Parlamentares da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Cavas Subaquáticas ouviram, nesta quarta-feira (8/12), a presidente da Colônia Pescadores Z4, de São Vicente, Maria Aparecida Nobre da Silva, sobre a Cava Subaquática do Casqueiro (CAD).

Maria Aparecida afirmou que o trecho do canal de Piaçaguera está se recuperando da construção da cava, que realizou uma limpeza na região. Ela disse também que em 2015 todas as colônias que estão dentro do estuário com pescadores atuantes foram convocadas para uma reunião.

"No encontro, as empresas responsáveis pela abertura da cava afirmaram que os navios com calado profundo estavam retirando os sedimentos tóxicos do Canal de Piaçaguera, que acabava chegando nas redes dos pescadores", afirmou.

A presidente também disse que os pescadores da região tiveram todas as informações sobre a necessidade do empreendimento. "Nós recebemos todas as orientações e fomos informados desde o início que a construção da cava era premente, porque o projeto vinha ao encontro de uma limpeza no estuário, que se fazia necessária há muitos anos", afirmou Maria Aparecida.

Ela também ressaltou que cursos para os pescadores e para suas famílias foram disponibilizados. "Esses cursos ajudaram demais os pescadores, porque com eles as pessoas conseguiram se especializar e até fazer uma renda extra", disse.

Em novembro, uma outra representante de pescadores criticou a obra. Marly Vicente, do Instituto Sócio Ambiental e Cultural da Vila dos Pescadores (Isac), falou à CPI no dia 17 de novembro sobre os prejuízos da cava. "Em alguns momentos eu fico indignada, porque falam nesse projeto como se fosse uma maravilha. Na prática, não é nada disso. A cava foi construída em um dos locais onde os pescadores mais pescavam. Por isso, para nós a cava foi uma verdadeira agressão ao meio ambiente", afirmou, à época.

Na reunião desta quarta-feira, também houve a aprovação de três requerimentos. Os parlamentares deram aval a convites para o pesquisador Jeffer Castelo Branco, o consultor portuário Antônio Bernardo Neto e a diretora-presidente da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), Patrícia Faga Iglecias Lemos, para dar informações à comissão. A próxima reunião da CPI das Cavas Subaquáticas está marcada para quarta-feira, dia 15 de dezembro, às 10h.



O que é uma cava subaquática?

Cava subaquática é uma cratera aberta debaixo da água para despejo de sedimentos, lixo e materiais contaminados. A cava feita no estuário entre Santos e Cubatão é maior que o estádio do Maracanã, com dimensões de 400 metros de diâmetro por 25 metros de profundidade, e está preenchida por cerca de 2,4 bilhões de litros de sedimentos.



Cava Subaquática do Casqueiro

A cava foi aberta entre Santos e Cubatão e escavada sob responsabilidade da Usiminas e da VLI, empresa de logística da Vale, em 2017 para despejo de material retirado durante a dragagem (desassoreamento do fundo de canais) do canal de Piaçaguera.

Entretanto, antes da década de 70 não existiam políticas de prevenção aos dejetos altamente contaminados por metais pesados que circulavam pela região, o que perpetuou a concentração desses sedimentos no fundo do estuário durante as décadas de 60 e 70.

Esse processo ocorreu devido às atividades industriais que estavam mais afastadas da costa, sendo o canal de Piaçaguera aberto para possibilitar a navegação das embarcações que levavam matéria-prima à Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), por exemplo, e que voltavam à costa com material acabado.