Ausência de motivação sugere fundo político em exonerações na Seduc

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27/09/2024 17:14 | Atividade Parlamentar | Da assessoria do deputado Carlos Giannazi

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Audiência Pública promovida por Carlos Giannazi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2024/fg335883.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Membros das comunidades da EE Zacarias Antônio da Silva, no município de Cotia (Vinculada à Diretoria de Ensino de Carapicuíba), e da EE Professor Dr. Décio Ferraz Alvim, na Vila Ester (DE Leste 3), foram recebidos por Carlos Giannazi (PSOL) na quarta-feira, 25/9, na Assembleia Legislativa, para participarem de audiência pública. Em comum, as duas comunidades viram dirigentes competentes, engajados e queridos por todos sendo destituídos de seus cargos por motivos políticos, ainda que formalmente não tenham sido essas as justificativas das exonerações.

Fumaça

Independentemente de qualquer viés político que se possa dar aos incêndios florestais que atingiram recordes neste mês de setembro, o fato é que, nos dias 11 e 12/9 (quarta e quinta-feira), a fumaça e a fuligem dos incêndios na região estavam entrando dentro da escola e comprometendo a saúde dos alunos, dos professores e dos funcionários. Nesse contexto, a diretora Iris Reis, em uma atitude sensata, dispensou os alunos e os professores nas últimas aulas do período noturno durante esses dois dias de fumaça mais intensa.

Na segunda-feira seguinte veio a notícia da exoneração da diretora, que estaria sendo afastada sob a justificativa de não ter comunicado previamente a diretoria de ensino sobre o fechamento da escola, mesmo os fatos tendo ocorrido por volta das 22h, fora do horário de expediente da burocracia estatal. "O diretor de escola possui independência para esse tipo de ato, pois goza de autonomia administrativa e pedagógica. A professora Iris deveria, sim, ser homenageada por ter defendido a saúde dos alunos e dos trabalhadores. Por isso, nós estamos pedindo a sua imediata reintegração e que o dirigente de ensino de Carapicuíba, esse sim, seja exonerado do cargo", asseverou Carlos Giannazi.

Fechamento de turmas

Se o crime da professora Iris foi o de ter, por dois dias, encerrado as aulas mais cedo, o pecado mortal em que incorreu Vandrigo Magalhães foi o de lutar para que as turmas do período noturno continuassem abertas na EE Décio Alvim, incluindo as de Educação de Jovens e Adultos (EJA). O fechamento de turmas é especialmente grave porque a escola fica a poucos metros de um ponto de ônibus na avenida Sapopemba, o que faz dela uma das poucas opções viáveis para os estudantes trabalhadores.

A aluna Vitória participou do movimento de alunos que indagou à diretora Lilian Damasceno o motivo da exoneração. "Os alunos estavam pacificamente no pátio, esperando um posicionamento da diretora, mas ela se trancou em sua sala e chamou a polícia. Os alunos foram expulsos da escola pela Força Tática. Houve pessoas apanhando na rua, inclusive uma moça grávida", relatou. Somente depois da intervenção policial, a diretora aceitou receber uma comissão de no máximo três alunas para quem explicou o motivo da exoneração de Vandrigo do cargo de coordenador. Na semana anterior ele teria atrasado por 25 minutos uma reunião de professores ao permitir a fala de representantes sindicais, como se o cerne da questão fosse o atraso, e não a presença dos sindicatos.

"É inconcebível que uma diretora de escola chame a polícia contra seus próprios alunos", afirmou Carlos Giannazi, remetendo o fato não só às amargas memórias da ditadura empresarial-militar, mas também à ameaça das escolas cívico-militares que só não estão sendo implantadas no Estado por causa da ADI 7662, impetrada pelo PSOL e ainda em julgamento no STF. "Nós já pedimos explicações ao Comando-Geral da Polícia Militar para que eles expliquem por escrito esse comportamento. Eles não poderiam entrar dentro da escola e reprimir os alunos. Isso é um absurdo e eles terão de dar explicações", disse o parlamentar, que também oficiará ao Ministério Público Estadual, à Defensoria Pública e ao Tribunal de Contas do Estado.

Rede municipal

Manifestando seu apoio aos professores Iris e Vandrigo, o vereador Celso Giannazi (PSOL) falou da sincronia no movimento de destruição que ocorre nas duas redes de ensino. Na rede municipal, a modalidade EJA também está em processo de fechamento de salas, e o objetivo do prefeito é manter a modalidade funcionando em uma única escola a cada diretoria regional de ensino, ou seja, apenas 13 em toda a cidade.

"Dar acesso à educação não é isso. A gente sabe como é difícil para o aluno da EJA voltar a estudar, ele não vai, depois do trabalho, se deslocar 3, 4 ou 5 quilômetros longe da sua residência. Por isso precisa de uma escola próximo da sua casa ou do seu trabalho. Por outro lado, nós vemos tantos professores e diretores em uma luta constante, na busca ativa de pessoas que querem voltar a estudar para lhes oferecer essa oportunidade. É isso o que fazem os profissionais da educação", comparou o parlamentar. Celso disse ainda que é obrigação das escolas manterem salas abertas, não importando se há 10, 15 ou 20 alunos matriculados. "O direito à educação tem de ser preservado acima de tudo", observou.

EE Roberto Corte Real

Também em Cotia, a EE Jornalista Roberto Corte Real passa por um problema existencial. Ou seja, a intenção da Seduc é que ela deixe de existir enquanto escola e passe a ser um polo de Ceeja (Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos), a versão de ensino a distância que o governo estadual quer emplacar em substituição ao atual modelo presencial de EJA.

A ideia da Seduc é que a totalidade de seus alunos seja transferida para a EE Professora Antonieta di Lascio Ozeki, distante cerca de 700 metros. O problema é que o Corte Real é uma escola regular e a Antonieta é PEI. Assim, os alunos que não puderem se adaptar à nova rotina terão de buscar, por meios próprios, outra escola com horário compatível.

Aliás, essa foi a solução apresentada também aos professores do Corte Real. "São profissionais que estão nessa escola há mais de 10 anos e estão sendo deixados à própria sorte. Eles têm de ficar ligando de escola em escola à procura de vaga. É uma situação muito chata", afirmou Rodolfo Saraiva, que leciona no Antonieta e é dirigente da Apeoesp.


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