Legado imortal: conheça os clubes de futebol mais antigos em atividade no estado de São Paulo
19/07/2025 07:00 | Dia Nacional do Futebol | Gustavo Oreb - Fotos: Arquivo/Ponte Preta, Arquivo/Paulista FC




"A bola tem um instinto clarividente e infalível, que a faz encontrar e acompanhar os verdadeiros craques". Pode não parecer, mas essa frase do cronista Nelson Rodrigues, que fazia alusão à intimidade que o craque Zizinho - ídolo de infância de Pelé - tinha com a bola, também ilustra com perfeição a história da chegada do futebol ao Brasil.
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Tamanho era o magnetismo entre a bola e os craques, que ela atravessou um oceano inteiro somente para encontrar uma terra repleta deles. Nas malas de Charles Miller, um jovem brasileiro com ascendência britânica, havia duas bolas, dois jogos de uniformes, uma bomba de ar e um livro de regras do esporte que viajaram da Inglaterra até a cidade de São Paulo, em 1894.
Já no ano seguinte, Miller conseguiu organizar a primeira partida de futebol "oficial" em solo brasileiro, com direito a súmula, entre os times da Companhia de Gás e da São Paulo Railway. Daquele momento em diante, não demorou muito para o esporte cair nas graças da população paulistana, e esse encanto logo se converteu na fundação dos primeiros clubes do país.
Partindo da Capital, a paixão se espalhou em brasa por toda a extensão do Interior de São Paulo, onde, hoje, se encontram os clubes de futebol mais antigos em atividade no estado. Por isso, neste Dia Nacional do Futebol - 19 de julho -, nada melhor do que desbravar um pouco das ricas trajetórias dessas instituições que atravessaram os séculos e representam, até os dias atuais, o berço do futebol brasileiro.
A Veterana
Quando o tema é pioneirismo, tradição e tempo de existência, poucos torcedores de clubes brasileiros podem se orgulhar tanto quanto os da Associação Atlética Ponte Preta. A equipe da cidade de Campinas é a mais antiga em atividade no estado, e também um dos clubes de futebol mais longevos do Brasil. Mais precisamente, o segundo mais velho. Enquanto o Sport Clube Rio Grande (RS) foi fundado em 19 de julho de 1900, a Ponte nasceu menos de um mês depois, no dia 11 de agosto.
Nesses quase 125 anos em ação, o time alvinegro coleciona grandes feitos e momentos marcantes em sua história, que contribuíram enormemente para construir uma identidade forte e laços inquebráveis entre clube e torcida. Exemplo mais do que evidente dessa conexão é a história da construção da casa da Ponte, o estádio Moisés Lucarelli.
"A relação entre estádio e torcida está profundamente entrelaçada à identidade pontepretana. O Moisés Lucarelli só foi inaugurado em 1948. Entre 1900 e essa data, o clube perambulou por vários campos na cidade, chegando até a utilizar o antigo estádio do rival Guarani - o Pastinho - em algumas ocasiões. Isso era um verdadeiro tormento para a torcida", conta o jornalista, pontepretano e autor do livro "Defensores - os grandes zagueiros da história da Associação Atlética Ponte Preta", Israel Moreira.
Foi então que um sócio e filantropo do clube, Moisés Lucarelli, junto com sua família e outros torcedores, comprou o terreno para a construção e decidiu dar início ao sonho de erguer uma casa definitiva para a Ponte, lançando campanhas de arrecadação entre a torcida. "Desde sua origem, a Ponte Preta é um clube popular, com forte presença entre as camadas mais humildes de Campinas. Essa característica foi fundamental para unir os torcedores em torno da construção do estádio", aponta Moreira.
"A imprensa da época registrou inúmeros mutirões de torcedores se reunindo para ajudar - doando tijolos, pedras, cimento, e oferecendo força braçal. Centenas de torcedores dedicaram tempo e esforço pessoal para erguer o Majestoso. Nenhuma demonstração de amor ao clube pode ser maior do que essa", destaca o jornalista.
Estádio Moisés Lucarelli - "o Majestoso" - casa da Ponte Preta
Além disso, a Ponte é referenciada como uma das instituições pioneiras na inclusão de jogadores negros nos times de futebol, numa época em que a prática do esporte era praticamente exclusiva aos brancos. Logo no primeiro quadro de de atletas da história do clube, aparece Miguel do Carmo (Migué), jogador negro, nascido em Jundiaí, que também trabalhava como fiscal de ferrovias.
"É preciso imaginar o contexto histórico da época: início do século XX, em uma cidade do Interior paulista, apenas doze anos depois da abolição da escravatura no Brasil. No quadro de fundação da Ponte, já havia brancos e negros, trabalhadores da Companhia Paulista e moradores do bairro operário que leva o mesmo nome do clube", explica Israel Moreira.
A presença disruptiva de homens negros como atletas, torcedores e dirigentes não passou despercebida pelos torcedores adversários, no entanto. Quando surge o rival, Guarani, as diferenças de tratamento se tornam mais gritantes, segundo Moreira. "A divisão de classes entre os clubes é algo que se tornou quase natural, dada a origem de cada um. O Guarani nasceu em 1911, na hoje chamada Praça Carlos Gomes, local que, no pós-abolição, proibia a circulação de negros. Havia repressão intensa na época. Essa diferença marcou as décadas seguintes. Havia até ruas específicas para cada torcida circular na cidade, especialmente entre as décadas de 1910 e 1920."
"Até a metade do século, a Ponte era chamada de 'a Veterana', por ser o clube mais antigo do Estado. A partir das grandes caravanas de torcedores pelo Interior e com o acirramento do clássico contra o Guarani, os torcedores adversários passaram a dizer que 'a macacada chegou', em referência à grande presença de negros entre os pontepretanos", diz o torcedor.
Essa é a origem da Macaca, a mascote do time até hoje. Apelido cujo intuito original era ofender e diminuir, mas acabou se transformando em símbolo de bom humor e resistência dos jogadores e da torcida alvinegra. "Em cidades como Americana e Jundiaí, causava espanto ver tantos negros reunidos torcendo por um clube. A estrutura racial do país, fortemente reforçada pela elite econômica, intelectual e política, estava presente em todo o Interior paulista. E Campinas não foi exceção. Muito pelo contrário", conclui Israel.
Vínculo inquebrável
É natural que os clubes dos grandes centros urbanos, como Campinas, sejam amplamente conhecidos e lembrados por seus feitos históricos. Porém, ao contrário do que se espera, os clubes que sucedem a Macaca como os paulistas mais antigos estão sediados, ambos, em cidades pequenas, com menos de 80 mil habitantes.
No pacato município de Bebedouro, nasceu a Associação Atlética Internacional de Bebedouro. Fundado em 11 de junho de 1906, o clube retrata, com maestria, a ideia de que uma grande história pode surgir dos lugares mais inesperados. Isso porque, após passar por dificuldades para se manter no futebol profissional, o Inter se consagrou como o primeiro campeão da Copa Paulista, segundo torneio mais importante do estado, em 1979.
Atualmente disputando a série A-4 do Campeonato Paulista, o Lobo Vermelho permanece no futebol profissional, renovando a fé dos torcedores por mais dias de glória. "Numa cidade muito pequena como essa, impressiona a sinergia da população com o clube. Por estarem localizados em comunidades menores, os clubes conseguem manter esse vínculo forte com as pessoas e, mesmo com tanto tempo de existência, continuam como parte da vida delas", ressalta o bibliotecário do Museu do Futebol, Ademir Takara.
Também representando uma pequena cidade, o Clube Atlético Pirassununguense, fundado em 7 de setembro de 1907, é o terceiro mais antigo do estado. Mesmo sem disputar competições profissionais da Federação Paulista de Futebol (FPF) desde 2014, o "Gigante do Vale", como é conhecido, preserva sua sede no histórico estádio Bellarmino Del Nero, onde ainda realiza atividades de futebol para categorias infanto juvenis.
Curiosamente, o maior momento da história do clube se deu num momento parecido, quando, na década de 1950, foi afastado das competições oficiais. "O Pirassununguense disputou o Campeonato Paulista de profissionais da 2ª Divisão em 1950, 1951 e 1952, mas foi barrado em 1953 por um motivo inusitado: a Federação Paulista de Futebol passou a exigir no mínimo 50 mil habitantes para a cidade disputar o torneio profissional. Ironicamente, o time acabou se tornando campeão do Campeonato Amador do Interior, em 1954", relembra Takara.
Ao longo de sua história centenária, o clube também revelou jogadores que chegaram a envergar a amarelinha da Seleção Brasileira. Mais especificamente, os meio-campistas Del Nero - jogador histórico do Palmeiras e pai do ex-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero - e Alex, multicampeão por grandes clubes como Corinthians e Internacional.
Das ferrovias aos gramados
Reunindo tradição, relevância histórica e títulos marcantes, o Paulista de Jundiaí é o quarto clube mais antigo em atividade no estado. Ligado diretamente ao surgimento das ferrovias que conectavam o Interior de São Paulo ao porto de Santos, o clube foi criado por trabalhadores da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, no dia 17 de maio de 1909, como forma de homenagem ao antigo Jundiahy Foot Ball Club, de 1903.
"O nome do clube é uma clara referência à Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que, desde o estabelecimento da sede na cidade, em 1892, influenciou completamente o crescimento da região. O clube filiou-se à Associação Paulista de Esportes Atléticos em 1918, para disputar o Campeonato Paulista do Interior, e precisou apenas de um ano para conquistar a segunda edição da competição, em 1919", destaca o bibliotecário do Museu do Futebol.
Mal sabiam os torcedores que aquele seria apenas o primeiro passo de um dos clubes mais vencedores do Interior. Em sua galeria de troféus, o Galo da Japi ostenta três Copas Paulistas (1999, 2010 e 2011), um Brasileirão Série C (2001), uma Copa São Paulo de Futebol Júnior (1997) e um vice-campeonato Paulista (2004), mas, sem dúvida, a conquista mais expressiva e heroica da história do clube é a Copa do Brasil de 2005.
Jogadores do Paulista de Jundiaí comemoram a vitória sobre o Cruzeiro na Copa do Brasil de 2005
Superando o poderoso Fluminense na final, o Paulista de Jundiaí cravou seu nome para sempre na segunda competição mais importante do país. Mas não antes de fazer uma campanha histórica, superando outras equipes tradicionais do futebol nacional, como Juventude, Botafogo, Internacional e Cruzeiro. No ano seguinte, o time disputou pela primeira vez uma competição internacional: a Copa Libertadores da América, mas acabou sendo eliminado ainda na primeira fase.
Rivalidade rioclarense
Entre os fãs de futebol, há quem acredite que uma das melhores situações que podem acontecer para um clube é ter um grande rival. Isso porque, os clássicos regionais funcionam quase como uma relação simbiótica, na qual o bom desempenho de um time instiga o outro a se manter sempre em alto nível.
"A rivalidade é uma das forças que move um clube. Faz com que a torcida pressione cartolas a investir mais no time, ter jogadores melhores, alcançar mais vitórias, mais títulos, ou pelo menos uma colocação melhor, acima do vizinho. Independentemente de ser futebol profissional ou amador, o rival é a régua pelo qual um time e sua torcida se mede", afirma Ademir Takara.
Dos tantos clássicos presentes em terras paulistas, a cidade de Rio Claro abriga um dos duelos mais marcantes e históricos. Clube que leva o nome da cidade, o Rio Claro Futebol Clube é a quinta agremiação mais antiga do estado, fundada em 1909. E não ficaria sem companhia por muito tempo. Apenas um ano depois, o time já seria presenteado com a criação do seu maior rival, a Associação Esportiva Velo Clube. Assim surgiu o charmoso clássico rioclarense.
Numa disputa centenária, o "Benitão" e o "Schimitão" - estádios das equipes - já foram palcos de confrontos que deixaram marcas inesquecíveis na memória da cidade. Exemplo claro disso é o dia 16 de julho de 1950. Se perguntar para a maioria dos apaixonados pelo futebol brasileiro o que ocorreu naquele dia, a resposta, de prontidão, é a final da Copa do Mundo entre Brasil e Uruguai, no Maracanã, vencida pela seleção alviceleste por 2 a 1. Acontece que, ao mesmo tempo, Rio Claro e Velo Clube protagonizaram uma partida válida pela segunda divisão do Campeonato Paulista, que acabou em 1 a 1. Quem viu, viu.
Atualmente, o Velo vive, possivelmente, o melhor momento de sua história. Em 2025, conquistou a permanência na série A do Paulistão e, na temporada de 2026, poderá disputar a Série D do Campeonato Brasileiro: a primeira vez que o clube disputará uma competição nacional. Já o Rio Claro, que participou bem antes da Série C do Brasileirão, em 2007, disputa, nesse momento, a série A2 do campeonato estadual.
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