Lideranças do amanhã: deputadas e jovens ativistas projetam o futuro das mulheres na política

Decididas a conquistar mais direitos para as mulheres, novas vozes femininas surgem, espelhando-se nas atuais representantes da Alesp
08/03/2024 15:03 | Dia Internacional da Mulher | Giullia Chiara e Gustavo Oreb - Fotos: Larissa Navarro; Bruna Sampaio; Carol Jacob e Ag. Alesp

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Co-deputada Letícia Chagas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2024/fg320219.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Bancária Anaisa Anhaia<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2024/fg320223.jfif' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Educadora Larissa Agostini<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2024/fg320221.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputada Maria Lúcia Amary<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2024/fg320222.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputada Monica Seixas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2024/fg320224.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputada Valéria Bolsonaro<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2024/fg320225.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Deputada Andréa Werner<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-03-2024/fg320239.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Entrar na vida política não é tarefa fácil, principalmente para uma mulher. Entretanto, o número de lideranças femininas na sociedade brasileira tem aumentado a cada ano que passa. Na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, não é diferente. A atual Legislatura conta com o maior número de deputadas da história da Casa, totalizando 25 parlamentares.

Com isso em mente, além de criar novas medidas que ajudem as mulheres paulistas a conquistarem mais direitos, as deputadas da Alesp já projetam, com a mesma importância, um futuro repleto de novas lideranças femininas, que consigam representar a força e o reflexo de suas atuações para as próximas gerações.

Novas vozes

Exemplo desse horizonte é a co-deputada do Movimento Pretas na Alesp, Letícia Chagas. Com apenas 23 anos, a jovem conseguiu alcançar um cargo de grande relevância no maior Parlamento estadual da América Latina.

Formada em direito na primeira turma de cotas étnico-raciais da USP, de 2018, Letícia relatou que, desde a época de estudos, a diferença de perspectiva para ingressar na política entre homens e mulheres era evidente.

"A própria imagem do político brasileiro é estigmatizada. Em geral, são figuras masculinas, de idade avançada, vestindo terno e gravata. A partir dessa visão, muitas pessoas não dão crédito suficiente às mulheres que gostariam de participar ativamente da política, principalmente as mais jovens", apontou Letícia.

Conhecimento

Para combater os julgamentos e obstáculos impostos às mulheres mais jovens, é necessário difundir materiais de estudo que tragam consciência política sobre o grupo a qual pertencem. Pelo menos é o que a ativista, internacionalista e educadora menstrual, Larissa Agostini, de 30 anos, indicou como essencial para as jovens que gostariam de ingressar no ativismo político/social.

Livros como "O Calibã e a Bruxa", de Silvia Federici, "A Criação do Patriarcado", de Gerda Lerner e "O Lado Invisível da Economia", de Katrine Marçal, foram indicados por ela como referências imprescindíveis para conhecer mais profundamente o ativismo político feminino. "Se Adam Smith escreveu A Riqueza das Nações, é porque a mãe dele colocava o prato de comida para ele", reiterou Larissa.

Larissa também citou materiais oficiais importantes para o conhecimento dos direitos femininos, como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, o Caderno de Assistência Materna Neonatal, o Caderno de Planejamento de Direitos Reprodutivos, e o Caderno de Saúde LGBTQIAP +.

Presidente da Comissão de Defesa e dos Direitos das Mulheres, a deputada Valéria Bolsonaro (PL) corrobora com este pensamento. Em sua experiência como professora nos bairros da periferia do município de Campinas, ela pôde observar uma defasagem de informações entre suas alunas em comparação a outras pessoas de camadas mais favorecidas econômica e socialmente na mesma cidade.

"Nos lugares onde lecionei, as mulheres ainda não conseguiram todas as informações que precisam. É um trabalho de formiguinha, existem vários fatores para mulheres estarem com educação defasada. O desinteresse da sociedade, o medo de buscar informação e as dificuldades de algumas situações, como leis insuficientes", descreveu Valéria.

Ambições

A partir de um repertório maior, as jovens podem ganhar a capacidade de realizar, efetivamente, suas ideias para aprimorar os direitos femininos no Estado de São Paulo e em todo o País. Uma das iniciativas citadas pela co-parlamentar Letícia Chagas foi a chamada "licença paternidade", que, de acordo com ela, concederia mais tempo de licença trabalhista aos pais de recém-nascidos, dessa forma, aliviando a carga de tarefas das mães.

"Na situação atual, o homem só é liberado para ficar em casa e cuidar da mulher e do filho por alguns dias, enquanto nos meses seguintes, a mãe fica sobrecarregada com todo o trabalho de criar a criança sozinha. Isso precisa mudar urgentemente para que a mulher evolua e cresça na carreira de forma independente", pregou a jovem co-deputada.

Já na visão da bancária Anaisa Anhaia, de 22 anos, a segurança feminina é uma pauta de ainda maior importância para o futuro. "Embora vivamos em um país que diz defender a causa feminina, ainda existem muitas mulheres sendo desvalorizadas e abusadas em diversas áreas", opinou. "Não bastando a desvalorização, não temos total segurança para andarmos sozinhas em determinados lugares, principalmente locais públicos, e isso precisa mudar para ontem", concluiu.

Obstáculos

A sobrecarga do dia a dia é um dos fatores que impedem as mulheres de ingressarem na política. Com jornadas duplas e triplas de trabalho, serviços de cuidado não remunerado e vulnerabilidade social, muitas acabam não enxergando possibilidades no campo político, e essa realidade só piora para mulheres com deficiência, não-brancas ou em situação de pobreza.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, em 2019, a renda de homens brancos era 129% maior que a de mulheres pretas e pardas. "A mulher tem muitas atribuições, preocupações além do comum, e tudo isso atrasa o progresso de forma estrutural. Em resumo, o direcionamento social dos cuidados, focados somente em mulheres, impede que elas se dediquem integralmente aos seus sonhos", destacou a deputada Monica Seixas (Psol).

Para ela, o maior campo de batalha de uma mulher é dentro de sua própria casa, pensamento compartilhado com a deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), que disse acreditar que as mulheres têm dificuldade de conciliar o trabalho com os afazeres domésticos, já que muitas vezes os companheiros não colaboram com as demandas da casa.

Representatividade

A atuação das deputadas da Casa serve de inspiração, tanto para as mais jovens quanto para as adultas formadas que buscam independência, segundo Letícia Chagas. "As mulheres eleitas para representar São Paulo, na Alesp, demonstram um grande avanço na consciência da população. Meninas hoje podem se espelhar aqui, pensando política de diferentes maneiras. Precisamos garantir que todas as mulheres possam participar da construção de um país melhor", projetou.

Para a deputada Andrea Werner (PSB), que exerce seu primeiro mandato no Parlamento, ser mulher em um universo majoritariamente masculino passa uma mensagem simbólica forte para outras mulheres. "A ideia de que elas podem buscar a mudança que elas pretendem onde quiserem, inclusive no maior parlamento estadual do País, é extremamente importante", disse.

A parlamentar enxerga uma infinidade de novas lideranças femininas despontando na sociedade e de diferentes gerações, de diferentes causas, mas reconhece que os partidos precisam estar abertos e efetivamente dispostos a recepcioná-las e viabilizá-las.

Conquista pelos direitos

Os avanços conquistados por mulheres até hoje se dão, principalmente, através da ambição de uma classe que reconhece a existência de um longo caminho até a emancipação, mas que, sobretudo, se dedica eternamente para que não haja retrocesso ao que já foi alcançado, como conta a deputada Maria Lúcia Amary.

"O número de mulheres [na política] aumenta e depois diminui. Eu, por exemplo, fui a primeira mulher vice-presidente da Assembleia. Na gestão seguinte, não tivemos nenhuma mulher na Mesa [diretora da Alesp]. Isso impede que a gente avance mais. Temos que estar eternamente vigilantes", exemplificou a parlamentar.

Apesar de terem sido frequentemente apagadas ao longo da história, é comum que mulheres sejam protagonistas da luta pelos seus direitos e de seus filhos, segundo Larissa Agostini. "Eu me inspiro em todas as mulheres que vieram antes, porque os movimentos sociais, todas as lutas e conquistas, elas estiveram envolvidas com lideranças femininas", contou. "Gosto sempre de citar Ana Maria Costa, ela foi a mulher que deu origem ao PAISM, que é o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Se temos o SUS [Sistema Único de Saúde] hoje, devemos isso a ela, que lutou pelos direitos das mulheres que, naquela época, enfrentavam a esterilização compulsória", concluiu a jovem internacionalista.

Por outro lado, a deputada Valéria Bolsonaro busca, segundo ela, aumentar o direito de acesso à saúde para mulheres e crianças, assim como intensificar o combate à violência contra mulheres e crianças. "Hoje, fazemos um trabalho muito grande para o enfrentamento da violência sexual, doméstica e familiar. Não só com a mulher, mas também com seus filhos. Fizemos vários aportes de verba parlamentar para hospitais que precisam de aparelhos. Venho conversando com Governo do Estado para o pedido de carretas de mamografia e papanicolau", destacou.



"Eu quero que pensemos sobre quão longe chegamos politicamente. Eu diria que realizamos o que é eufemisticamente chamado de 'quebrar o silêncio'. Nós começamos a falar sobre acontecimentos, experiências, realidades e verdades jamais ditas antes; especialmente experiências que aconteceram com mulheres e que foram escondidas - experiências que a sociedade não nomeou."

- Andrea Dworkin, escritora feminista estadunidense


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