Dia Nacional da Televisão relembra pioneirismo da TV Tupi, 1ª emissora da América do Sul

Fundada em São Paulo, 18 de setembro marca a primeira transmissão televisiva em rede aberta no país
18/09/2025 15:08 | 75 anos de TV no Brasil | Fernanda Franco - Fotos: Fernanda Franco

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Câmera da primeira transmissão na TV Tupi<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2025/fg352863.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Assis Chateaubriand (fonte: Agência Nacional)<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2025/fg352882.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Fotos da atriz Vida Alves fundadora do museu <a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2025/fg352883.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Os pioneiros<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2025/fg352899.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Participação da Alesp<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2025/fg353620.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Participa<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-09-2025/fg353621.jpeg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

"Boa noite. Está no ar a televisão do Brasil". Foi com essas palavras que a atriz Sonia Maria Dorce começou a primeira transmissão televisiva oficial da América do Sul, feita pela TV Tupi, em São Paulo, no dia 18 de setembro de 1950. Sonia foi assistida por cerca de 200 aparelhos em diferentes pontos comerciais da capital, comprados e instalados pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand - fundador da emissora.

A Tupi transformou São Paulo no berço da televisão brasileira e abriu caminho para uma revolução cultural e tecnológica, sendo símbolo da democratização no acesso à informação e ao entretenimento no país. 75 anos depois, a televisão está presente em 95% dos lares brasileiros, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Surgimento e declínio

Para o professor de Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da USP, Luiz Fernando Santoro, e também ex-editor de novelas da emissora, a criação da Tupi foi um empreendimento ousado, marcado mais pelo pioneirismo do que pela viabilidade econômica.

"Até meados da década de 1950, não havia sequer aparelhos de televisão suficientes no Brasil que justificassem a existência de uma emissora. A Tupi nasceu de uma visão empreendedora e também do envolvimento de intelectuais, artistas do teatro e do cinema, que viram na TV uma nova forma de expressão artística", afirma.

Apesar de conservadora e destinada à elite paulista, a emissora não se alinhou ao regime militar instaurado em 1964. Ao contrário da Rede Globo, fundada um ano após o golpe, e que se consolidou como porta-voz dos governos militares. Santoro explica que a Globo uniu interesses do governo da época e interesses mercadológicos das grandes agências norte-americanas, que apoiavam a emissora em tecnologia, permitindo que seus programas fossem transmitidos para o Brasil inteiro. Enquanto isso, a TV Tupi sofria com a asfixia publicitária e falta de apoio oficial. "Atrasavam nossos salários por dois ou três meses. Por isso, os profissionais e a classe artística foram migrando, especialmente para a Globo", relembra.

Na avaliação do professor, a situação ficou especialmente crítica após a morte de Chateaubriand em 1968: "A TV Tupi era uma rede de emissoras associadas de rádio e televisão. Diferente da Rede Globo, que era toda administrada por Roberto Marinho. Depois que Chateaubriand morreu, a gestão ficou fragmentada."

Antes do fim, a TV Tupi e a Rede Globo competiram durante muitos anos em qualidade e audiência. "Só não tinha como competir na parte financeira, e o fechamento da Tupi tem a ver principalmente com isso e um pouco de gestão".

Inovação

Na visão de Santoro, a grande inovação da Tupi foi a telenovela, formato que se tornou a "espinha dorsal da televisão brasileira". Diferente da Globo, que mais tarde incorporaria tecnologias mais avançadas, a Tupi mantinha forte ligação com o teatro. "As novelas eram marcadas pelo trabalho intenso dos atores, com foco nas expressões faciais e na dramaturgia", explica.

Além das novelas, a emissora criou uma programação de grande apelo popular, como os programas 'Clube dos Artistas', 'Almoço com as Estrelas' e os primeiros shows de Abelardo Barbosa, o 'Chacrinha'. O esporte também tinha lugar de destaque, com transmissões de futebol aos domingos a tarde que se tornaram referência para as gerações seguintes de narradores e comentaristas.

A lista de nomes que passaram pela Tupi é extensa: de Hebe Camargo a Lima Duarte, de Fernanda Montenegro a Ivani Ribeiro, autora de novelas de grande sucesso. O professor lembra ainda que foi na emissora que surgiram produções marcantes, como a novela A Viagem (1973), a primeira novela transmitida em cores e que teve trilha sonora de Roberto Carlos, que marcou uma geração.

"Para mim, o maior legado da Tupi foi ser uma escola de atores, diretores e técnicos. Todos os maiores nomes da época passaram por lá em algum momento e são inspiração hoje. Foi a emissora que deu base para a televisão artística e técnica em São Paulo e no Brasil", ressalta.

Museu Brasileiro de Rádio e Televisão

O legado da emissora segue preservado no Museu Brasileiro de Rádio e Televisão (MBRTV), criado em 1995 a partir da iniciativa da atriz Vida Alves - conhecida por ter dado o primeiro beijo transmitido pela televisão brasileira, na TV Tupi. Hoje, em parceria com a Fundação Belas Artes, o museu está localizado na Vila Mariana, capital paulista.

Atualmente o museu reúne cerca de 100 mil itens de acervo, entre figurinos, roteiros, livros, uniformes da equipe de apoio, troféus, antenas, memorandos, equipamentos e registros audiovisuais e até comanda de restaurante. Todos mantidos majoritariamente por meio de doações, por parte de emissoras e atores, de forma colaborativa.

O grande diferencial do museu é que a maioria do acervo pode ser tocado pelas pessoas, com exceção de itens mais raros, como a primeira câmera. "É um museu intimista", define Elmo Francfort, diretor do museu. Ele defende a valorização do museu como um espaço central da história do rádio e da televisão brasileira além de um espaço educativo.

O diretor também destaca que a data de 18 de setembro não é apenas uma homenagem ao passado, mas também um convite para refletir sobre o futuro do audiovisual. "Assim como os pioneiros dos anos 1950 buscavam encantar o público com algo novo, a chegada da TV 3.0 em 2026 trará outro salto tecnológico. Preservar a memória é essencial para entender os caminhos da comunicação no Brasil", afirma.

O papel da Alesp

Desde 2001, por meio da Lei nº 10.255, a data foi oficializada como Dia Nacional da Televisão, em referência à estreia e pioneirismo da TV Tupi. Mas a iniciativa nasceu na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por meio dos ex-deputados Afanásio Jazadji e Ricardo Tripoli, que propuseram o Dia Estadual da Televisão, também em 18 de setembro.

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