Audiência pública defende permanência do Teatro de Contêiner Mungunzá no centro de SP

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11/06/2025 13:54 | Atividade Parlamentar | Da Assessoria do deputado Carlos Giannazi

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Audiência sobre o Teatro de Contêiner Mungunzá<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-06-2025/fg347001.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Poucos meses após a demolição das instalações do Teatro Ventoforte, no Parque do Povo, a prefeitura de São Paulo pretende destruir também o Teatro de Contêiner Mungunzá, que desde 2016 promove atividades culturais e assistenciais na Rua dos Gusmões, no bairro central de Santa Ifigênia. A ordem de despejo vem na esteira do truculento processo de dispersão dos dependentes químicos que se concentravam na região, que agora migraram para outros locais da cidade.

Juntando-se aos mais de 60 coletivos que se solidarizaram à Cia. Mungunzá, o coletivo Educação em Primeiro Lugar, formado pelo deputado estadual Carlos Giannazi, pela deputada federal Luciene Cavalcante e pelo vereador Celso Giannazi (todos do PSOL), realizou na segunda-feira, 9/6, uma audiência pública na Assembleia Legislativa para debater as possíveis ações a serem tomadas para a preservação do espaço cultural.

Uma das frentes para que a Cia. Mungunzá permaneça no centro de São Paulo é o seu reconhecimento como patrimônio imaterial. Esse é o objeto do Projeto de Lei 542/2025, de Carlos Giannazi, e do Projeto de Lei 01-00621/2025, do vereador Celso Giannazi. Este também apresentou na Câmara Municipal o PL 01-00619/2025, que prevê a concessão administrativa do terreno pelo prazo de 99 anos. A deputada federal Luciene Cavalcante também apresentará projeto semelhante em Brasília.

Especulação imobiliária

Carlos Giannazi comparou a atuação da Cia. Mungunzá com a da Cia. Os Satyros, cujo teatro contribuiu decisivamente para a revitalização dos arredores da Praça Roosevelt. "O teatro vai aonde o Poder Público não vai. Há uma omissão histórica da prefeitura, do Estado e do governo federal na região central de São Paulo."

Entretanto, Giannazi apontou o atual projeto de revitalização do centro, que inclui a nova sede do governo estadual e de várias secretarias na região da Praça Princesa Isabel, como uma grande entrega de terrenos, antes desvalorizados, para grandes grupos empresariais. O deputado criticou ainda a política higienista que vem sendo aplicada contra os dependentes químicos, sem nenhuma preocupação com a recuperação dessas pessoas, mas com o único interesse eleitoreiro de apresentar o fim da Cracolândia.

Marcos Felipe, um dos coordenadores da companhia, destacou que em nove anos de existência, mais de 4 mil ações artístico-sociais, sendo 85% delas gratuitas, e atingindo um total de 500 mil pessoas. Por isso, o ator e produtor se sente indignado com relação à postura da prefeitura e do governo do Estado por não reconhecer a contribuição social que o grupo vem prestando em todo esse período. "O Poder Público, em vez de regular a nossa ação, de fomentar e discutir política pública conosco, que temos experiência naquele território, ele simplesmente abre mão disso para, de forma violenta, desmontar um equipamento que está funcionando."

Conforme Marcos Felipe, o pretexto da prefeitura, de que o terreno seria necessário para a construção de duas torres de habitação social, é equivocado. "Tendo em vista a quantidade de terrenos ociosos e de prédios sem habitantes no centro de São Paulo, nossa denúncia fica ainda mais poderosa. Não é justo destruir um equipamento que está em pleno vigor, que funciona, que tem expertise, para a construção de algo que poderia ser feito em outro lugar."

Também para o vereador Celso Giannazi, que é Membro da Comissão de Educação, Cultura e Esportes da Câmara Municipal, é falaciosa a argumentação de que o local é necessário para a construção de habitações sociais. "No centro de São Paulo são inúmeros os prédios vazios, e a prefeitura não faz absolutamente nada. Nós queremos habitação, mas também queremos cultura, e o que estamos vendo é especulação imobiliária e gentrificação", salientou. Ao lado de integrantes da Cia. Mungunzá, Celso Giannazi e Carlos Giannazi já haviam se reunido com o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles, na busca de alternativas para continuidade do grupo teatral.

Periferia central

Fazendo um paralelo com outros atos de violência contra a população pobre, Luciene afirmou que o silenciamento do teatro de contêiner é continuidade dessa política de matar e de subalternizar essa população, que, mesmo no centro, continua na periferia, carregando as marcas da negação de direitos.

Coautora da ação judicial que pede a reconstrução do teatro Ventoforte, Luciene revelou que, nos autos do processo, constam e-mails do grupo Iguatemi se comprometendo junto à prefeitura a ajudar na desocupação forçada do teatro. Segundo a deputada, essa é a prova de que a desativação dos espaços culturais visa abrir caminho para a especulação imobiliária, o que certamente é o caso da Cia. Mungunzá.

Na mesma data da audiência pública, o coletivo Educação em Primeiro Lugar impetrou uma ação popular pedindo a declaração de nulidade da desocupação e sua suspensão imediata. Caso o juiz não entenda dessa maneira, o pedido subsidiário é que a desocupação seja suspensa até que a prefeitura apresente o alegado plano de urbanização. "Ninguém viu esse plano, ele não existe", afirmou a deputada.

O coletivo pediu ainda a intervenção do Ministério da Cultura, da Funart e também do Ministério das Cidades, por meio da Secretaria das Periferias. "Nós entendemos que aquela região precisa, sim, de revitalização, mas para quem vai ser a revitalização? Existem muitos imóveis que pertencem ao governo federal na região central, e nós queremos essa relação para poder sentar com o prefeito e fazer as negociações", disse Luciene.

Gentrificação

"O Poder Público olha para nós como se fôssemos inimigos, mas nós somos parceiros, nós realizamos um trabalho de interesse social", afirmou Carmen Lopes, do coletivo Tem Sentimento, que atua no espaço do teatro oferecendo capacitação em corte e costura e assistência para mulheres cis e trans em situação de vulnerabilidade. Ela não critica as ações de revitalização do centro, mas critica o processo de gentrificação que está ocorrendo. "O pobre também quer estar no lugar que está sendo revitalizado."

Ainda participaram da reunião o deputado estadual Eduardo Suplicy (PT) e dezenas de atores e agentes culturais, que se solidarizaram com a Cia. Mungunzá e também com o grupo teatral Ventoforte.


alesp