Investimento em negócios próprios é alternativa para mulheres que saem de situações de violência
17/08/2025 08:00 | Dia Nacional da Mulher Empresária | Gabriel Eid - Fotos: PxHere e Divulgação / Cristina de Mello e Rose Nery



De 2012 até 2024, o número de mulheres empreendedoras cresceu mais de 25% no Brasil. Elas estão à frente de um terço de todos os negócios, proporção que ainda tem muito a melhorar. Apesar do cenário de precarização e falta de incentivo que dificulta que esses negócios prosperem, uma gama de mulheres se organiza para construir seus próprios empreendimentos e superar cenários de violência.
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A gestora estadual do Programa Sebrae Delas, Ana Flávia Silva indica que a construção do próprio negócio - se realizada com a devida capacitação e apoio financeiro - pode ser uma ferramenta na superação de relacionamentos abusivos.
A pesquisa "Redes de apoio e saídas institucionais para mulheres em situação de violência doméstica", realizada em 2022 pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), apontou que a maioria das mulheres não conseguem sair de relações violentas por depender economicamente do parceiro.
"Além da questão financeira, o empreendedorismo permite que elas tenham conexão com outras e tenham uma rede de apoio", indica a especialista do Sebrae. Para isso, Ana Flávia defende a garantia de crédito e capacitação como uma condição fundamental. Segundo ela, a maioria dos negócios femininos não completam um ciclo de três anos devido à falta de incentivo e pelo cansaço do trabalho doméstico, que ainda recai sobre as mulheres.
Menores salários
A professora de economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Cristina de Mello conta como construiu sua trajetória em um meio predominantemente masculino. Esta realidade, de acordo com a professora, tornou o estudo sobre gênero indissociável do seu trabalho.
Em sua carreira, a professora afirma que conheceu o machismo no meio empresarial e já ouviu diversas desculpas para ganhar menos que homens em sua função. "Eu já ouvi uma história de que a minha área era deficitária e que, se eu ganhasse o mesmo do que eles, teriam que fechar o setor e desempregar todas as pessoas", diz.
A professora da PUC responsabiliza a condição salarial inferior e a pouca oportunidade no mercado de trabalho - muitas vezes em situações de mais escolaridade - pelo ingresso de muitas mulheres em negócios próprios. Ela indica que o que as leva a empreender, muitas vezes, é a necessidade de conquistar renda em um ambiente profissional que nunca lhes deu condições adequadas para isso.
"Muitas vezes essa condição se desenha porque essa mulher não estudou, não teve uma inserção no mercado de trabalho, não teve um primeiro emprego e é muito mais difícil para ela conseguir encontrar um vínculo empregatício no mercado de trabalho formal. Então acaba que a solução muitas vezes é essa pessoa empreender, liderando uma iniciativa", afirmou.
Medo de não conseguir sustentar os filhos
A partir de suas pesquisas, a professora concorda que as relações abusivas têm a dependência financeira como um dos seus pilares fundamentais. Isso, segundo ela, subjuga as mulheres a permanecerem em uma situação de violência. Para ela, quando existem filhos, a angústia enfrentada por elas é ainda maior.
"Você não ter condições de se manter e cuidar dos seus filhos e precisar ficar nessa relação é algo cruel demais", aponta. Segundo ela, pela questão financeira, elas se colocam numa posição muito limitada e dependente, além de enfrentarem o ataque à sua autoestima pelo marido abusador.
"Sempre tem a condição delas não conseguirem imaginar como vão conseguir fazer o cuidado da família sem a renda. Isso é bastante difícil e duro. Não por acaso essas mulheres não têm essa renda e não empreendem, porque elas também sofrem uma violência emocional cotidiana que faz com que elas não acreditem que conseguem. E o mais difícil de tudo isso é mostrar que é possível e que elas tem condição sim."
A professora Cristina de Melo concorda com o papel que o empreendedorismo desempenha na geração de renda e autonomia feminina, mas alerta para o cuidado necessário para não transferir o peso da responsabilidade de conquistar essa independência unicamente na mulher. Por isso, segundo ela, a rede de apoio é fundamental.
"Quando a gente fala de empreendedorismo como solução, isso significa que a gente como sociedade não desenhou soluções e estamos transferindo para um indivíduo que já está numa condição subjugada, colocar na mão dessa pessoa que está sem força, é terceirizar demais esse problema", afirma.
Cooperação
Criadora de uma marca de moda e presidente da Comunidade Negra Mogiana, Rose Nery conta que já faliu cinco vezes antes de prosperar no seu atual empreendimento. A empresária já passou pelos ramos de telefonia e comida baiana.
Além disso, participou de uma oficina de costura e deu aulas de confecção de brincos afro para mulheres que não tinham condições de ter seus próprios equipamentos de trabalho. Mais tarde, o projeto se tornou uma cooperativa. Rose destacou a importância da troca e do apoio mútuo entre as empreendedoras, que, muitas vezes, chegam em situação de vulnerabilidade. Ela também defende que a capacitação precisa ser um pilar fundamental na formulação de políticas públicas.
Atualmente, Rose tem um emprego formal para conseguir complementar a renda. Segundo ela, a noção de empreendedorismo e os desafios que precisam ser enfrentados são diferentes para aquelas que não partem de famílias privilegiadas. "Quando você fala de empreender na periferia é muito diferente, o empreender na periferia a mulher precisa disso para sobreviver", afirma.
A pesquisadora Liliane Almeida, PhD em Empreendedorismo Feminino pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), indica que é necessário que a política de capacitação seja fornecida pelas instituições de forma acessível, justamente para conseguir atingir mulheres em vulnerabilidade.
"Dependendo financeiramente, o marido precisa financiar esse conhecimento que ela vai adquirir. Por isso, muitos órgãos aqui no Brasil, privados e públicos, trabalham no desenvolvimento do empreendedorismo de uma forma gratuita para as iniciantes", afirma. A especialista destacou que o apoio precisa ir além da rede de pessoas próximas da mulher. A mobilização de toda a sociedade em torno da causa é fundamental, segundo ela, e isso passa pelo incentivo financeiro.
Denúncia
Mulheres que sofrem violência doméstica ou conhecem alguma nessa situação podem quebrar o silêncio a partir de uma ligação no número 180 (Central de Atendimento à Mulher). O número 190 (Polícia Militar), 181 (Disque Denúncia) e os aplicativos 190 SP e SOS Mulher também são opções, todas anônimas. A denúncia é fundamental e necessária para quebrar os ciclos de violência.
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