'Julho Amarelo' alerta para riscos e mobiliza ações de prevenção para hepatites virais

Hepatite C é a que mais afeta a população brasileira, seguida da Tipo B; especialista destaca a adoção de medidas para prevenir contágio e garantir diagnóstico precoce da doença
15/07/2025 17:28 | Saúde | Daiana Rodrigues - Foto: Freepik/ Agência Alesp/ Arquivo Pessoal

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Alesp engajada no combate à hepatite<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2025/fg349342.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Isabel Bing: exemplo de luta contra hepatite C<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2025/fg349341.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Olhos amarelados são um dos sintomas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2025/fg349359.png' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Vacina é a melhor forma de prevenção<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2025/fg349361.jpg' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a> Pele avermelhada também é um dos sintomas<a style='float:right;color:#ccc' href='https://www3.al.sp.gov.br/repositorio/noticia/N-07-2025/fg349360.png' target=_blank><i class='bi bi-zoom-in'></i> Clique para ver a imagem </a>

Instituída no Brasil pela Lei Federal 13.802/2019, a campanha "Julho Amarelo" promove ações de conscientização sobre prevenção, diagnóstico precoce e tratamento das hepatites. A doença é caracterizada por inflamações no fígado causadas por vírus que, com o tempo, podem gerar graves complicações. A cor amarela foi escolhida como símbolo da campanha por estar associada à saúde do fígado. Destaca-se também o Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais, que é celebrado, anualmente, em 28 de julho.

A iniciativa engloba a realização de atividades integradas entre o Sistema Único de Saúde (SUS), órgãos da administração pública, instituições da sociedade civil e organismos internacionais. Juntos, esses atores incentivam a testagem rápida e gratuita para a doença, principalmente nas unidades básicas de saúde, a vacinação contra a hepatite B, que está disponível gratuitamente no SUS.

A Lei Federal 13.802/2019 ainda prevê outras medidas, como promoção de palestras e atividades educativas, ações de mídia e realização de eventos sobre o assunto. Outra ação é a iluminação amarela nos prédios públicos, como é o caso do Parlamento Paulista que, durante o mês de julho, está com a fachada amarela.

Brasil e SP contra a hepatite

Segundo o Relatório Global sobre Hepatites de 2024, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 3,5 mil pessoas morrem todos os dias em decorrência das hepatites B ou C. Os dados ainda apontam um total de 1,3 milhão de mortes ao ano, número equivalente ao de epidemias globais, como o HIV, a tuberculose e a malária.

Atualmente, o Brasil é signatário da Estratégia Global da OMS para eliminação das hepatites virais como problema de saúde pública até 2030. O plano abrange políticas intersetoriais voltadas para ampliar o número de testagens e diagnósticos, redução no número de casos, fortalecimento nos tratamentos, entre outros.

Um exemplo disso foi a consulta pública realizada pelo Ministério da Saúde, em 2024. O objetivo foi desenvolver um guia a partir de sugestões de prevenção, diagnóstico e tratamento das hepatites virais enviados por profissionais de saúde, organizações e cidadãos. Isso mostra como a participação ativa da sociedade colabora para a criação de políticas públicas eficazes para erradicar questões de saúde pública.

Como parte das ações deste mês, o Governo do Estado lançou um painel para monitorar algumas doenças, como a hepatite A. Essa ferramenta permite o acompanhamento em tempo real do número de casos, taxa de incidência por 100 mil habitantes, além de dados por faixa etária, sexo e outros recortes. A plataforma está disponível em https://nies.saude.sp.gov.br/ses/publico/dtha

Leis da Alesp

Nas últimas décadas, o Parlamento Paulista tem atuado de forma cada vez mais efetiva na ampliação dos cuidados com a saúde e o bem-estar da população. Uma dessas medidas é a Lei Estadual 13.923/2010, que instituiu o Dia Estadual de Combate às Hepatites, anualmente, celebrado em 19 de maio. "A criação da data busca divulgar para médicos e cidadãos a realidade dos portadores da inflamação, que é considerada a nova epidemia silenciosa do milênio", justificou o autor da norma, ex-presidente da Alesp Fernando Capez.

Outra iniciativa sobre o tema é a Lei Estadual 17.431/2021, de autoria do deputado Thiago Auricchio (PL). A norma tornou obrigatória na rede pública de saúde e nos hospitais a realização gratuita de exame sorológico de pré-natal em grávidas. O objetivo é diagnosticar as hepatites B e C, consideradas as mais graves, em gestantes com possibilidade de contaminação, como usuárias de drogas ou com histórico de doença sexualmente transmissível (DST), dentre outros.

Perfil clínico

Como a hepatite é uma doença que não apresenta sintomas na fase inicial, um dos principais desafios muitas dos órgãos de saúde pública é realizar o diagnóstico precoce. Por isso, recomenda-se que todas as pessoas façam o teste, gratuitamente, em qualquer unidade da rede pública de saúde.

A detecção precoce é fundamental para iniciar o tratamento e evitar que a doença evolua para um quadro crônico, que pode causar complicações graves, como cirrose, câncer de fígado ou insuficiência hepática.

Na fase aguda ou inicial, os sintomas são mais gerais, como mal-estar, perda de apetite, tontura, vômitos, fadiga. É na fase de crônica que surgem sinais mais específicos, como o amarelamento da pele e dos olhos (icterícia), urina escura, fezes claras e até comprometimento dos órgãos em alguns casos.

As hepatites podem ser classificadas pelos vírus dos tipos A, B, C, D (Delta) e E. De acordo com o Ministério da Saúde, a hepatite C é a mais comum no Brasil, seguida pelo tipo B. Em 2024, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo registrou 2.483 casos de hepatite B e 3.159 casos de hepatite C.

A hepatite A ocorre pela ingestão de água ou alimentos contaminados, contato pessoal próximo ou más condições de saneamento, sendo mais comum nas regiões Norte e Nordeste.

As hepatites B e C podem ser transmitidas por relações sexuais sem preservativo com uma pessoa infectada, compartilhamento de agulhas e seringas, objetos de uso pessoal, transfusões de sangue e reutilização de materiais para tatuagens. A infecção ainda pode ser transmitida durante a gestação ou o parto, causando impactos no desenvolvimento do bebê.

De acordo com a OMS, as duas espécies se manifestam de forma aguda ou crônica. Em 2024, aproximadamente, 70% dos casos agudos se tornaram crônicos, o que agravou o risco de desenvolvimento de cirrose em até 30% ao longo de 20 anos.

Isabel Bing, revisora publicitária aposentada de 64 anos, descobriu a hepatite C em 2003 por meio de exames de rotina, quando a doença ainda não manifestava sintomas. Em 2017, ela iniciou o tratamento pelo SUS, mas apesar do diagnóstico ter dado negativo, o vírus sofreu mutação, se multiplicou e o remédio perdeu a eficácia.

Nesse momento, a doença começou a apresentar sinais, como depressão, cansaço, dores musculares e "aranhas vasculares", que são vasos sanguíneos dilatados. Então, Isabel buscou um hepatologista da rede privada e descobriu um coquetel composto com vários medicamentos importados que garantia uma eficácia de 90%. "Embora eu tenha me curado da hepatite, fiquei com sequelas, como cirrose e câncer no fígado, que me levou a realizar um transplante em 2024. O vírus é como um inimigo invisível e traiçoeiro, porque você só descobre quando os órgãos estão afetados", relata.

A aposentada ainda conta que também desenvolveu encefalopatia hepática crônica, uma doença que ainda não possui tratamento. "O fígado deixa de metabolizar as proteínas, que viram toxinas e migram para o estômago. Isso gera um acúmulo de bactérias que impacta o cérebro e causa confusão mental e déficit cognitivo", explica.

Prevenção e tratamento

A principal medida de prevenção contra as hepatites A e B é a vacina, que é garantida pelo SUS através do Ministério da Saúde. "A vacina é uma medida segura e eficaz para prevenir as infecções das hepatites virais", explica Tatiana Lang, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo (SES-SP)

Tatiana ainda comenta que é fundamental que a população adote práticas seguras para evitar o contágio e garantir o diagnóstico precoce da doença. A imunização também é recomendada para recém-nascidos, independentemente da condição da mãe, já que a vacinação precoce é crucial para a prevenção da infecção crônica.

Já para a hepatite C ainda não existe vacina, mas a doença pode ser prevenida com cuidados simples, como o uso de camisinha, e o tratamento é oferecido pelo SUS.

O Brasil está entre os países que trataram o maior número de pessoas para hepatite C nos últimos anos, dispondo de medicamentos modernos, seguros e eficazes que levam à cura da infecção em poucas semanas.


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