Patrimônio Cultural Imaterial, o samba possui uma importância inestimável para a sociedade paulista. Há cerca de um século, o ritmo é um símbolo do estado, em especial, para o povo negro de São Paulo. Na noite de quinta-feira (1), mulheres que construíram e constroem o samba paulista há pelo menos cinco décadas foram homenageadas na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

"Infelizmente, muitas vezes, nós, sambistas, nos dedicamos e, quando saímos de nossas entidades, não recebemos nem mesmo um papel de pão escrito 'obrigado'. Então essa é uma valorização dessas mulheres que têm mais de 50 anos de serviços prestados em território nacional e internacional", comentou a presidente do Império das Baluartes do Samba do Estado de São Paulo, entidade que organiza a premiação, Stellita Marcia Oliveira.

Solicitado pela deputada Paula da Bancada Feminista (Psol), o evento condecorou 15 personalidades com o título de imperatriz e baluarte do samba. "Para nós é um grande orgulho ser parte dessa homenagem, afinal, reconhecemos a importância das mulheres ocuparem os espaços. Nós temos muita memória dos homens que são fundadores de escolas, que têm décadas de história, mas muitas vezes esquecemos o papel importantíssimo que as mulheres têm nessa construção", afirmou a parlamentar.

Abrir caminhos

Para os presentes, esta homenagem ainda tem o papel fundamental de reconhecer o trabalho dessas pessoas em vida, para que saibam a importância que tiveram no surgimento de sambistas mais novas.

"Não é só fazer homenagem póstuma. É reconhecer mulheres que abriram e seguem abrindo o espaço para mulheres que, cada vez mais, ocupam novos lugares nas escolas de samba", explicou Paula.

Uma dessas sambistas mais jovens é Solange Cruz, que ocupa atualmente o mais alto posto da bicampeã do Carnaval paulista, a Mocidade Alegre. Presidente da agremiação, Solange compôs a Mesa do evento e destacou o papel das homenageadas em sua vida.

"Todo mundo que está sendo homenageado tem uma história e a gente não pode deixar que isso se apague. Isso deve se perpetuar cada vez mais e essas iniciativas fazem com que lembremos da onde viemos e porque estamos aqui", comentou Solange.

Apesar de normalmente homenagear apenas mulheres, a premiação deste ano condecorou dois homens com o título de baluarte. "Meu sonho é que haja imperatrizes do samba por todo o nosso país, porque esse ritmo contribuiu muito para a sustentabilidade, manutenção e brilho do povo negro", disse Stellita, que faz parte também da Velha Guarda da Vai-Vai, uma das agremiações mais antigas e tradicionais de São Paulo.

Homenageadas

Entre os 15 homenageados estava Rosemeire Marcondes. Apesar de ter apenas 57 anos, Rose já possui mais de cinco décadas dedicadas ao samba, começando a desfilar aos 4 anos de idade. Ela é neta de Deolinda Madre, a Madrinha Eunice, mulher que fundou a Lavapés, primeira escola de samba de São Paulo.

"Sempre recebi homenagens pela minha avó ou pela Lavapés e hoje eu estou recebendo pelo meu trabalho. Então é muito gratificante, muito orgulho. Estou aqui representando essa cultura de mulheres, da nossa raça, da nossa cor que é o samba", disse Rose, que foi presidente da Lavapés por 23 anos, após a morte de sua avó. Por conta de sua importância, Madrinha Eunice tem uma estátua na Praça da Liberdade, no Centro de São Paulo, desde 2022.

Outra homenageada foi Leci Brandão, histórica sambista carioca e que hoje é deputada estadual na Alesp pelo PCdoB. Leci foi a primeira mulher a ocupar a ala de compositores da Mangueira e, como deputada, já aprovou leis que reconhecem o Samba e o desfile das escolas paulistas como Patrimônio Cultural Imaterial do estado. Além disso, instituiu o dia 2 de dezembro como Dia Estadual do Samba.

Assista ao evento, na íntegra, na transmissão feita pela TV Alesp:



Galeria de imagens do evento: https://www.flickr.com/photos/assembleiasp/albums/72177720319270591