Dia Nacional do Café: como a pesquisa científica gera tecnologia no agro e desenvolvimento para SP
24/05/2025 09:45 | Progresso | Matheus Batista - Fotos: Rodrigo Romeo/IAC







No Brasil, mais de 800 milhões de xícaras de café são consumidas diariamente. Somos o segundo maior consumidor da bebida no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2024, por exemplo, os brasileiros consumiram 54,2 milhões de sacas, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).
Em 2025, o café, paixão nacional e parte da família, tem tomado o centro das atenções por dados não tão positivos, que revelam uma desaceleração na produção e no consumo.
No entanto, no estado de São Paulo, o grão responsável pelo aroma que desperta os brasileiros todas as manhãs é objeto de longas pesquisas - algumas com até 20 anos de duração - que buscam superar os fatores responsáveis pela estagnação de sua produção.
Pesquisadora chefe do Instituto Biológico de São Paulo, Harumi Hojo possui uma carreira de mais de 40 anos na ciência. Ela é responsável pelo Cafezal Urbano do instituto, a maior área de cultivo urbanizada do mundo. Os 10 mil metros quadrados de plantações do cafezal são, na verdade, um verdadeiro laboratório a céu aberto, com diferentes espécies de cafés, responsável por desenvolver tecnologia para a agricultura brasileira.
"O Instituto Biológico foi criado para resolver o problema da broca-do-café e, nesses estudos, chegaram a um método de controle biológico, usando uma vespa que veio de Uganda", conta Harumi. A broca-do-café é um inseto que se alimenta das sementes do cafeeiro - é uma praga encontrada em todas regiões produtoras do mundo.
Esse método de controle da broca-do-café foi desenvolvido no cafezal do Instituto e, à época, se tornou alternativa ao controle químico de pragas. "Esse controle biológico foi o que fundamentou nossa criação e nos sustentou", afirma a pesquisadora.
O Instituto Biológico foi criado a partir da Lei 2.243/1927, aprovada pela Assembleia Legislativa de São Paulo, que à época se chamava Congresso do Estado.
Sustentabilidade
O Cafezal Urbano, localizado na Zona Sul da cidade de São Paulo, é uma vasta área verde em meio aos prédios da maior metrópole da América Latina. O espaço conta com sete variedades diferentes de café, além de exemplares de plantas nativas, como pau-brasil e araucárias, que auxiliam na recuperação do solo.
A base da pesquisa de Harumi Hojo no cafezal é a cafeicultura regenerativa, que visa não só reduzir o impacto ambiental, mas também restaurar os ecossistemas.
"Nós contemplamos meio ambiente, saúde do trabalhador e técnicas de manejo orgânicas. Por muito tempo, tivemos resquícios de adubação química [no cafezal], mas neste trajeto fizemos a transição buscando metodologias orgânicas, com a melhoria do solo e com agroecologia", destaca Harumi.
Entre os testes realizados pela equipe de pesquisadores, está o cultivo de mudas que possam suportar diferentes condições climáticas. Uma das variedades de café colhidas este ano no cafezal floresceu sem irrigação feita por pessoas, recebendo apenas água e nutrientes da natureza.
"Temos essa preocupação de não aumentar a alternativa de irrigação porque, com o nosso problema com as mudanças climáticas, também precisamos pensar no manejo de água. Priorizando o solo, quem sabe a gente consiga fazer ele reter mais água", diz a pesquisadora. "E já temos bons indicadores, mas precisamos ver isso multiplicado ao longo dos anos. Essa é a nossa contribuição com a sustentabilidade do ecossistema", completa.
A genética no campo
Boa parte das culturas de café cultivadas no cafezal do Instituto Biológico vieram do Interior do estado, mais precisamente do Instituto Agronômico Campinas (IAC). Outra instituição pública importantíssima para São Paulo, o IAC trabalha a genética e o melhoramento cafeeiro desde 1932.
Pesquisador do IAC desde 1982, o engenheiro agrônomo e especialista em genética Oliveiro Guerreiro trabalha desenvolvendo o melhoramento de culturas de café que são cultivadas em todo o país e até mesmo no exterior.
"Hoje, cerca de 85% das variedades de café arábica plantadas no Brasil foram derivadas do nosso programa do Instituto Agronômico", destaca Guerreiro.
O melhoramento de plantas pode ser traduzido como o desenvolvimento de variedades por meio de cruzamentos genéticos - que são chamadas tecnicamente de cultivares-, que atendam às demandas da cadeia produtiva. "Quando esse programa surgiu, o que se cultivava no Brasil era o café que foi introduzido na época do Império. A principal meta do programa era fazer variedades que fossem melhores do que as que estavam sendo plantadas", explica o cientista.
Guerreiro conta que, no início, o que se buscava com o melhoramento eram variedades produtivas que possibilitassem maior retorno financeiro. O trabalho do Instituto Agronômico na primeira metade do século XX foi crucial para o desenvolvimento do estado de São Paulo como expoente da produção cafeeira.
Hoje, a pesquisa científica se volta para a construção de variedades que permitam eficiência no cultivo, como os pés do café Catuaí, amplamente cultivado no Brasil e famoso por ser compacto e de corte mais baixo que as demais. A pesquisa busca também a criação de plantas resistentes a doenças e grãos de alta qualidade.
Crise na produção
Pesquisas divulgadas em 2025 projetam uma ligeira redução na produção de café brasileira para este ano. Além disso, um último levantamento da Abic mostrou redução no consumo da bebida no país. Esses dados são alguns dos desdobramentos de um desafio que a produção cafeeira enfrenta em todo o mundo: as mudanças climáticas.
"O Brasil, por 20 anos, vinha em uma crescente na produção. As variedades estavam produzindo sem aumentar a área de plantio. Após a safra de 2020, tivemos um período de seca muito longo nas áreas de café arábica e, desde então, ela vem afetando a produtividade do café", explica a jornalista especializada em café, Virgínia Alves. E não é apenas a seca, geadas e temperaturas muito baixas, enfrentadas por muitos estados produtores, também afetam o café.
Com a produtividade prejudicada, os preços tendem a subir cada vez mais. "O café é uma commodity, portanto ele é negociado em Bolsa. O Brasil é o maior exportador desse mercado, mas temos outras origens que importam muito, como Vietnã e Colômbia, que também sofreram muito com a seca e com excesso de chuva. É a falta de café no mercado que justifica essa valorização na Bolsa e, consequentemente, no mercado interno e o café mais caro no mundo todo", explica Virgínia.
Continuidade
Oliveiro Guerreiro do IAC destaca que a introdução de novas variedades de cafés mais produtivas na agricultura pode levar até 20 anos, desde o desenvolvimento da semente ao seu crescimento no campo.
"O café é uma planta do grupo perene, com ciclo longo, como outras espécies frutíferas que podem ficar no campo até 30 anos para se conseguir uma variedade", explica o pesquisador. "É por isso que é muito importante a continuidade desses programas de melhoramento. Se não existe continuidade, não há resultados como os que o IAC alcançou ao longo desses quase 100 anos e que têm impacto no Brasil todo", alerta.
"Estamos constantemente alcançando resultados e novas tecnologias que atendem à cadeia produtiva. Continuidade é investir em reposição de pessoas, manutenção de equipes e divulgação do conhecimento", diz Guerreiro.
São Paulo
O estado de São Paulo já foi o maior produtor de café do Brasil, principalmente no início do século XX, quando institutos como o IAC e o Biológico foram fundados. A economia cafeeira foi crucial para o desenvolvimento regional e impulsionou a industrialização e o crescimento econômico do estado.
Hoje, com uma economia diversificada, São Paulo não é mais o maior produtor do Brasil, no entanto, segue como um dos principais agentes da cadeia do café no país, com empresas de café solúvel, indústrias que produzem o grão torrado e moído e os portos que escorrem toda essa produção.
"São Paulo hoje é responsável por cerca de 10% da produção de café do país, que é muito mais do que muitos países produtores que concorrem com o Brasil produzem. Se fosse um país, São Paulo seria um dos maiores produtores do mundo", afirma o pesquisador Oliveiro Guerreiro. "São Paulo perdeu protagonismo na produção de café, mas hoje concentra o global da cadeia produtiva", reforça.
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