A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sediou um seminário nesta quarta-feira (16) para recordar o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado anualmente em 2 de abril desde 2007. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de promover a inclusão, combater estigmas e garantir os direitos das pessoas autistas.

O encontro foi organizado pelo deputado estadual Fábio Faria de Sá (Podemos), que ressaltou que a luta em favor dos autistas requer empatia, conhecimento e ações governamentais duradouras. "Fazer políticas públicas pensando no futuro dessas pessoas, não só como aposentadoria e com uma renda, mas também com qualidade de vida", realçou Faria de Sá.

Diagnóstico precoce

Uma das palestrantes do seminário, a psicóloga Heloisa Rodrigues disse que a identificação prematura do autismo, atrelada ao suporte necessário, é essencial para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Isso porque aproveita o período de maior neuroplasticidade do cérebro infantil. "Quanto mais cedo essa criança tiver acesso a todas as terapias necessárias, mais adaptada ela estará para seu futuro social", afirmou.

Entre os sinais de alerta para o autismo, Heloisa citou dificuldade no contato visual, ausência de resposta ao próprio nome, atraso na fala e comunicação não verbal, comportamentos repetitivos, e reações sensoriais (sensibilidade a sons, luzes e texturas). Para a psicóloga, a inclusão de pessoas com o transtorno autista "vai além de colocar alguém no meio, sem adaptar aquele meio para aquela pessoa se sentir pertencente."

Resistência e sobrevivência

Mãe solo de autista, Maria de Lurdes Vieira compartilhou a trajetória familiar marcada por desafios e superações. "Cuidar de uma pessoa com autismo no nosso país é um ato de resistência e sobrevivência", declarou a genitora de Henrique Vieira Ruiz, 24 anos, que é campeão brasileiro de natação na modalidade de desportos para deficientes intelectuais.

Maria relembrou a dificuldade para conseguir diagnóstico, a negligência de escolas despreparadas e a falta de apoio psicológico para mães cuidadoras. Um dos maiores desafios enfrentados recentemente foi a realização de um teste neuropsicológico exigido para atletas com a condição de Henrique. O procedimento custa de R$ 3 mil a R$ 7 mil e não é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Maria pagou do próprio bolso.

Sobre o teste, a psicóloga Heloísa Rodrigues explicou que essa avaliação neuropsicológica investiga memória, cognição, aprendizagem e funções executivas. Nesse sentido, ela defendeu que o poder público firme parcerias com instituições do terceiro setor para viabilizar o acesso gratuito ao procedimento.

Por último, a mãe de Henrique salientou que a conscientização do autismo deve alcançar toda a sociedade. "Quando o autismo é compreendido, a exclusão perde força. Quando o autismo é acolhido, o preconceito diminui e quando o autismo é respeitado, todos ganham", concluiu.

Momentos culturais

Além das palestras, o evento teve momentos culturais com a interação de pessoas autistas. O Hino Nacional Brasileiro, por exemplo, foi entoado ao som do saxofonista Olliver Shimazu. Também houve dança de capoeira com a participação do mestre Barruão.

O seminário foi organizado em parceria com a Clínica-Escola Nova Vida Dons & Talentos, espaço de acolhimento para pessoas neurodivergentes fundada pela psicopedagoga Viviane Basílio. Também palestraram no evento na Alesp as advogadas Monica Bellotto, Adriane Nascimento e a fonoaudióloga Andrea Tonelli.

Assista ao seminário na transmissão realizada pela Rede Alesp:

Confira a galeria de imagens do evento