A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo sediou, nesta sexta-feira (19), a audiência pública 'Vozes Trans e Travestis', convocada pela deputada Monica Seixas do Movimento Pretas (PSOL). O nome da audiência não é à toa. O evento serviu de espaço seguro para que pessoas trans e travestis, assim como familiares dessas pessoas, pudessem falar de seus anseios, angústias e demandas.

Mulheres e homens trans, entidades sociais que acolhem e apoiam a comunidade e parlamentares se reuniram para discutir ações que possam garantir uma vida digna a essa população, que, atualmente, vive com tanta dificuldade no Brasil. Entre os parlamentares, estiveram presentes Rose Soares (PSOL), codeputada estadual do Movimento Pretas; Carolina Iara (PSOL), codeputada estadual da Bancada Feminista; e Higor Andrade (PSOL), covereador na Câmara Municipal de Osasco pela mandata Ativoz.

Em busca de uma vida digna

Uma das mulheres trans que marcaram presença no evento foi Matuzza Sankofa. Matuzza é, mãe de uma criança de seis anos e presidente da Casa Chama, centro de acolhimento para pessoas transvestigêneres. Mas ela ressalta que sua história, antes disso, foi muito mais próxima do que é a realidade das pessoas trans no Brasil. "Eu fui expulsa de casa aos 13 anos, vivi na rua, vivi em serviços de acolhimento para pessoas em situação de rua. Vivi totalmente sem acolhimento do Estado. Essa vida que tive é a regra para pessoas trans no Brasil", afirmou.

Matuzza ainda relata que viver, neste país, sendo uma pessoa trans é encarar, diariamente, dados amedrontadores. "A expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos. A gente vive em um país onde 90% das mulheres trans e travestis iguais a mim têm como única oportunidade de trabalho a prostituição. Somos expulsas de casa, expulsas da escola, expulsas de todos os serviços públicos. A realidade é essa, de exclusão da sociedade, do convívio social e dos direitos de acesso a políticas públicas do país", relatou.

O vereador Higor Andrade, que mediou o evento, também ressaltou que a luta da comunidade trans é por direitos básicos, de dignidade e sobrevivência. "É óbvio que as outras lutas são importantes, mas enquanto existem outras lutas, as pessoas trans estão lutando pelo direito à vida", enfatizou.

Na Alesp

A codeputada Rose Soares, que representou o mandato de Monica Seixas, salientou a importância de serem realizados eventos como o da última sexta-feira, na Assembleia. Para ela, apenas com esse tipo de discussão será possível conseguir avanços nas políticas para esta comunidade.

"Por isso estamos aqui hoje. Reunimos pessoas da sociedade civil organizada, entidades, pessoas trans, mães de pessoas trans, porque a gente entende que, só assim, educando a população, para que entendam a condição dessas pessoas, para que entendam que ninguém escolheu isso, e então possam respeitar a existência dessas pessoas em todos os espaços", disse a coparlamentar.

Carolina Iara, mulher intersexo, travesti e codeputada estadual da Bancada Feminista, comentou as dificuldades que os parlamentares que defendem a pauta da comunidade LGBTQIA+ enfrentam e celebrou a instauração da Frente Parlamentar em defesa dos Direitos da População LGBTI+.

"Estamos com uma dificuldade muito grande de expansão de direitos da nossa comunidade LGBTQIA+. Apesar que estamos também em um fortalecimento de resistências.Até mesmo por conta dos ataques que recebemos, a gente está sendo obrigada a se unir", disse Carolina.

A codeputada, assim como outros diversos presentes, defendeu o funcionamento do Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual (Amtigos), do Hospital das Clínicas, que será alvo de CPI instalada na Alesp.