Como a exploração espacial motivou avanços tecnológicos e criação de institutos de pesquisa em SP
20/07/2025 10:28 | 56 anos da chegada do homem à Lua | Fernanda Franco - Fotos: Na legenda







No domingo de 20 de julho de 1969, o mundo parou diante da televisão. Naquele dia, o astronauta norte-americano Neil Armstrong deu "um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade" ao pisar na superfície lunar pela primeira vez. Passados 56 anos, o feito histórico - auge da corrida espacial entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética - não mudou apenas os rumos da geopolítica internacional.
Para o Brasil, e especialmente para o estado de São Paulo, a chegada do homem à Lua se tornou um catalisador para avanços científicos, tecnológicos e educacionais que ressoam até hoje, tanto nas universidades quanto no dia a dia. "A missão Apollo 11 foi um marco de motivação global. O Brasil sentiu isso, e o Inpe começou a atrair mais talentos, recursos e a ampliar sua infraestrutura", lembra o engenheiro espacial Antônio Bertachini, pesquisador e chefe da divisão de pós-graduação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
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Da Lua para a palma da mão
Os benefícios da missão Apollo 11 também foram sentidos fora dos laboratórios. Do código de barras nos produtos do supermercado ao satélite, "há mais espaço na sua vida do que você pensa!". A afirmação vem da Nasa (Agência Espacial Americana) e se refere às tecnologias inicialmente desenvolvidas para a exploração espacial, mas que acabaram sendo benéficas também para a sociedade na forma de produtos, serviços e softwares. Essa transferência de tecnologia espacial é chamada de spinoffs, e, desde 1976, a Nasa já destacou mais de 2 mil que são usadas no dia a dia.
"Sem a conquista da lua, não teríamos o celular que temos hoje", afirma Bertachini. GPS, lasers para leitura de código de barras, Teflon (polímero sintético com propriedades antiaderentes e de baixa fricção frequentemente usado em utensílios de cozinha, como panelas e frigideiras), roupas reguladoras de temperatura para atletas e mulheres na menopausa, roupas resistentes ao fogo para bombeiros, aditivo que aumenta FPS de protetor solar, esteiras adaptáveis para pessoas com lesões, microchips, baterias duráveis, sensores ultrassensíveis e até material resistente para suturas em cirurgias cardíacas, são alguns exemplos de tecnologias que nasceram das exigências das missões espaciais e foram adaptados para uso na Terra.
"Todo mundo sabe que o homem foi à lua, acreditem ou não, mas poucos sabem que muitas vidas foram salvas por roupas de bombeiros desenvolvidas com base em trajes espaciais. Até a miniaturização que permitiu os celulares de hoje veio da corrida espacial", destaca Bertachini. Para ele, nada como as missões espaciais para forçar a miniaturização da eletrônica que usamos atualmente.
Quanto à essa tendência, o astrofísico, astrobiólogo e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, Amâncio César Santos Friaça, explica que para viabilizar viagens espaciais, foi necessário desenvolver tecnologias mais leves, rápidas e seguras. "O que você ganha com a Lua é leveza e rapidez. Duas qualidades essenciais para o mundo moderno", comenta o astrofísico.
São Paulo: berço da ciência aeroespacial brasileira
Com a chegada do homem à Lua, o fascínio pelo espaço e a astronomia ganhou fôlego no Brasil. O impacto foi particularmente forte no estado de São Paulo, onde universidades como USP, Unesp e Unicamp passaram a fortalecer as áreas de física, astronomia e engenharia espacial. "Eu tinha sete anos em 1969. Aquilo me fez querer estudar o espaço. E sei que não fui o único. Foi uma faísca que acendeu muitos caminhos", conta Bertachini.
A Guerra Fria (1947-1991) foi um estímulo para avanços científicos no Brasil, em especial o Inpe, fundado em 1961 em meio à corrida espacial (1957-1975). O Instituto federal sediado em São Paulo, viu sua importância crescer ainda mais na década de 1970. "O Inpe foi instalado em São José dos Campos justamente por causa da forte base industrial do Vale do Paraíba, que possibilitou o desenvolvimento tecnológico e científico como símbolo da autonomia científica brasileira", afirma o engenheiro espacial.
Desde então, São Paulo se tornou o principal polo científico e aeroespacial do país e o Instituto referência internacional em pesquisas espaciais e atmosféricas, engenharia espacial, meteorologia, monitoramento ambiental, estudos de mudanças climáticas e desenvolvimento de satélites. O satélite Amazônia-1, lançado em 2021, é um exemplo: 100% nacional, ele monitora o desmatamento e reforça a soberania brasileira no uso do espaço. "Foi um salto enorme. O Inpe hoje tem o melhor laboratório de integração e testes do hemisfério sul", diz Bertachini.
A presença da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), criada em 1962, foi essencial para sustentar esse crescimento. "A Fundação é um patrimônio do estado. Ela permite que projetos de ciência saiam do papel e que pesquisadores sejam formados com excelência. Sem ela, São Paulo estaria muito atrás em ciência e tecnologia", afirma o pesquisador do Inpe.
Outros institutos de fomento à pesquisa, a nível nacional, também foram criados na época da corrida espacial, como o CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e o Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ambos fundados em 1951.
O engenheiro reforça que o impacto da missão lunar em 1969 vai muito além da astronomia, tendo contribuído também para a engenharia aeroespacial. "A Lua virou um laboratório imprescindível para descobertas científicas. É como um museu natural, onde tudo fica preservado por não ter atmosfera. Isso permite entender a formação do sistema solar, da Terra, e estudar o impacto de meteoritos ao longo de bilhões de anos", explica.
O IAG-USP, por sua vez, tem atuado em pesquisas de ponta que relacionam a composição de corpos celestes com a origem da vida. O professor Amâncio Friaça estuda desde a formação dos elementos químicos no universo até a "paleontologia profunda" - a busca por vestígios de vida primitiva, que podem estar não só na Terra, mas preservados em corpos celestes como a Lua.
"Se fósseis de formas de vida extremamente antigas existiram na Terra, eles podem ter sido vaporizados pelos impactos e catástrofes do Hadeano, período inicial da história terrestre. E fragmentos desses materiais podem ter sido lançados à Lua e preservados lá, por ela não ter atmosfera e não sofrer erosão", explica o astrofísico.
Espelho da Terra
Amâncio Friaça também explica que, durante décadas, a origem da Lua foi cercada de hipóteses. Uma das mais conhecidas era a da "captura": de que o satélite se formou em outra região do sistema solar e teria sido atraído pela gravidade da Terra. Outra, proposta por George Darwin, filho de Charles Darwin, sugeria que a Lua teria se separado da Terra em seu passado remoto. A terceira teoria sustentava que Lua e Terra teriam se formado juntas, a partir do mesmo disco de poeira cósmica.
Porém, foi com análises isotópicas (técnica que estuda a proporção entre diferente átomos de um mesmo elemento) dos materiais trazidos pela missão Apollo 11 que se consolidou a hipótese hoje mais aceita, a do "Grande Impacto": a Lua surgiu de uma colisão entre a Terra primitiva e um corpo do tamanho de Marte, chamado Theia, cerca de 4,5 bilhões de anos atrás.
Essa descoberta foi possível graças à ida do homem à Lua. "A missão trouxe 382 quilos de rochas e solo que foram suficientes para revolucionar o conhecimento sobre a origem da Lua e, por consequência, da Terra", afirmou Friaça. O professor explica que a análise dos isótopos estáveis presentes nos elementos das rochas lunares - como oxigênio, magnésio e silício - revelaram uma composição quase idêntica à do manto terrestre. "É um trabalho de detetive comparável ao da polícia científica, pois é como uma assinatura digital da origem do material lunar", explica.
Desafios, legado e futuro
Apesar do avanço científico impulsionado por 1969, Bertachini lamenta que a exploração espacial não tenha seguido o ritmo previsto. "Na época, achava-se que em 2000 estaríamos em Marte. Mas o fim da Guerra Fria tirou a motivação política, e os investimentos caíram", avalia. Ainda assim, ele é otimista quanto à participação brasileira em futuras missões tripuladas. "Acredito que teremos brasileiros na Lua ou em Marte. Mas, mais do que isso, precisamos lembrar que satélites ao redor da Terra têm um impacto direto e essencial na vida de todos nós, desde prever o tempo até monitorar desastres ambientais", argumenta.
Já o professor do IAG, Amâncio Friaça, reconhece que o Brasil ainda enfrenta dificuldades para consolidar uma cultura científica forte. "Falta um retorno à ciência", afirma. Ainda assim, ele acredita que eventos espaciais, como o retorno de missões à Lua ou a exploração de Marte, continuam sendo motores de inspiração e curiosidade. E lembra que a ciência, especialmente a astrobiologia, busca respostas para perguntas que tocam a existência humana: "Quem sou eu? De onde vim? Por que estou aqui? E a mais importante: estou só no universo?".
Mais de meio século depois da Apollo 11, a exploração espacial segue adiante, agora com o foco em Marte e em asteroides que orbitam próximos da Terra. Esses corpos celestes são ricos em minerais estratégicos e podem representar o futuro da mineração fora do planeta. Para Friaça, a comercialização do espaço já é uma realidade, e países que investem em ciência espacial estarão à frente nas próximas décadas.
O legado da chegada do homem à Lua, portanto, não está apenas nos livros de história ou nas crateras lunares, mas também no avanço de tecnologias usadas todos os dias, na motivação de gerações de cientistas e no fortalecimento de instituições como o Inpe e a Fapesp.
Para o estado de São Paulo, que soube transformar esse entusiasmo em política pública e infraestrutura científica, o feito americano segue sendo um marco inspirador e essencial para o futuro. "O maior legado da Lua talvez não esteja só nas pedras trazidas de lá, mas no impulso que ela deu à ciência aqui", conclui Friaça. Para ele, "a Lua nos ensinou muito sobre nós mesmos".
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