Entrevista com o Coronel Camilo


04/05/2017 20:40 | Keiko Bailone - Foto: José Antonio Teixeira

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Segurança Pública e ênfase nos valores familiares, culturais e de cidadania. São essas as bandeiras de Álvaro Batista Camilo, o Coronel Camilo, estreante no Parlamento paulista em 2014, mas com bagagem política de quatro anos vividos na Câmara Municipal de São Paulo. Já ali se evidenciava sua preocupação com esses dois temas. Explicou que sempre trabalhou com segurança na ponta da linha e na causa. E uma das causas que influencia a segurança, ou a sensação de segurança, em sua visão, são a família, os valores de cidadania e cultura. "Esses valores mudam o comportamento das pessoas e contribuem para gerar mais segurança".

Internalização de valores

Para explicitar sua defesa do que chama de internalização de valores, Coronel Camilo faz menção à realidade de jovens que não estão acostumados a seguir regras. "No regime militar, estávamos muito à direita, mas depois fomos muito para a esquerda. Todo mundo acha que pode tudo e nós todos pagamos por isso. Por quê? Deixou de se trabalhar na internalização dos valores que têm de ser sempre relembrados na casa ou na escola.

Segundo o deputado, já quando trabalhava no centro da capital paulista como comandante geral, pode atestar o fomento da internalização de valores nas pessoas. "Através de palestras ou simples conversas, houve o despertar, como dizia Luther King, não do barulho dos mortos, mas do silêncio dos bons. A maioria da nossa sociedade não faria coisa errada se tivesse mais orientação", acentuou.

Para reafirmar sua defesa nesses dois temas, Coronel Camilo ativou duas frentes parlamentares no Legislativo paulista: a da Segurança e a da Família, Cidadania e Cultura. Na primeira, promove audiências públicas para criar medidas contra ataques a caixas eletrônicas, desordem urbana etc. Na Frente Parlamentar da Família realiza eventos que levem a sociedade a colaborar com o Poder Público. Outra proposta complementar a este tema é a da inclusão, em escolas públicas e até particulares, de um espaço para se discutir valores de cidadania.

A Lei dos Pancadões

Coronel Camilo trouxe para o âmbito estadual algumas de suas propostas aprovadas na Câmara Municipal. Um exemplo é a Lei dos Pancadões. Diferentemente da Lei do Silêncio ou Lei do Psiu, que funciona para estabelecimentos, a dos Pancadões surgiu para que a Polícia Militar pudesse atuar, com o respaldo da lei, em uma modalidade nova que ocorria a cada dia com mais frequência: o agrupamento de jovens nas ruas, ao som de músicas no volume máximo e ampliadas por altos falantes.

À época em que comandava a PM em São Paulo, ocorriam 400 pancadões por semana, contou. "Esses shows, não autorizados, invariavelmente terminavam em baderna, com distribuição de crack e outras drogas, sexo e bebida com menores". A polícia não podia agir, por falta de competência. Mas, a aprovação, pela Assembleia Legislativa, de um projeto de lei apresentado por Camilo e já sancionado e regulamentado pelo governo estadual, autorizou a polícia a agir administrativamente nesses casos. "Quero deixar claro que não sou contra qualquer gênero musical que toque nesses shows, seja funk, samba ou hip hop", acrescentou.

União das polícias civil e militar

Camilo opinou também sobre questões polêmicas como a união das polícias civil e militar e o número e homicídios cometidos por policiais militares no Estado de São Paulo. Sobre o primeiro assunto, o parlamentar disse ser possível a permanência das duas policias, desde que as duas funcionem. "A palavra chave é integração e não unificação. Não importa ter mais de uma polícia, mas polícia partida é muito ruim para a população", opinou.

Segundo ele, esta "polícia partida" só existe no Brasil, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Nem Portugal tem mais. A resistência à união existiria devido à briga pelo poder, frisou, lembrando que essa divisão é constitucional no país. Para Camilo, não existem soluções mágicas. As competências das polícias teriam que ser definidas. A polícia civil, mais competente para investigar, ficaria com os crimes mais graves, difíceis. A PM, por atuar no dia a dia, ficaria com o corriqueiro, ou seja, brigas de rua, pequenos tráficos. Não haveria como jogar a culpa no outro. Faria as duas policias competirem sadiamente. Camilo comentou que esse ponto de vista é defendido também pelo Instituto Sou da Paz.

Indagado se São Paulo tem a polícia que mais mata, Coronel Camilo respondeu que "estão comparando banana com laranja". Teria que se levar em conta vários fatores: cultura, agressividade do crime, quantos policiais morrem. "Claro que em números absolutos é bastante. Mas, não posso comparar a polícia de São Paulo com a da Suiça ou a do Japão. Nem com a de outros Estados. A policia de SP mata bastante porque a população é muito grande. Mas se compararmos o número de mortos por cem mil habitantes, estamos melhores que muitas cidades norte"americanas", afirmou.

Para Camilo, a polícia de São Paulo é a melhor do Brasil. Diz que fala isso com muito conhecimento, pois presidiu conselhos de comandantes gerais de 2010 até 2012. "São 160 mil ligações para o 190. Desse total, 10% é atendido por uma viatura e 99% dá certo. Um por cento dá errado e sai na mídia", queixa-se. Acrescentou que teria de comparar também quantos policiais morrem a serviço. Mostrando dados estatísticos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de 2015, - 45 por cem mil habitantes " informou que o policial em São Paulo tem seis vezes mais risco de morte que a população - 8,5 homicídios por cem mil habitantes -.

Mudanças na Ouvidoria

Por fim, Camilo se manifestou sobre o PLC 21/2016, de sua autoria. Na Ordem do Dia, esta proposta transfere a montagem da lista tríplice para o cargo de ouvidor para a Secretaria da Justiça, com indicações de vários órgãos ligados aos Direitos Humanos e não somente ao Condepe.

"Quero a democratização dessa lista e não o monopólio do Condepe", reiterou. Bate forte nesse ponto e diz que não pretende tirar a competência da Ouvidoria. "Sou extremamente a favor desse cargo, mas quero pessoas que funcionem. Que escutem, mandem investigar, tomem providências antes de divulgar os casos para o público", defende.

No entender de Camilo, quando o ouvidor traz à tona, de forma precipitada, um fato envolvendo o policial, coloca a população contra a polícia. E incentiva a população a não denunciar, não comunicar, não fazer boletins. "E a polícia sem informação sobre o crime não tem como prevenir".

A carreira militar

Coronel Camilo confessou que sempre quis ser militar. Seu pai era sargento e o avô cabo. Entrou na escola da PM aos 17 anos, incentivado por seu pai. Chegou ao posto de Coronel, trabalhando com planejamento, inteligência. Em 2007, já coronel, poderia se aposentar, mas escolheu trabalhar no Centro de São Paulo. Queria mudar a cara da região. "O Centro de São Paulo era muito conturbado. Tinha caçamba, lixo, camelôs. Havia muita ocorrência. Desenvolvi um projeto de dois anos, para enfrentamento da desordem e deu certo", lembrou. Para esse trabalho, precisava da ajuda da prefeitura, porque a prevenção primária é responsabilidade dos municípios. Conheceu o então prefeito Gilberto Kassab.

Em março de 2009, foi convidado para assumir o posto de comandante geral. Criou a polícia comunitária, a operação delegada. Ficou nesse cargo três anos. Nesse posto frequentava a Assembleia Legislativa, a Câmara Municipal. O fato de estar sempre na mídia acabou por facilitar sua candidatura a uma vaga na Câmara Municipal, pelo partido de Kassab, o PSD.

Ainda no Legislativo municipal, Camilo estava disposto a, no pleito seguinte, concorrer a um assento na Assembleia Legislativa. "Eu tinha esse objetivo porque a área que domino é segurança pública e este assunto é de competência do Estado", justificou.

Sobre sua atuação no Parlamento, Camilo definiu-a como um exercício diário de negociação. Seja no colégio de Líderes ou com os parlamentares de outros partidos. "Acho importante conversar com as pessoas, chegar a um consenso". Venho de um mundo muito cartesiano.

alesp