Nas diferentes regiões do estado, Carnaval de rua aproxima e enriquece com arte e cultura
04/03/2025 08:00 | Blocos de Rua | Matheus Batista - Fotos: Frâncio de Holanda/Urso Guaru-Yá/Nem Sangue Nem Areia







Uma das datas mais esperadas pelo brasileiro é, sem dúvidas, o Carnaval. É época de encher a cidade de cores, sons e alegria. Colocar o bloco na rua. Em São Paulo, essa tradição é centenária, já superou desafios para seguir em pé e, hoje, segue se fortalecendo como nunca.
Em diferentes regiões do estado, blocos carnavalescos, cada um à sua maneira, buscam ocupar as ruas com música e cultura, mostrando o que São Paulo e o Brasil têm de melhor.
Neste Carnaval, a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, que tornou patrimônio cultural imaterial o samba e os desfiles carnavalescos, enaltece a força dos blocos de rua para a construção de comunidades unidas, a valorização cultural local e o resgate histórico.
Nem Sangue Nem Areia
Criado em 1946, no bairro Vila Industrial, um dos mais antigos de Campinas, famoso por seu passado operário, o bloco Nem Sangue Nem Areia é um retrato da história dos blocos de rua de São Paulo. Com idas e vindas que contam um pouco da memória do Carnaval no estado, o cordão propõe a preservação da herança do bairro histórico.
O primeiro grupo carnavalesco da história de São Paulo surgiu em 1914 e sua criação marca também o início do Carnaval de rua no estado. O grupo Cordão Barra Funda, que saía pelas ruas da Capital, mais tarde ficaria conhecido como Camisa Verde Branco, uma das maiores escolas de samba de São Paulo.
Nos anos seguintes, o que se viu foi uma explosão do samba no país e o crescimento de cordões de rua em diferentes regiões. É quando surge o bloco Nem Sangue Nem Areia, em Campinas.
"A história do bloco tem a ver com o filme Sangue e Areia, que fez muito sucesso no mundo todo, com Tyrone Power como um toureiro. Na Vila Industrial, um bairro operário da cidade, a comunidade se reuniu e criou o bloco, como uma paródia ao filme e tendo o boi como símbolo", conta o coordenador do bloco, Roberto Cardinalli.
Assim como o primeiro bloco de São Paulo, o Nem Sangue Nem Areia passou a chamar a atenção da elite do estado, que investiu na profissionalização dos blocos e na fundação de escolas de samba, levando a festa das ruas para os salões.
Em 1976, a então escola de samba resolveu encerrar suas atividades. Foi só em 2009 que jornalistas de Campinas, em uma roda de conversa em um bar, decidiram criar um bloco e recuperar a tradição carnavalesca na cidade.
"Somos jornalistas, a gente sabe escrever, editar, mas a gente não sabe fazer bloco. Nessa roda de conversa tinha um músico, antigo morador da Vila Industrial que, com 10 anos, saía na antiga formação do Nem Sangue Nem Areia e topou nos ajudar a recriar o bloco", conta Cardinalli. O músico em questão era Elder Bittencourt, já falecido, hoje patrono do atual Nem Sangue Nem Areia, e responsável pelo resgate da história do bloco em Campinas.
O primeiro desfile dessa retomada aconteceu ainda em 2009. Mesmo com os desafios da organização de um bloco de foliões de primeira viagem, o Nem Sangue Nem Areia se manteve e hoje, 16 anos depois, é um dos mais antigos em atividade na cidade e desfila anualmente por entre ruas e prédios históricos de Campinas.
"Estamos sempre retratando a Vila Industrial como o ponto alto do Nem Sangue Nem Areia. Há 15 anos, os blocos não estavam mais tão em alta em Campinas. A gente viu um crescimento e hoje temos muitos blocos novos na cidade. No nosso, mantemos essa tradição e vínculo com a identidade do bairro", afirma Cardinalli.
Acadêmicos do Baixo Augusta
Expoente dessa nova fase do Carnaval em São Paulo, com cada vez mais blocos e com público avassalador, o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta sabe como ninguém como ocupar as ruas.
Fundado em 2009, o bloco é hoje um dos maiores do país e símbolo do Carnaval paulistano. O grupo carrega o nome da região por onde desfila, no centro da cidade, e no último desfile, durante o chamado pré-Carnaval de São Paulo, reuniu mais de um milhão de pessoas nas ruas, de acordo com a organização do bloco.
"O bloco surgiu com uma turma de amigos que frequentava a região, falava da região. A gente observava a rua lotada de carros e as calçadas lotadas de pessoas e imaginava que seria possível ocupá-las com cultura e com arte", relembra um dos fundadores e atual presidente do bloco, Alê Youssef.
O bloco surgiu na primeira década dos anos 2000, em um momento em que, em diferentes lugares, o Carnaval de rua voltava com força para as cidades, resgatando o que havia sido no início do século passado.
"Quando a gente começa nos anos 2000, a gente usa o termo 'retomada' justamente para remeter ao passado", conta Youssef, que também fala sobre as dificuldades enfrentadas no início. "Naquele momento não havia tradição no Carnaval, então o Baixo Augusta foi o bloco que meio que capitaneou esse movimento."
Desde seu surgimento, o Acadêmicos do Baixo Augusta carrega o lema da diversidade cultural e valorização da arte brasileira. Sempre com uma reunião de artistas de grande nome e de homenagens a figuras de destaque, o bloco se tornou símbolo na cidade de São Paulo. Neste ano, o bloco homenageou Jorge Aragão e contou com a presença do escritor Marcelo Rubens Paiva como porta-estandarte.
"Antes a cultura de São Paulo era muito mais indoor, nos clubes e casas de show. Nós fizemos esse movimento para ir para as ruas. Somos um bloco que preza muito pela identidade cultural da cidade e pela representatividade das pessoas que participam", afirma Youssef.
Para o presidente do bloco, o carnaval é uma transformação que pode ser permanente. "A ocupação natural das ruas é o ponto de partida da transformação da cidade. A gente transformou São Paulo em outra cidade, mais humana, mais bonita, mais colorida, mais diversa e muito melhor para se viver", completa.
Urso Guaru-Yá
No Litoral do estado, no município do Guarujá, outro grupo de pessoas também busca criar uma conexão ainda maior entre a população e o espaço público. Bem mais modesto que os blocos citados anteriormente, mas com um público ainda assim fiel e animado, o cordão carnavalesco Urso Guaru-Yá propõe um Carnaval lúdico e acessível a todos.
Com inspiração no Carnaval do Recife, o bloco inaugurado em 2016 tem como símbolo a figura da La Ursa, sempre presente para alegrar quem se junta ao desfile. "É um projeto cultural que agrega a comunidade, onde crianças, adultos e pessoas da boa idade brincam o Carnaval com suas famílias e, ao mesmo tempo, compartilham a festa com os turistas em um ambiente receptivo", explica o coordenador do cordão, Cris Sidoti.
Sidoti, que é artista visual, morou em Pernambuco e lá aprendeu a amar o Carnaval e a arte de rua. De volta a São Paulo, em sua cidade natal, decidiu aplicar o que havia aprendido no Nordeste. "Eu pensei: preciso fazer alguma coisa aqui no Litoral. Eu sempre quis fazer uma coisa assim e plantar uma semente do Carnaval multicultural."
O cordão Guaru-Yá reúne anualmente cerca de 100 pessoas, que desfilam pela região da praia de Pitangueiras, no Guarujá. Para os organizadores, o bloco é um projeto artístico mantido pelo amor à cultura. Todos os custos são bancados diretamente do bolso dos idealizadores.
"Para estruturar esse tipo de ação como a nossa, precisaríamos ter um fomento anual para ter como bancar os músicos, a manutenção das roupas e essas coisas. A gente trabalha muito por dedicação à cultura", afirma Sidoti. "O carnaval é uma paixão, não é um negócio, é a nossa expressão", completa.
Como parte da atribuição do Legislativo de reconhecer tradições populares, a Alesp declarou patrimônios culturais imateriais do Estado o Samba, a partir da Lei 15.690/2015, e os desfiles carnavalescos, a partir da Lei 16.913/2018. Além disso, a Alesp também inclui no Calendário Turístico estadual diversos blocos de diferentes municípios paulistas.
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