Um ato solene realizado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, na última sexta-feira (20), homenageou os 50 anos da iniciação e (re) africanização de Nengua kwa Nkisi Lembamuxi (Geurena Passos Santos - Mãe Florzinha), líder religiosa de tradição angolana, que no século XXI mantém-se fiel aos ensinamentos do candomblé Angola. O evento foi solicitado pelo deputado Maurici (PT) e ocorreu no Plenário José Bonifácio.

Mameto Lembamuxi, herdeira direta da Linhagem Tumbenci, primeira casa de matriz Congo-Angola, dinamizada pelos ensinamentos deixados pela Nengua Twenda kwa Nzambi - Maria Neném, com as orientações do Caboclo Pedra Preta, cultua as tradições, as rezas, os cânticos e recomenda banhos de folhas sagradas.

A assessora Mônica Cristina Araújo Lima Horta abriu a solenidade em nome do deputado Maurici (PT), dando as boas-vindas à homenageada, à comitiva dos terreiros Inzo Tumbansi (SP) e Tumbenci de Maria Neném (BA) e a todos os presentes. "O deputado Maurici pediu que eu transmitisse para vocês todo o respeito e todo o reconhecimento que ele tem pelas religiões africanas", declarou Mônica. Reforço, ainda, a preocupação do deputado "com o resgate da memória do povo brasileiro de raízes africanas".

Tata Katuvanjeci - Pai Walmir Damasceno, sacerdote do Inzo Tubamsi, iniciou o ato agradecendo a todos os ancestrais e a presença de todos. "É uma honra sobremaneira ocupar este espaço, o Plenário José Bonifácio, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e dizer da alegria de celebrar 50 anos da iniciação de uma mulher guerreira, de uma mulher de um simbolismo imensurável para a cultura Banto no Brasil, e para o candomblé de nação Conga-Angola", anunciou Pai Walmir Damasceno.

Na sequência, Ndembwemin dia Nzambi (Liliane Braga), além de homenagear a matriarca, trouxe um pouco da história do Terreiro de Tumbenci, que foi fundado pelo africano liberto, Roberto Barros Reis (Tata Quimbanda Quinunga sua dijina), em 1850, no bairro do Beiru/Tancredo Neves, em Salvador (Ba).

Depois vieram as saudações de Renato Freitas, assessor da vereadora Jussara Basso dos Santos (PSOL), que ressaltou a importância desta homenagem de reconhecimento da importância da memória e do legado do terreiro e da matriarca Mameto Lembamuxi, uma história de luta e resistência.

Já Kota Makula Kalembeji (Marisa Oliveira Passos dos Santos - Mãe Rosa, de Kavungu), agradeceu a oportunidade de estar na Alesp, "um espaço do povo", que "tem sim que ser ocupado", e seguiu com as saudações à Nengua kwa Nkisi Lembamuxi (Geurena Passos Santos, Mãe Florzinha). "E aqui quero fazer uma saudação a essa nossa protetora, mãe, guerreira, acolhedora, que nos passa essa energia, força e poder", destacou Kota Makula Kalembeji.

Mameto Lembamuxi, emocionada, disse que foi pega de surpresa, que não estava esperando mais esta homenagem. As celebrações começaram no final de setembro em Salvador (BA), e em meados de outubro no terreiro Inzo Tumbansi, em Itapecerica da Serra (SP).

"Eu quero louvar o Senhor que me trouxe até aqui, que é a razão da minha vida, a razão do meu viver, a razão do sustento da minha família, dos filhos de santo e dos amigos que atendem aquele portão que se chama Terreiro Tumbenci. E todos os ancestrais que me cercam, que me dão força para continuar lutando, lutando pelo Tumbenci. Gratidão por este momento", proclamou Mameto Lembamuxi.

"A luta de minha mãe Lembamuxi ultrapassa fronteiras, vai para além da Bahia [...] e desagua em São Paulo e por todos os lugares por onde ela pisa, ela caminha", reforçou Tata Katuvanjeci - Pai Walmir Damasceno.



Saiba mais:

Artigo Terreiro Tumbenci e o uso das plantas que curam: Mutalombô e Catendê, protegei os nossos corpos. Costa Hildete Santos; e Vitorino, César costa, 2020 (https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/7777)



Documentário "Cá te espero no Tumbenci - saberes e fazeres", disponível no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=SNc-iaOLV2I).