ARTIGO - Marielle: renascendo entre as pedras
07/05/2024 15:33 | Atividade Parlamentar | Da Assessoria da deputada Ana Perugini

"Se eu não falo as pedras falarão" (Lucas 19,40)
Preciso falar para não morrer. O calendário de 2024 nos recorda que há 60 anos houve um golpe. Um golpe assimilado forçadamente pela nossa história e que continua reproduzindo o autoritarismo e, por isso, temos golpes constantes na vida política brasileira e na vida das pessoas, como o que aconteceu com Marielle há exatos seis anos. Feito indecifrável para o Estado, se tornou um "caso".
No caso Marielle Franco, somente a federalização das investigações, sob um governo democrático, trouxe um resultado efetivo. Uma exceção, pois até então, a regra geral era a manipulação para camuflar a aspiração de uma justiça verdadeira.
Como foi manipulado? Não dando luz à história, contexto e aos fatos e não registrando os dados, as imagens... um paradigma ainda presente nas instituições e no modus operandi atual.
O assassinato de 14 de março de 2018, por si só, não era suficiente. Seria necessário violentar e tripudiar o seu significado, a vida de Marielle e as suas lutas: contra o racismo, o sexismo, a injustiça social e contra a captura do Estado pelo crime organizado. Deste modo, ocorreu a solene quebra da placa de homenagem a Marielle, colocada no local da sua morte. Os feitores foram prontamente defendidos pelo Senador Flávio.
Por que quebrar uma placa? Era necessário violentar o símbolo. Era necessário quebrar a referência civilizatória de direitos, transpor o Estado de Direito e abrir espaço ao projeto de destruição das instituições. Este fato, portanto, simboliza o reinício do obscurantismo e de cegueira. Cegueira que na compreensão de José Saramago não é escuridão, mas a claridão, aquela que ofusca o conhecimento do real.
Como destruir as instituições? O governador eleito do Rio de janeiro, ex-juiz federal que protagonizou o famoso "tiro na cabecinha", participava do episódio emblemático da quebra de placa. A destruição de uma instituição ocorre internamente, pelo corte do orçamento, não renovação de quadros ou ainda pelo desvio de função da organização, de protetora dos direitos para o descaso ou aniquilação. Na Segurança Pública, a Doutrina de Segurança Nacional de 1968 ainda permanece de forma subterrânea na vida da política brasileira. Esta doutrina tem como objetivo principal identificar e eliminar os "inimigos internos", ou seja, todos aqueles que questionam e criticam o poder estabelecido.
A coordenadora da ONG Rio de Paz, Fernanda Vallin Martos, afirma que há uma ligação histórica entre política, polícia e crime no Estado do Rio. A infiltração das milícias no poder público acontece há mais de 30 anos e conclui a ativista que 57% do território é dominado hoje pelas milícias.
As milícias que escolheram Marielle como "inimiga interna", também escolheram a juíza Patrícia Aciolli, a promotora Tania Maria Alves e outras lideranças populares.
Assim como para Fernanda Vallin, para o sociólogo e pró-reitor da UFRRJ José Claudio Alves, a milícia não é um poder paralelo, mas é o Estado. A milícia disputa a exploração dos trabalhadores, administra territórios e as eleições.
Sintomática a linha do tempo: em 2016, o golpe parlamentar contra Dilma, em 2017 a fatura, a Ponte para o Futuro, com a assunção das pautas neoliberais e em 2018 a ocupação da parte pobre do Rio de Janeiro via Garantia da Lei e da Ordem. Neste ano, Bolsonaro venceria em 90% das áreas dominadas pelas milícias no Rio de Janeiro.
Em breve, tolerar a violência cotidiana e a truculência por parte dos milicianos e, de forma dissimulada, pelo Estado é uma contradição solar com a Democracia. Trata-se de uma nova onda de banalização do mal. Recordamos que Hanna Arendt, ao investigar os julgamentos dos nazistas da Segunda Guerra, afirmava que o mal não vem de figuras mitológicas, mas de figuras banais e até medíocres. O caso Marielle traz à luz não somente aos executores da sua morte, mas elucida que as instituições estão contaminadas, o Estado está encapado pelo crime organizado e até mesmo por medíocres.
É esta "paz" dos cemitérios e das urnas que desejamos para o Estado de São Paulo?
Se por um lado estes acontecimentos nos questionam profundamente, por outro lado uma indagação se faz necessária. Por que Marielle Franco sacrificou a sua vida? Sua denúncia contra as organizações criminais e o combate as milícias que agiam nas comunidades dos pretos e pobres serviram como sua sentença de morte. O que a moveu continuar lutando?
Busco respostas. Um dos maiores escritores do século 20, Willian Faulkner, no dia 10 de novembro de 1950, quando recebia o Premio Nobel disse:
"Considero que o homem não só haverá de resistir, mas também de prevalecer. E é imortal não por ser o único entre os animais que está dotado de uma voz inesquecível, mas pelo fato de possuir uma alma, um espírito capaz de compaixão, sacrifício e resistência. "
As pedras gritarão se não soltarmos a voz e se não falarmos do humano que existe em nós.
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