Tabela SUS Paulista reduz filas em Santas Casas, responsáveis por 50% dos atendimentos do estado

Com recursos próprios do Tesouro Estadual, São Paulo estabelece política pública e corrige uma defasagem histórica, colocando a Saúde como prioridade
29/08/2025 15:41 | Política Pública | Matheus Batista - Fotos: Reprodução

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Pronto socorro da Santa Casa de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351723.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Complexo da Santa Casa de Franca<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351724.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Hospital Central da Santa Casa de São Paulo<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351725.png' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Maria Dulce superintendente da Santa Casa de SP<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-08-2025/fg351726.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Em vigor desde 2024, a Tabela SUS Paulista é uma iniciativa pioneira do Estado de São Paulo criada para complementar os valores pagos pela tabela nacional do Sistema Único de Saúde aos hospitais filantrópicos paulistas. Por meio do complemento dos repasses do Ministério da Saúde pelos procedimentos hospitalares realizados, o Estado de São Paulo aumentou os atendimentos e diminuiu as filas na rede pública.

Com recursos próprios do Tesouro Estadual, São Paulo vem corrigindo uma defasagem histórica provocada pela ausência de reajustes na tabela SUS nacional, colocando a Saúde como prioridade e reconhecendo o trabalho das entidades responsáveis por 50% dos atendimentos de todo o estado.

Déficit histórico

Em 2025, um ano após entrar em vigor, o Governo Estadual anunciou que os repasses da tabela paulista somaram cerca de R$ 6 bilhões. Os hospitais e entidades contemplados, que no primeiro ano eram 354, chegaram a 800, com a ampliação da tabela aos hospitais autárquicos dos munícipios.

"Em alguns procedimentos, há quase 20 anos não tínhamos reajuste pela tabela SUS. Ao longo dos anos, o déficit foi se acumulando e ficando para as filantrópicas que, de alguma forma, foram cobrindo e acabaram ficando endividadas", conta a superintendente da Santa Casa de São Paulo, Maria Dulce Cardenuto.

Uma das maiores do país, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo conta com dois polos hospitalares na Capital e atende especialidades desde as mais básicas até as mais específicas. No estado de São Paulo, a unidade é referência para 52 municípios, o que se traduz em um universo de 10 milhões de pessoas que contam com os serviços de saúde da entidade.

Em 2024, a Santa Casa realizou 37 mil internações, 27 mil cirurgias - incluindo as de alta complexidade -, 2,7 milhões exames de imagem, 519 mil atendimentos ambulatoriais e 215 mil atendimentos de urgência pelo pronto socorro.

"Com o pronto socorro, a população é atendida diretamente pela porta da frente", explica Maria Dulce. "E é importante frisar que todos os atendimentos realizados aqui são exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde", reforça a superintendente.

Para Maria Dulce, os repasses complementares do Governo Estadual fazem a diferença na prestação de serviço e possibilitam o reequilíbrio das entidades filantrópicas.

"Em via de regra, trabalhávamos com defasagem, quando comparávamos o que recebíamos com o custo que o procedimento tem para o hospital", afirma. "Foi muito bem pensado esse mecanismo que prioriza as áreas onde as filas estão maiores, porque prioriza a puxada de ações para áreas onde as coisas estavam mais complexas", diz.

Política pública

A Tabela SUS Paulista foi pensada de forma a priorizar os procedimentos com mais demanda no estado, com a remuneração aos hospitais podendo ser até cinco vezes maior que a praticada nacionalmente. Como exemplo, em São Paulo a diária paga para internações neurológicas, oncológicas ou cardiovasculares passou de R$ 70,61 para R$ 235.

"Ainda como resquício da pandemia, tínhamos muitas cirurgias não realizadas e filas maiores. Para os procedimentos em que ela foi colocada fez bastante diferença", afirma Maria Dulce.

A superintendente acredita na possibilidade de ampliação da política pública e que mais atendimentos e hospitais podem ser contemplados pela tabela. "Atendimentos ambulatoriais, que são consultas e procedimentos em que não há internação, ainda não foram contemplados pela política. Tenho conseguido fazer a interlocução com o Estado sobre nossos atendimentos e eles estão sempre estudando", diz.

Formulação

A construção da Tabela SUS Paulista passou por estudos da Secretaria de Estado da Saúde e envolveu a criação de um grupo técnico com representantes da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado (Fehosp).

O superintendente do Grupo Santa Casa de Franca, Thiago Silva, participou desta formulação e conta como a política pública dinamizou o atendimento dos hospitais filantrópicos.

"A Tabela SUS Paulista mudou a lógica de produção e o jeito que as Santas Casas trabalhavam. A partir do momento em que você pode atender mais e, naturalmente gastar mais, mas com repasses complementares, você consegue começar a dar vazão para filas históricas que existiam", afirma.

Rede hospitalar

O Grupo Santa Casa de Franca é outro gigante complexo hospitalar paulista, responsável pelo gerenciamento de três hospitais: o Hospital Geral, o Hospital do Coração e o Hospital do Câncer, todos em Franca. Além desses, o grupo também gerencia seis Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs), nos municípios de Franca, Casa Branca, Campinas, Avaré, São Carlos e Ribeirão Preto. "Somos uma rede hospitalar de grande porte, referência regional. Somados, são 6 milhões de pessoas atendidas, de 108 municípios do estado de São Paulo", conta o superintendente.

No pouco mais de um ano e meio que a tabela paulista está em vigor, a Santa Casa de Franca conseguiu criar 55 novos leitos, chegando a 345 leitos exclusivos para o SUS. "Zeramos a fila de cateterismo cardíaco, tivemos um aumento na resolutividade cirúrgica e expansão de acesso a procedimentos eletivos de alta e média complexidade. Além disso, tivemos incremento de receita", conta Thiago Silva.

De acordo com balanço da Santa Casa de Franca, antes da nova tabela a entidade recebia mensalmente cerca de R$ 2,8 milhões pelos serviços prestados ao SUS. Com a nova política estadual, que remunera por produção, este valor passou a ser de R$ 5,8 milhões mensais. "O novo teto, como ele é por produção, beneficia muito a santa Casa de Franca, que é 95% SUS, reduzindo o déficit assistencial e também o déficit de caixa", afirma.

alesp