alegre, proibiu voos particulares, com a intenção de tentar impedir que os fugitivos pudessem se locomover pelo Estado, caso lá estivessem.
Em audiência no gabinete presidencial, no Catete, pela primeira vez, o coronel Paulo Torres foi recebido por Getúlio, desde a sua posse como novo chefe de Polícia do Departamento Federal de Segurança Pública. A conferência foi prolongada e Torres expôs seu plano de ação à frente do DFSP.
No município de Belfort Roxo, um empregado do sítio de Climério confessou às autoridades policiais, em interrogatório, que havia levado seu patrão para a casa de sua mãe na localidade de Vilar dos Teles, no Estado do Rio. Ainda na manhã do dia 16/8, Climério foi visto em Tinguá, e uma vizinha informou que ele estava em um sítio de propriedade de um conhecido chamado Oscar, entre Tinguá e Xerém, na Serra do Couto, a cerca de 50 quilômetros do Rio de Janeiro. Recebida a informação, um destacamento foi formado para ir a seu encalço.
Repercussões na Câmara
Na Câmara Federal, o líder do governo, deputado Gustavo Capanema, na sessão da tarde, proferiu um longo discurso, diversas vezes aparteado, no qual se insurgiu contra os defensores da renúncia do presidente e em resposta ao discurso do líder da oposição, deputado Afonso Arinos, feito na sessão de 6/8.
O líder defendeu o general Caiado de Castro, acusado de ter auxiliado na fuga de Climério de Almeida, o que não era verdade, segundo palavras de Capanema. O chefe da Casa Militar fora "duramente colhido na sua inocência, na sua boa fé e na sua dignidade". Sobre a renúncia disse, acusando a UDN: "É do mesmo partido político que pretendia impedir sua posse com o célebre argumento da maioria absoluta; que quis tirá-lo do poder há pouco tempo com um impeachment tão mal coordenado. É um passo a mais da luta iniciada há cerca de quatro anos para tirar o presidente do governo à custa de qualquer esforço - pela instigação popular, ou da imprensa ou das Forças Armadas". Acrescentou ainda: "Nesse rumo há os setores: o golpista, o revolucionário, e o que quer resolver o problema pelas forças armadas. Podemos dizer que o líder desse setor é Carlos Lacerda".
Capanema afirmou que "as Forças Armadas já declararam que, conservando-se no propósito irredutível de encontrar a verdade e punir os criminosos, assegurarão a ordem constitucional, assegurarão o regime, respeitarão a Constituição". E finalizou: "Ora, respeitar a Constituição envolve respeito ao chefe do Poder Executivo. Se as Forças Armadas se comprometeram, unanimemente, a manter a Constituição, nesse compromisso está o de se conservarem fieis à autoridade do primeiro magistrado, confiantes na sua conduta, na sua dignidade e na sua autoridade".
No seu jornal Tribuna da Imprensa, Carlos Lacerda escreveu um editorial no qual concluiu: "Os chefes militares sabem o que fazem. Se não fazem, assumem, pela inércia, as suas responsabilidades perante o povo e diante da História, que é implacável no seu julgamento. Mas, por Deus, não se escondam atrás da Constituição. Esta não foi feita para justificar a complacência com o crime. Não se pode ao mesmo tempo servir a dois senhores: quem serve a Vargas não serve à Constituição".
*Antônio Sérgio Ribeiro é advogado, pesquisador e funcionário da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
Foto manchete do Diário de Caxias do Sul
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