FuncionAL - Com vocês, Zé


Ainda criança, José Antonio Teixeira já acompanhava com atenção o hobby predileto de seu pai, José Manoel. "Ele gostava muito de fotografar, e tinha uma misteriosa máquina fotográfica Kapsa 6x6. Depois, em 1972, comprou uma Olympus Trip 35. O melhor de tudo era que, mesmo sob muitas recomendações, ele me emprestava a câmera quando eu ia fazer algum passeio", lembra.
As aventuras imaginárias da infância eram inspiradas nos personagens dos filmes americanos. "Eu achava o máximo os caras mal-humorados que ficavam na porta dos tribunais, de chapéu, charuto no canto da boca, fotografando os mafiosos."
Zé, como é carinhosamente chamado pelos colegas, assumiu a carreira pública por meio de concurso em 1983, e começou, aos 20 anos, trabalhando no setor administrativo da Alesp. "A burocracia não é pra mim, era muito maçante. Então fiquei muito contente quando dali a 3 anos fui convidado pelo saudoso Dib Consul - por sinal, excelente fotógrafo - para trabalhar na Fotomicrografia, onde à época ficávamos lotados." A partir daquele momento, Zé fazia parte da equipe de fotografia da Assembleia.
São 35 anos de Alesp, e foram muitos os eventos e momentos históricos que ele viu acontecer através das suas lentes. A responsabilidade de fazer parte da equipe que estampava as manchetes dos veículos de comunicação do maior parlamento estadual da América Latina tinha seu bônus, mas também trazia exigências. "Muitas vezes as fotos eram difíceis: o segurança não te deixava entrar, ou era externa e chovia, ou a pessoa não queria aparecer e dificultava o registro escondendo o rosto." Ele lembra que, em outras vezes, aparecia alguém na sua frente fotografando com um tablet. "Nem sempre era simples, mas para tudo havia um jeito. O importante era ter paciência e às vezes capa de chuva também [risos]."
Questionado se o maior desafio seria fotografar por mais de 30 anos, diariamente, os mesmo espaços em uma rotina talvez entediante, Zé discordou. "Estamos em uma Casa legislativa que segue protocolos e formas nos acontecimentos, mas isso não significa que haja repetição. O segredo é focar nas pessoas, porque é nelas que está o dinamismo; isso é captado através do humor, dos gestos, das expressões."
Em 1991, ele testemunhou um fato histórico que o marcou profundamente - a visita do Prêmio Nobel da Paz e ex-presidente sul-africano Nelson Mandela à Alesp. "Ele tinha acabado de ser libertado do cárcere e na época eu tinha 28 anos. Olhei pra ele e, diante daquele ícone, pensei: esse homem esteve preso desde que eu nasci. Isso não é possível, já fiz tanta coisa. Foi impactante, fiquei muito emocionado!"
Sobre momentos difíceis da profissão, ele lembra quando teve de acompanhar a visita da Comissão de Segurança Pública da Alesp a presídios da capital paulista. "Foi muito deprimente, as cadeias super lotadas, pátios degradados. É difícil e triste ver outros seres humanos naquela situação."
O velório de Ayrton Senna também foi algo que o marcou. "No dia eu não estava escalado para trabalhar, mas registrei toda aquela tristeza."
Tecnologia
Os fotógrafos tiveram de se adaptar às novas tecnologias, e as câmeras digitais viraram febre a partir dos anos 2000. Hoje as imagens são feitas com qualquer telefone celular, mas a transição não foi simples.
"A fase analógica era mais romântica. Não que eu não curta atualmente, mas se tivesse de escolher, por conta da qualidade e do fluxo das coisas, optaria pelo método antigo. Ainda assim, é inegável que a modernidade facilitou muito a vida do fotógrafo", diz, nostálgico.
Terminava um ciclo em que era necessário ir até o laboratório para imprimir as fotos, e iniciava-se um novo, em que as pessoas podiam vê-las imediatamente após serem feitas, no visor da câmera.
"Quando tive acesso às primeiras câmeras digitais, percebi que automaticamente deixava para trás toda uma forma de fazer fotografia, como o processo de revelação dos antigos filmes."
Ele fala de sua resistência quando os equipamentos digitais chegaram à Alesp, porque as câmeras usavam disquetes, ou seja, tinham uma capacidade pequena de armazenamento, e pior: as fotos eram de baixa qualidade. "Na minha cabeça, toda aquela tecnologia estava fadada ao fracasso."
Mas, contrariando as expectativas de Zé, o mundo digital avançou. "Aconteceu que a cada ano a coisa foi melhorando. Aqui na Alesp, as câmeras foram sendo trocadas gradualmente. Paralelamente, fomos fazendo cursos e oficinas de atualização e aprimoramento." Um dos cursos de que mais gostou foi ministrado por Tony Pires (ex-editor da Folha de São Paulo). "Mas seria injusto não citar outras inúmeras oficinas que fiz e que aprimoraram a minha técnica."
Sobre o ritmo da produção atual e o descarte de imagens trazidos pela tecnologia, ele faz ressalvas. "Sou do tempo do daguerreótipo (antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre). Acho que ter uma foto instantânea é bom, mas é como comer uma coisa que não se sabe do que é feita", compara. "A internet criou uma prole de deslumbrados. A pessoa vê vídeos no Youtube e já se acha fotógrafo, músico, chefe de cozinha, astronauta... Então, o que eu digo é: aprendam a técnica, esqueçam a técnica. E leiam. Leiam! Vai ajudar a enxergar melhor."
Para quem se interessa por fotojornalismo, ele indica o livro Diante da Dor dos Outros, de Susan Sontag, lançado pela editora Companhia das letras. "Fala sobre ética da profissão, o que acho muito pertinente nos tempos de hoje."
Arte
Fora dos portões da Alesp, Zé já protagonizou a exposição "Viva São Benedito: Congadas", composta por 12 fotografias sobre uma das mais conhecidas manifestações religiosas da cultura popular brasileira, e que percorreu unidades do Serviço Social da Indústria (Sesi), no interior de São Paulo.
As congadas são manifestações culturais de interesse especial para Zé. Ele passou quase 5 anos viajando por cidades do Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais participando dessas comemorações. A festa envolve canto, dança, teatro e espiritualidades cristã e de matriz africana. "Desde as minhas primeiras incursões nesse mundo, já tinha o objetivo bem definido de transformar toda aquela beleza em uma exposição fotográfica."
Zé recorda que foi nessas viagens e na companhia de um amigo, também fotógrafo, que se viu totalmente envolvido por estar registrando tudo. "Eu nunca tinha acordado às seis da manhã para tomar uma pinga [risos] e lá eu vivi isso. E fotografei uma senhora no momento em que fazia a mesma coisa, afinal, era parte do ritual. Essa é uma das minhas fotos prediletas. Aliás, todas as fotos fruto das congadas são especiais para mim".
Outras exposições exibiram imagens de Cuba, Paris, Argentina, Peru, Marajó - revelando que viajar também é uma paixão do artista.
Seja em trabalhos artísticos ou de fotojornalismo, a empolgação de Zé é sempre a mesma. "Não importa se você está nas Bahamas ou numa usina de compostagem, acredito que a foto pode revelar o sentimento do autor ou exatamente a história que você precisa contar para o público."
Como referência, ele lembra com carinho uma foto do jornalista francês Gilles Peress, feita em 1979, durante a Revolução do Irã. "A imagem é um verdadeiro choque. Um primor de técnica, de informação, de composição e beleza. Eu diria tratar-se um fotojornalismo artístico - e é por essa pegada que tento humildemente andar", confessa. A foto citada trata-se de um momento em que o autor registrou vários planos de uma situação dinâmica, com diversos componentes sociais e políticos, e pode ser acessada por meio do endereço magnumphotos.com/newsroom/conflict/telex-iran-in-the-name-of-revolution.
Infelizmente não falta muito tempo para a aposentadoria de Zé, e suas expectativas são simples e poéticas - como as de muitos outros artistas. "Meus planos são viajar, passear, fotografar e criar galinha. Vou terminar de viver a vida, nada muito luxuoso", encerra.
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