Semana Estadual promove reflexão sobre processo adotivo e criação de políticas públicas
25/05/2025 09:45 | Amar é uma escolha | Giullia Chiara - Fotos: Agência Alesp e arquivo pessoal






"Ele chegou bem no Natal e eu falo que na verdade, ele sempre foi nosso filho, a gente só demorou cinco anos para se encontrar. Exatamente no mesmo mês de setembro que ele nasceu, estávamos entrando na fila da adoção". Esse relato é da jornalista Katia Margarete Camargo Marson, mãe do Marcos Thiago, de 15 anos.
Katia e Luis Roberto, seu marido, adotaram Marcos em 2014, aos cinco anos de idade. "Eu tinha 38 anos quando resolvi entrar na fila da adoção. Quando me casei, tive menopausa precoce e descobri que eu não poderia gerar um filho e resolvi que entraríamos na fila da adoção", conta.
Instituída pela Lei 14.464/2011, de autoria da ex-deputada Rita Passos e aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a "Semana Estadual da Adoção" é celebrada nos setes dias que antecedem o dia 25 de maio (Dia Nacional da Adoção) e visa promover a reflexão, a celeridade, a promoção de campanhas de conscientização e sensibilização sobre o tema.
O processo
A terapeuta e presidente do Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo (Gaasp), Cecília Reis, explica que um dos fatores que dificultam a conscientização sobre o assunto é o tabu acerca do tempo de espera durante todo o processo da adoção. "Todo o processo judicial é demorado. Mas, de uma forma geral, o processo judicial é um pedacinho da vida da parentalidade. Habilitar-se para adoção é 10% de toda a questão, os outros 90% é parentar", destaca.
Segundo Cecília, o processo é composto por três etapas principais: habilitação, espera e adoção. "Primeiro, você precisa descobrir qual é a Vara da Infância que vai te atender. Depois de descobrir a competência territorial, você vai entrar em contato com a vara e receber uma lista de documentos e de providências para tomar. Dentre elas, o curso preparatório e laudos técnicos, como o atestado de saúde física e mental. Essa documentação deve ser submetida à vara e aí sim é realizado o pré-cadastro no Sistema Nacional de Adoção [SNA]", específica ela.
"A partir daí você está na chamada fila, que não é uma fila linear, ela é ramificada por perfil e afins. E um advento do SNA, em 2019, trouxe transparência para que as pessoas consigam enxergar a sua posição durante a espera", completa.
Para Katia, a parte mais difícil foi justamente a da entrevista para determinar o perfil dessa criança. "Eu entendo que isso é importante, mas sempre pensava que, em uma gravidez, você não tem essa opção, como aceitar ou não uma criança com algum problema de saúde, por exemplo."
Adoção tardia
Katia conta que, a princípio, ela e o marido tinham definido apenas que queriam uma criança até cinco anos, independente do sexo, da cor ou de outras exigências.
Expandir a faixa etária se tornou uma opção depois que uma amiga contou ter sido chamada para participar de um curso sobre adoção tardia. "A gente não foi chamado e eu fiquei me perguntando o motivo. Liguei na Vara da Infância e eles falaram que era por conta do perfil ser uma criança de até cinco anos. Nesse momento eu pedi para que aumentassem o limite de idade".
A jornalista conta que depois disso, após cinco anos de espera, ela e o marido foram chamados em três meses para conhecer o filho. "A gente estava em uma sala, entrou uma criança chorando e era ele. Naquele momento a gente sentiu que ele tinha nascido pra gente, foi bem emocionante. Ele quis mostrar que já sabia escrever e quis aprender nossos nomes, sem nem saber que a gente estava lá para adotá-lo."
"No Conselho Nacional de Justiça, quando você clica na área de adoção, você tem as estatísticas. A porcentagem de pessoas que ainda buscam crianças abaixo de quatro anos de idade, é enorme. Ainda tem uma prevalência de crianças brancas ou pardas e muitas pessoas preferem meninas", esclarece Cecília.
Ela explica que quanto mais específico for o perfil desejado pelos adotantes ou dentro das características mais visadas, maior o tempo de espera. "Não vai bater a conta, porque entre as crianças disponíveis para adoção, a maior parte está acima da faixa etária mais procurada. Se você aceitar adolescentes de 14 para cima, seu telefone toca amanhã", aponta.
Adaptação
"Parentar não é um trabalho fácil. É um indivíduo que é de sua responsabilidade. A primeira coisa é começar a desconstruir essa imagem que criou da criança e de você mesmo. Você não vai ser a mãe ou pai que está sonhando, vai ser a mãe ou pai possível", destaca Cecília sobre os principais desafios de adaptação ligados às famílias adotivas.
"Existe a questão do abandono afetivo. Essa família precisa lembrar que essa criança, ao contrário da criança nascida e criada no núcleo familiar, precisa primeiro desconstruir a imagem de mãe e pai que ela tem, para depois abrir um espaço para você. Senão, você vai tentar ocupar um espaço que já existe", diz ela.
"A criança vai trazendo os medos que ela tem, ela vai contando coisas que você nem imagina que ela passou e aquilo é uma dor para ela. A gente tem que estar bem preparado para dar conta e saber que aquele momento é dela e vai passar. Tem hora que você se pergunta se vai dar conta, mas você dá. Acho que isso acontece também com um filho biológico. Hoje eu não sei mais como era a vida sem ele", relembra Katia.
Trabalho legislativo
Além da propositura que institui a Semana Estadual da Adoção, a Frente Parlamentar de Apoio aos Grupos de Adoção, coordenada pelo deputado estadual Caio França (PSB), tem o objetivo de debater desafios e propor políticas públicas de enfrentamento às questões relacionadas ao tema no Estado de São Paulo.
Uma reunião da Frente Parlamentar realizada no último dia 15, abordou o preparo de crianças e adolescentes para a saída dos serviços de acolhimento. Na ocasião, especialistas destacaram a importância de profissionais capacitados em desenvolvimento infantil para que a adoção seja bem-sucedida.
Em outra oportunidade, a frente abordou o papel estratégico dos grupos de apoio para prevenir a devolução de crianças e adolescentes em processos adotivos. Segundo França, quase 10% das adoções no Brasil acabam sofrendo com a devolução.
"A primeira coisa é tirar da mente que a adoção tem menor qualidade do que um vínculo biológico ou trazer um viés caridoso. Eu não estou fazendo caridade, eu tenho um filho" - Cecília Reis.
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