Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, foi um homem negro, cabo do Primeiro Batalhão de Caçadores de Santos, no período do Império português no Brasil. Após participar de uma revolta por remunerações atrasadas e igualdade de valores no pagamento para militares brasileiros e portugueses, ele foi preso e condenado à forca. Em 1821, em praça pública, no local atualmente conhecido como bairro da Liberdade, foram três tentativas fracassadas de cumprir a sentença. O povo reagiu aos gritos de "milagre" e passou a pedir a liberdade do condenado, seguindo um costume da época. Mas não houve chance para Chaguinhas, que acabou morto a pauladas. Nascia ali um santo popular, que séculos depois segue cultuado como "Protetor dos Excluídos".

Uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, nesta quinta-feira (5), sob a coordenação da deputada Leci Brandão (PCdoB) e participação dos colegas Reis e Eduardo Suplicy, ambos do PT, serviu para reforçar a necessidade de preservação desta história como patrimônio cultural imaterial da Capital paulista. Além disso, os participantes também ressaltaram a necessidade de uma maior atenção à Capela Nossa Senhora dos Aflitos, localizada no próprio bairro da Liberdade, em São Paulo. O local é um marco da cultura negra brasileira. O espaço, que tem 244 anos de existência, espera por restauro há pelo menos três décadas e está muito degradado.

Lutar e preservar

"Tudo o que a gente tem feito desde que chegou na Alesp foi sempre voltado para as questões sociais; das mulheres, negros, quilombolas e indígenas. Essa questão da Capela dos Aflitos, para que ela não seja destruída, é a nossa obrigação trabalhar pela causa", afirmou a deputada Leci. "Abrir caminhos para que a cultura negra não seja devastada é o nosso papel. Temos muitas coisas para lutar e preservar. As pautas em relação à defesa do povo, da cultura e religiosidade negras são muito amplas e há muito ainda o que fazer. Isso porque, infelizmente, ainda temos questões racistas no dia a dia do Brasil", lamentou a parlamentar.

O colega Reis reforçou que a defesa da cultura negra em São Paulo é um trabalho conjunto, que vem conseguindo resgatar muito dessa história. "Foi algo que se tentou apagar durante muito tempo. Nós estamos sempre trabalhando no combate ao racismo e pelo resgate da cultura do povo negro", disse ele.

Quando era vereador da Capital, Reis aprovou a Lei nº 17.310, de 28 de janeiro de 2020, que dispõe sobre a criação de um Memorial, também na Liberdade. A área ao lado da Capela Nossa Senhora dos Aflitos vai receber uma estrutura onde a população terá a chance de conhecer muito do legado negro na construção da cidade. Ali, em 2018, foram encontradas nove ossadas naquele que é considerado um dos primeiros cemitérios da Capital. "O Centro da cidade tem vários marcos que a população desconhece", confirmou o deputado.

Triste

Uma das participantes da audiência pública, a artesã Eliz Alves, que faz parte da União dos Amigos da Capela dos Aflitos (Unanca), enalteceu o apoio da Alesp para esse resgate histórico. "A Capela dos Aflitos é um patrimônio de 244 anos e ela conta uma história muita triste da nossa cidade, que sofre um profundo processo de apagamento. Não há interesse em contar aquilo que não foi bonito", criticou. "Estamos aqui falando de preservação de patrimônio e também em nome de Chaguinhas. São páginas importantes de nossa história", afirmou.