"A diplomacia é a arte do possível, de alcançar as coisas. Alguns começam as guerras e os diplomatas as terminam." É assim que Benigno Pérez Fernández, embaixador e atual cônsul-geral de Cuba em São Paulo, define a sua carreira.

O Dia do Cônsul é celebrado anualmente em 6 de agosto e foi instituído pela Lei 9339/1996. A data busca reconhecer e valorizar uma das profissões mais importantes para boa relação entre nações e manutenção da diplomacia.

"A diplomacia é uma atividade que envolve fundamentalmente três grandes pilares: grande informação, representar o estado e negociar em nome do estado", explica Felipe Estre, internacionalista e professor da Universidade de Brasília (UnB).

Essa atividade é fundamental na prevenção de conflitos e na promoção de interesses econômicos e culturais. Para Estre, as representações internacionais em outros estados ajudam a promover um mundo mais plural e auxiliam empresas que querem importar ou exportar, fazendo o chamado "meio de campo" entre as nações.

Consulados

Enquanto as embaixadas estão concentradas nas capitais e são responsáveis pelas relações bilaterais entre nações, os consulados atendem à comunidade de um país em solo estrangeiro. Entre as atividades oferecidas, estão a emissão de visto, passaporte, cidadania e permissão do exercício do direito de voto.

Segundo Estre, há diferentes formas de como um consulado pode ser implantado. "Têm essas atividades burocráticas mais clássicas, mas o consulado também pode promover atividades culturais, criar estruturas específicas como biblioteca ou um centro de cultura", destaca.

A rotina de um cônsul, autoridade responsável pela gestão dos consulados, pode variar dependendo do país e das demandas específicas da região. "A minha atividade se concentra mais sobre o cuidado da comunidade italiana, os serviços consulares, atividades comerciais, atividades culturais", descreve Domenico Fornara, cônsul-geral da Itália em São Paulo.

O Consulado Italiano em São Paulo é um consulado de primeira classe, ou seja, vai além de apenas atividades burocráticas. "Também temos a necessidade de trabalhar para cuidar do relacionamento institucional com as autoridades locais, da ajuda na interação internacional da nossa economia e de fazer promoção da nossa cultura com eventos e atividades", explica Fornara.

São Paulo foi o destino de cerca de 1,4 milhões de imigrantes italianos durante 1870 e 1920, tornando a cidade "casa" de quase metade dos descendentes de italianos no mundo. "Essa irmandade cultural nos ajuda muito no nosso dia-a-dia, mas também na estruturação de projetos importantes, políticos, culturais, econômicos", completa o cônsul.

Os consulados podem ser chefiados por cônsules gerais, profissionais da carreira diplomática e nomeados pelo governo do qual representam, ou honorários, que exercem a função de forma voluntária e não são servidores da carreira diplomática. "Muitas vezes são Estados pequenos que não têm como ter uma representação maior, então eles pegam uma pessoa que já está em outro Estado para ser um cônsul honorário, um ponto de contato", detalha o professor da UnB.

Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, a cidade sedia mais de cem representações internacionais, entre consulados, câmaras de comércio e escritórios de representação.

Alesp

Nas últimas décadas, a paradiplomacia, comum em países da América do Norte e da Europa, tem ganhado força no Brasil. Essa prática é uma vertente da diplomacia que permite que cidades e estados atuem no cenário internacional sem depender diretamente do governo federal.

De acordo com Estre, o Estado de São Paulo é um grande exemplo de como estruturas governamentais são pontes de contato essenciais para fomentar a relação entre países. No entanto, o internacionalista explica que os deputados estaduais não têm necessariamente uma competência relacionada com a atuação externa, o que faz com que seja uma dinâmica pessoal dos políticos. "O espaço institucional é relativamente restrito, mas isso não quer dizer que a gente não possa ter deputados que buscam fomentar essas políticas dentro do Estado", completa.

É neste contexto que a Comissão de Relações Internacionais da Alesp aprovou a Resolução 945/2024, que prevê a criação de Grupos da Amizade entre Nações. A iniciativa foi proposta pelos deputados Maurici (PT) e Gil Diniz (PL) para fomentar a cooperação parlamentar do estado no cenário internacional.

Cuba foi o primeiro país a formalizar a parceria, em março deste ano. A comissão também já deu aval para iniciativas semelhantes com Rússia, Alemanha e Azerbaijão. "Esse é o esforço que a gente tem feito para aproximar os consulados dos municípios aqui do estado e das suas realidades, do ponto de vista cultural, econômico, turístico, social. Há uma gama de possibilidades muito grande que tentamos explorar ao aproximar consulados de municípios", reflete Maurici.

A Comissão de Relações Internacionais da Alesp é atualmente presidida pelo deputado Paulo Fiorilo (PT) e sua missão é fomentar a integração entre a população paulista e as representações consulares e demais organismos internacionais sediados no Estado.