Junho chegou trazendo a tradicional temporada de festas juninas com quadrilha, comidas típicas e atrações para a família. Muitas dessas celebrações acontecem em quermesses de igrejas de bairros ou espaços públicos que ganham cor e movimento com música e bandeirinhas.

Moradora de São Bernardo do Campo, a biomédica Eliene Xavier conta que ama festas juninas desde os cinco anos de idade. Na infância, ela ia com seus irmãos, primos e amigos pedir colaboração de vizinhos para organizar os preparativos da festa. "Fazíamos as bandeirinhas, organizávamos a quadrilha e os moradores decidiam o que iriam cozinhar. Nossos pais acendiam a fogueira na rua e nos sentávamos ao redor dela", relembra.

De origem europeia, as festas juninas surgiram a partir de celebrações que comemoravam a colheita e a chegada do verão com fogueiras e danças. Elas foram trazidas para o Brasil pelos portugueses no século XVI e ganharam elementos da nossa cultura, principalmente dos costumes caipiras.

Com a expansão do cristianismo, a Igreja Católica incluiu essas festas no seu calendário religioso. Assim surgiram as comemorações em homenagem aos três santos católicos populares: Santo Antônio, São João e São Pedro.

Atualmente, as festas juninas são reconhecidas como manifestação da cultura nacional pela Lei Federal 14.555/2023. A norma foi alterada pela Lei Federal 14.900/2024 que também passou a reconhecer as quadrilhas.

São Paulo festeja

Considerada a maior festa junina do estado, a Festa de Votorantim é beneficente e conta com o apoio da Prefeitura do município. A celebração foi incluída no Calendário Turístico do Estado pela Lei Estadual 13.824/2009, prevendo 16 dias de comemorações consecutivas. Neste ano, o evento vai até 22 de junho na Praça Lecy de Campos (Avenida 31 de Março).

A tradicional Quermesse do Padroeiro, em Mirandópolis, no noroeste do Estado, acontece durante todo o mês de junho. A festa comemora o aniversário de fundação da cidade com comidas e atrações para a família.

No coração do Estado, a 141ª Festa de São João Batista agita Laranjal Paulista com apresentações culturais até 24 de junho.

A capital paulista também promove animadas festas juninas para todos os públicos. Uma das mais tradicionais é o "São João De Nóis Tudim", que acontece até 27 de julho no Centro De Tradições Nordestinas (CTN), no bairro do Limão. O evento reúne apresentações de forró, quadrilhas, comidas típicas e atrações que celebram o espírito nordestino no Estado.

Servidora pública da Alesp, a cerimonialista Renata Gomes, esteve no "São João De Nóis Tudim" e se encantou com a festa. "O que eu mais gostei foi a decoração. Lembrou bastante a das festas juninas da minha infância. As comidas estavam deliciosas, mas a canjica foi a minha favorita", contou.

Outro destaque na capital é a tradicional quermesse da Paróquia São Paulo da Cruz, mais conhecida como Igreja do Calvário, em Pinheiros, na zona oeste paulistana. A festa, que vai até 6 de julho, oferece música ao vivo, apresentações de quadrilha e diversas barracas com comidas típicas do Brasil e de outros países. A entrada é paga, e o evento costuma atrair um grande público todos os anos.

Já no Parque Villa-Lobos, também na zona oeste, acontece o "São João de São Paulo", com entrada gratuita. A festa vai até 22 de junho e conta com shows, brincadeiras, quadrilhas e uma ampla variedade de opções gastronômicas que celebram os sabores da culinária nacional.

Turismo aquecido

Tradicionais e populares, as festas juninas resgatam e preservam a cultura, atraem turistas e impulsionam a economia estadual gerando renda em igrejas e espaços públicos.

Segundo o secretário de Turismo e Viagens do Estado, Roberto de Lucena, as comemorações deste mês manifestam a nossa identidade, fortalecem laços comunitários e estimulam o turismo interno.

De acordo com a Setur-SP, são aguardados 520 mil turistas entre junho e agosto de 2025 em cerca de 88% dos municípios paulistas. Estima-se também que os visitantes gastem quase R$ 400 milhões com viagens ao litoral e ao interior.

Os "arraiás" aquecem o turismo de compras, movimentam os restaurantes, o setor hoteleiro e o transporte rodoviário gerando desenvolvimento econômico para o período que inclui as férias.

Quadrilha

Dança típica das festas juninas, a quadrilha é composta por casais que se apresentam ao som da sanfona, vestindo roupas caipiras, como camisas xadrez, vestidos coloridos e chapéus de palha. Durante a dança, os participantes encenam um "casamento na roça" de forma bem-humorada, com personagens típicos como os noivos e o padre, que prestam homenagem a Santo Antônio, conhecido como o "santo casamenteiro".

Originada das danças dos palácios franceses, a quadrilha chegou ao Brasil no século XIX. Aqui, foi adaptada com elementos da cultura popular, como os trajes caipiras e ritmos regionais, como forró, baião e xote. Atualmente, a dança é reconhecida como manifestação da cultura nacional pela Lei Federal 14.900/2024, que altera a Lei 14.555/2023.

Jonas Pereira, conhecido como Tio Jonas, é o narrador da quadrilha da quermesse do Calvário, onde sua esposa Márcia já dançou como noiva. Ele ensaia a coreografia com os participantes, apresenta os casais ao público e comanda a animação durante a dança. Com bom humor, Jonas interage com os espectadores que vibram com os dançarinos.

Segundo Jonas, comandar a quadrilha traz um senso de liberdade e responsabilidade. "Essa é uma dança que estimula a participação coletiva e promove a inclusão social e igualdade. Então, me sinto realizado em proporcionar tudo isso. É importante incentivar os jovens a participar das quadrilhas para fortalecer a cultura e manter a tradição viva", disse.

Comidas Típicas

As festas juninas atraem inúmeros visitantes pelas comidas ricas em sabores e tradição. Vendidas em barraquinhas, os pratos representam a diversidade da cultura brasileira.

O milho é a base de muitas dessas delícias, já que junho é época de colheita do grão. Entre as opções, estão a pamonha, canjica, curau, bolo de milho e o cuscuz. "Meus favoritos são o milho cozido, mungunzá, canjica e chá de amendoim", contou Eliene Xavier.

Doces como paçoca, pé de moleque, maçã do amor, arroz-doce e amendoim também fazem sucesso entre crianças e adultos.

Entre as bebidas, destaca-se o quentão, preparado com vinho quente, gengibre, açúcar e especiarias, que aquece as noites frias das festas.

Nas festas juninas do Estado, os paulistas costumam comer espetinhos de carne, caldo verde, pastéis, cachorro-quente, pipoca, bolos e chá de amendoim.

Brincadeiras

Uma das atrações mais populares e divertidas das festas juninas é a "Barraca do Beijo" que mistura cultura popular com romantismo e encenação. Surgida por volta de 1950, a brincadeira baseia-se em beijos lúdicos oferecidos por uma pessoa que comanda a barraca.

Outra tradição é o "Correio Elegante": bilhetes anônimos ou assinados enviados entre os participantes com um toque romântico, bem-humorado e, às vezes, misterioso.

Já a pescaria é uma brincadeira que traz diversão e expectativa entre as crianças. Cada peixinho fisgado com a varinha corresponde a um número que garante um prêmio surpresa.