Resistência: orgulho crespo valoriza estética negra e estimula combate ao racismo
26/07/2025 08:00 | Negritude | Giullia Chiara - Foto: Agência Alesp/Arquivo pessoal/Freepik




"Meu cabelo crespo é a minha maior identidade como mulher preta", diz a social media de 26 anos, Rafaela Nascimento.
Essa frase vai ao encontro do trecho da justificativa do projeto de lei que propôs o Dia Estadual do Orgulho Crespo de São Paulo: "a valorização da estética negra é um ato de resistência aos padrões eurocêntricos que foram impostos ao povo negro, amplamente e historicamente difundidos pela mídia e pela publicidade".
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De autoria da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB), o Projeto de Lei nº 1207/2015 - que deu origem à Lei 16.682/2018 -, reforça que a negação do cabelo crespo está associada à discriminação e que a data é uma forma de pautar politicamente o tema, possibilitando o debate e a criação de estratégias de combate ao racismo.
Orgulho e preconceito
Rafaela conta que hoje tem orgulho de seus cabelos, mas nem sempre foi assim. "Sendo sincera, foi bem difícil me entender como uma menina preta de cabelo crespo. Na fase da infância para a adolescência, durante o período do autoconhecimento, a gente se compara às pessoas que são diferentes da gente. Então tiveram momentos que eu não gostei do meu cabelo", relembra.
"Aceitar o cabelo crespo não é um ato simples, é um processo emocional, social e, acima de tudo, político. Nós pessoas negras crescemos ouvindo que o nosso cabelo é difícil, feio, desarrumado e sujo. Uma construção historicamente racista que visa desvalorizar o que remete à nossa ancestralidade negra", aponta a psicóloga Janaina de Souza Martins.
Janaina também explica que essa não aceitação em relação ao crespo, experienciada por várias pessoas, não nasce do nada, mas é algo construído ao longo da vida, por meio de imagens, comentários, brincadeiras violentas e, principalmente, a ausência de representações positivas. "Crescemos sem nos enxergar e isso impacta profundamente o nosso inconsciente, gerando traumas e insegurança", completa.
Autoestima construída
Entender a origem da aversão às características da negritude, é o primeiro passo para a desconstrução desses padrões. "Para adultos que ainda lutam com essa aceitação, o meu convite é ser gentil consigo. Não há culpa em demorar a se reconectar com a sua negritude. Fomos ensinados a nos afastar dela. Mas há sim, uma responsabilidade em buscar esse reencontro. A terapia pode ser um espaço seguro para olhar para essa dor e ressignificá-la", destaca a psicóloga.
Ela ainda reforça que para crianças e adolescentes, esse trabalho é ainda mais importante. "Um conselho fundamental para pais e cuidadores é quebrar esse ciclo. Elogios são sempre bem-vindos. É preciso nomear o crespo como bonito, forte e cheio de história. Oferecer referências positivas como livros com protagonistas negros, bonecas e desenhos com cabelo crespo. Apresentar pessoas reais que sejam um espelho saudável da negritude também é essencial", diz Janaina.
"Eu lia muitas revistas teens e por mais que a maioria das meninas dessas revistas fossem brancas, sempre tinha uma pretinha ali no meio, com cabelo cacheado ou crespo. Por mais que não existissem muitos produtos e a indústria para crespos estava crescendo, essas revistas traziam dicas de como cuidar. Então, com elas, aprendi a cuidar e gostar do meu cabelo", recorda Rafaela sobre seu processo de autoaceitação.
A social media menciona que até hoje busca referências de identificação: "Sem meu black, eu não seria nem a metade da Rafaela que eu sou hoje. Eu acredito que 95% das mulheres que eu sigo nas redes sociais são mulheres pretas ou mulheres com cabelos crespos. Isso também contribui muito para minha autoestima. Quando você segue pessoas diferentes de você, querendo ou não, você se compara."
Acreditamos que é preciso pautar politicamente a tentativa de embranquecimento da raça negra e de apagamento de nossa identidade e é por esta razão que uma data oficial como essa ainda é necessária. Que nossos cabelos crespos sejam símbolo de luta e estimulem a articulação de outras pautas que visem corrigir as desigualdades do país, sobretudo, as injustiças cometidas contra as pessoas negras e contra as mulheres - Leci Brandão, na justificativa do projeto de lei.
Proteção e evolução
Para além da identidade e estética, o cabelo é uma ferramenta evolutiva. Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Science, em 2023, cabelos crespos são mais eficientes na proteção contra o calor e retenção da umidade.
Para o experimento, pesquisadores simularam a radiação solar através de lâmpadas e utilizaram manequins com perucas de diversas curvaturas, constatando que cabelos cacheados e crespos proporcionam uma termorregulação mais eficiente, além de minimizar a necessidade de suor para compensar o ganho de calor.
Os fios encaracolados são capazes de aumentar a distância entre a pele e a superfície do cabelo, além de armazenarem bolsas de ar que atuam como um isolante térmico eficaz. Essas características permitiram que povos antepassados se adaptassem ao calor e a baixa umidade do continente africano, o que pode indicar que essa adaptação permitiu o crescimento do cérebro humano até o seu tamanho atual.
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