"O que a Sabesp faz é trabalhar com um quadro extremamente pessimista", afirmou Jerson Kelman, presidente da Sabesp, ao explicar sobre o futuro que aguarda os 28 milhões de pessoas atendidas hoje pela empresa, que enfrentam, desde o ano passado, uma das piores crises de abastecimento de água. Ele participou da reunião da Comissão de Infraestrutura, ocorrida nesta quarta-feira, 10/6, atendendo a requerimento do presidente dessa Comissão, deputado Alencar Santana Braga (PT). Referindo-se ao crítico quadro de abastecimento de água do ano passado - o pior índice em 80 anos -, Kelman esclareceu que a Sabesp trabalha com duas hipóteses: chegar a 80% do que foi fornecido em 2014 e produzir água a partir das obras que estão sendo realizadas. Ele se referia à transferência de água de sistemas de distribuição - não de reservatórios -, ou seja, através da interligação de troncos de abastecimento. Dessa forma, a população que recebe água somente do sistema Cantareira, passaria a ser abastecida pelos outros sistemas também, como o Guarapiranga ou Tietê. Entretanto, descartou qualquer informação sobre a recomposição do sistema Cantareira nos próximos meses ou anos, sob a alegação de que não há dado científico em que possa se basear para tal certeza. Ao explicar as outras medidas que estão sendo adotadas pela Sabesp para tentar superar a crise de abastecimento, Kelman citou a utilização da reserva técnica do Cantareira, o desconto para quem economiza água e a tecnologia que permite o uso da válvula de redução de pressão. E declarou ser o rodízio o último recurso: "se eu puder não fazer, não faço". Para o presidente da Sabesp, a redução é preferível ao rodízio, devido ao risco de contaminação da água, por causa da infiltração do lençol freático nas tubulações de regiões mais baixas. Kelman argumentou que a Sabesp produz hoje 70 metros cúbicos - equivalente a 70 mil litros - de água potável por segundo. Na época mais grave da crise, no ano passado, chegou a reduzir em 30% essa produção "e a cidade não colapsou" por causa das medidas adotadas pela empresa, garantiu Kelman. Lugares altos prejudicados Questionado por deputados sobre se teria sido adotado o rodízio no ano passado, apesar das negativas do governo, Kelman respondeu que a eficácia da redução de pressão depende da região topográfica. Lugares mais altos estariam, portanto, prejudicados. Sobre as críticas a perdas de água, Kelman justificou que a mídia, de modo geral, tem feito comparações com metrópoles como Tókio, que levou 70 anos para chegar ao percentual da perda atual de 3%. "Depende do local e do preço da água; a nossa água é cara", disse Kelman, relatando que a perda física de água potável registrada pela Sabesp é de 19%; outros 9% correspondem a perdas provocadas por fraudes e "gatos". O total de perdas resultaria em 28%. Kelman reconheceu que a diminuição dessa perda está nos planos da empresa, bem como a utilização de água de reúso e a procura por água em mananciais. "Esta seca revelou que a região metropolitana de São Paulo tem de ter mais segurança hídrica", admitiu Kelman. Segundo ele, a disponibilidade hídrica per capita dessa região, com 20 milhões de habitantes, é inferior a do Estado do Piauí. "Por isso, temos de buscar água da bacia do Alto PCJ, formada pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí" Após a explanação do presidente da Sabesp, os deputados presentes - onze, entre membros da Comissão de Infraestrutura e interessados no assunto -, questionaram Kelman sobre a falta de planejamento do governo, que teria gerado a atual crise de abastecimento. Kelman respondeu que em dezembro de 2013, os técnicos não poderiam prever o que aconteceria em 2014: 0,004, quantidade baixíssima de água. "Seca excessivamente rara na bacia do PCJ", afirmou. Este fenômeno de seca, explicou, ocorreria a intervalos de 250 anos, chamado de recomeço pelos hidrólogos. Ele lembrou, entretanto, que 1953 foi o pior ano até 2014, quando houve essa "virulência da seca". Lucro da Sabesp para acionistas Todos os deputados presentes - Analice Fernandes, Ramalho da Construção, Carlão Pignatari e Cauê Macris (PSDB); Cezinha de Madureira (DEM): Marcos Neves (PV); Itamar Borges (PMDB); Fernando Cury e Davi Zaia (PPS); Gileno Gomes (PSL); Igor Soares (PTN); Luiz Fernando, Ana do Carmo, Márcia Lia, Marcos Martins, Geraldo Cruz e Professor Auriel (PT); Marta Costa (PSD); e Carlos Giannazi e Raul Marcelo (PSOL) - fizeram perguntas ao presidente da Sabesp. Os temas versaram sobre a entrada de águas do rio São Lourenço no sistema de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, a preservação de mananciais, a cobertura vegetal por eucaliptos - que consome três vezes mais água que a média mundial estipulada por pessoa -, o lucro da Sabesp que é distribuído entre os acionistas, os investimentos da empresa e a compensação ambiental. Além dessas questões, parlamentares do PT contestaram a não ocorrência de rodízio em algumas cidades do ABC paulista ou mesmo bairros da capital, citaram obras na Billings sem licenciamento e contratos emergenciais de R$ 70 milhões firmados pelo governo estadual sem licitação. Kelman não pôde responder a todas as questões e o presidente Alencar Santana solicitou que as perguntas fossem então enviadas por e-mail. Pauta Nessa mesma reunião, foram aprovados pareceres a quatro PLs, entre os quais o PL 1192/2014, de autoria do deputado Aldo Demarchi (DEM), que autoriza o Poder Executivo a criar e implantar programa de economia de água, através da colocação, substituição e adaptação de equipamentos para banheiro nas construções e reformas de prédios públicos. A íntegra das proposituras constantes da pauta da reunião e sua tramitação podem ser consultadas no Portal da Assembleia (al.sp.gov.br) no link Projetos. A pauta completa da reunião está no link Comissões.