Audiência na Alesp recebe mães que buscam há décadas pelos filhos desaparecidos

Evento debateu formas de prevenção ao desaparecimento e novas políticas públicas; encontro foi iniciativa do deputado Sebastião Santos (Republicanos)
28/03/2025 19:26 | Esperança | João Pedro Barreto - Fotos: Rodrigo Romeo

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Marina Souza busca por filho há 43 anos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2025/fg342477.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Evento reuniu entidades de apoio<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2025/fg342476.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Vera Ranu busca pela filha há 33 anos<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2025/fg342485.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Sebastião Santos: Construir ferramentas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2025/fg342486.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> José Cornélio: Chamar atenção da classe política<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2025/fg342487.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Ajude nas buscas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2025/fg342478.png' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

"Um filho meu já faleceu. Então, eu sei o que é a dor da morte e a dor do desaparecimento. A dor da morte dói demais, mas Deus consola o coração. Agora a do desaparecimento, não. No desaparecimento, fica aquela pergunta na cabeça, no coração e na alma. O que foi que aconteceu? Onde ele está? Quem levou? Está com fome? Com frio? Isso é o que mais atrapalha a nossa vida. É não saber o que aconteceu."

Esse relato é de Marina Souza de Paula, integrante da associação Mães em Luta. Ela busca pelo filho Rogério há 43 anos, depois do desaparecimento no Centro da Capital paulista. Marina foi uma das mães que participou de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo que debateu, na noite desta quarta-feira (26), o tema do desaparecimento de pessoas. Promovido pelo deputado Sebastião Santos (Republicanos), o evento recebeu entidades e associações que reúnem pessoas que buscam por familiares ou que apoiam a causa.

"Ele desapareceu com 11 anos e, durante todo esse tempo, eu nunca deixei de procurar, estou na luta e não vou desistir. Enquanto eu estiver aqui batendo os meus olhos, eu quero estar à procura do meu filho, para eu saber o que aconteceu, porque é um mistério absoluto até hoje", relatou Marina. Hoje, ela divulga essa história por meio do livro "Diário de uma Mãe", em que conta o processo angustiante de busca pelo filho.

"Esse é um assunto que muitas vezes fica debaixo do tapete. Quantas são as mães que procuram o filho desaparecido por décadas. Nós precisamos unir as pessoas em todo o país para que haja o alerta. Trazemos esse debate para que possamos construir juntos uma ferramenta nessa Casa, por meio de leis, políticas públicas para dar um suporte para essas famílias", afirmou o deputado Sebastião Santos.

Prevenção e busca

Além de compartilhar a história dessas pessoas, a audiência serviu como palco para o debate de formas de prevenir casos de desaparecimentos. "Precisamos dar mais ênfase e fazer valer as leis que já existem. Temos que divulgar, por exemplo, a lei da busca imediata. Muitas pessoas acreditam que tem que esperar 24 horas para registrar um boletim de ocorrência quando uma pessoa desaparece e isso não é verdade", defendeu o presidente do Instituto Apoio Brasil, José Pedro Cornélio. Em vigor desde 2005, essa lei prevê a investigação imediata em casos de desaparecimentos de crianças e adolescentes.

O Instituto Apoio Brasil, que celebrou os 12 anos de fundação no evento desta quarta, tem o objetivo de levar esse debate à esfera pública. "Nós chamamos a atenção, principalmente, da classe política. Até então, poucos chamavam a atenção da esfera pública para isso. Tiveram prefeitos e vereadores que se assustaram quando ficaram sabendo desse problema", relatou José Pedro.

A presidente da associação Mães em Luta, Vera Ranu, explicou ainda que o debate deve chegar a todos os âmbitos da sociedade. "Temos que trabalhar a prevenção nas escolas, nos hospitais e nas delegacias. O policial não foi preparado para lidar com a família de um desaparecido, ele foi preparado para lidar com a criminalidade. Então, isso tem que estar na academia de polícia, para que eles possam dar uma atenção especial a essas famílias que chegam totalmente destruídas", comentou.

Vera, que é também uma das fundadoras da ONG Mães da Sé, busca a filha Fabiana há 33 anos. Há muitos anos, ela luta e debate políticas públicas que vão auxiliar na procura por desaparecidos. Ela cita exemplos que estão sendo discutidos atualmente, como a criação do banco nacional de pessoas desaparecidas, de um banco de DNA e de uma cartilha educativa para unidades de saúde para lidar com pessoas sem identificação.

Além disso, Vera destaca o papel das organizações não governamentais no suporte emocional e logístico a pessoas que buscam familiares. "São de extrema importância, porque, além de divulgar, auxiliar na busca, no reencontro, no acesso à informação, a gente tenta amenizar um pouco esse sofrimento."

Marina Souza, que busca pelo filho Rogério há quatro décadas, faz um apelo às novas gerações e vê esperança nas novas formas de comunicação para chegar em mais pessoas. "Quando os jovens verem as nossas fotos nas redes sociais, passem para frente, compartilhem. Porque essa é a única coisa que nos resta. É só através disso que podemos encontrar os nossos filhos."

Assista à audiência, na íntegra, na transmissão realizada pela Rede Alesp:

Confira a galeria de imagens do evento

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